Magritte, A Condição Humana
Muitos filósofos defendem que
se Deus não existe, a vida humana é um absurdo. Segundo eles, a condição humana
conteria assim uma desarmonia fundamental e imutável. Albert Camus
concentrou-se sobre o conflito entre a nossa exigência de que o mundo seja
razoável, ordeiro e atento a nós e a realidade do mundo, isto é, o facto de o
mundo ser mudo, inexpressivo e indiferente. Thomas Nagel acentua a discrepância
entre a insignificância objetiva das nossas vidas e dos nossos projectos e a
seriedade e a energia que lhes dedicamos. Como devemos então reagir?
Uma vez
que o reconhecimento da indiferença do universo pode ser uma experiência
aniquiladora, a ideia do suicídio emerge naturalmente. Se todos os nossos
objetivos forem baseados no pressuposto de que a nossa existência ou as nossas
ações dizem respeito a uma entidade ou processo mais abrangentes e menos
necessitados de validação do que nós próprios, então a descoberta da
inexistência de uma tal entidade deixa-nos sem qualquer direção a seguir. E se
além disso pensarmos que qualquer direção que tomarmos reintroduzirá
necessariamente o pressuposto que agora sabemos ser falso, então nessa altura
poderá parecer-nos que a única opção que evita a contradição é o suicídio. No
entanto, Camus (1955) pensava que há um modo de vida que não é contraditório.
Descreveu o «homem absurdo» como aquele que vive «sem apelo», desafiando a
indiferença que o mundo lhe oferece. Uma pessoa assim abraça a vida o mais
plenamente possível, mas sem nunca esquecer ou negar a ausência de algum
fundamento racional para a mesma.
Nagel
dá-nos uma resposta mais suave (1971): o reconhecimento da nossa
insignificância é uma função da capacidade distintamente humana de adoptarmos
uma perspectiva externa sobre nós próprios; como tal, não há qualquer razão
para tentar negá-la ou para dela fugir. Ao mesmo tempo, se as nossas vidas são
cosmicamente insignificantes, também o é a maneira como respondemos a este
facto. À luz deste argumento, sugere Nagel, a atitude de desafio parece
excessivamente exagerada e dramática, sendo a ironia mais apropriada.
Richard
Taylor (1970) retira uma moral diferente do silêncio do universo: o
reconhecimento de que a vida seria, por assim dizer, objectivamente desprovida
de sentido, deveria convencer-nos a deslocar a nossa procura de sentido para o
interior. O tipo de sentido da vida que importa ter em consideração é um
sentido para nós. A vida tem sentido se pudermos ocupar-nos de actividades que
achamos serem significativas; de outro modo, não.
Todos
estes filósofos partilham a ideia de que se não há nada mais vasto e mais
intrinsecamente válido do que nós próprios, algo a que nos possamos ligar de
uma forma positiva, então a vida não tem sentido pelo menos numa acepção
importante. Nisto concordam com quem tem uma ideia positiva do sentido da vida
baseada na existência de um Deus benevolente. Uma vez que também acreditam que
a condição para o sentido não pode ser encontrada, e que ainda assim devemos
viver como se a vida tivesse sentido, concluem que a vida humana é absurda. No
entanto, e tal como Joel Feinberg (1992) assinala, há uma diferença entre uma
situação absurda e uma pessoa absurda. Ao tomarmos uma atitude face ao nosso
dilema, quer desafiante quer irónica, ou uma qualquer terceira alternativa,
pelo menos podemos livrar-nos de ser ridículos.
Porém,
em termos racionais, não é claro que tenhamos que fazer até esta concessão
relativamente não pessimista ao pensamento de que a vida humana é absurda. Tal
como vimos, esta concepção assenta na ideia de que há um conflito inelutável
entre o que exigimos ou que inevitavelmente pressupomos acerca do nosso lugar
no universo e a realidade da nossa situação. Todavia, a tendência para desejar
ou insistir na nossa importância cósmica pode ser menos profunda e inevitável
do que estes filósofos pensam. Enfrentar as dificuldades da vida e tentar
realizar projectos com energia e dedicação são práticas que não precisam de ser
baseadas numa megalomania. Não é pelo menos óbvio que quando o atleta olímpico
se esforça até ao limite na tentativa de atingir um recorde mundial, ou quando
uma mãe põe de lado o seu sono e o seu conforto para alimentar a sua criança, o
façam com base na crença de que estes feitos terão um significado cósmico.
(...)
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Susan Wolf, "O Sentido da Vida", in Crítica, http://criticanarede.com/met_sentidodavida.html
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