Será que os dilemas morais proporcionam uma maneira de escolher
teorias morais rivais?
Os
dilemas morais parecem oferecer uma maneira de testar duas das teorias morais
mais importantes: o utilitarismo e o absolutismo moral. Quando falo de
«absolutistas morais» refiro-me àqueles que defendem que há pelo menos uma
regra moral simples e que não admite excepções, como «é sempre errado matar
pessoas inocentes/quebrar promessas/dizer mentiras, etc.»
Os utilitaristas
rejeitam regras como estas, defendendo que podem haver circunstâncias em que
infringir a regra é a única maneira de minimizar as más consequências, isto é,
de evitar um mal maior. Numa forma de dilema muito discutida, um agente moral,
A, encontra-se numa situação em que, se matar uma de vinte pessoas inocentes
que estão prestes a ser executadas, fará com que as restantes dezanove sejam
libertadas. Por outro lado, se A se recusar fazer isso, o seu captor matará
todas as vintes pessoas. (…)
Tanto os
utilitaristas como os absolutistas morais parecem ficar satisfeitos quando
discutem este dilema e defendem que o tratamento que lhes dão é mais
convincente do que o dos seus oponentes. Para o utilitarista, a discussão
proporciona uma oportunidade para mostrar que, mesmo em situações de dilema, o
raciocínio moral permanece possível. Pode-se considerar as consequências: não é
seguramente melhor que morra um em vez de vinte? Deste modo, defende o utilitarista,
por muito difíceis que sejam as circunstâncias podemos chegar a uma resposta
ponderada considerando os factos. Por outro lado, segundo o absolutista os
dilemas ilustram a natureza simplista do utilitarismo. Certamente os agentes
morais sérios agonizam perante uma situação tão trágica como a que o dilema de
Williams envolve. No entanto, se acreditarmos no utilitarista, tudo o que estes
precisam de fazer é contar cabeças. Não há qualquer razão para agonizar. O
absolutista conclui que o utilitarismo não é uma teoria moral para agentes
morais sérios, pois não pode acomodar valores morais cruciais, como a justiça e
a integridade.
Assim, é
fácil ver por que razão a discussão do dilema é atraente tanto para os
absolutistas como para os utilitaristas. Ela permite que o absolutista nos faça
perceber a complexidade da ética e conclua que é inútil procurar um princípio
moral fundamental que permita resolver todos os dilemas morais. O utilitarista,
pelo contrário, espera que a superioridade racional do utilitarismo se torne
manifesta na discussão. Como pode a morte de vinte ser melhor do que a morte de
um? Qual é o interesse de aderirmos a proibições absolutas se, ao fazermos
isso, produzimos um resultado pior do que aquele que seria necessário? A
«profundidade» do absolutismo não será, afinal, confusão e irracionalidade?
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Gerry Wallace, Tradução de Pedro Galvão
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