Magritte
Se Deus não existe, o que acontece à ética? Esta tem sido uma das grandes questões da filosofia desde o século XVII. No período moderno, tem havido um certo consenso quanto à ideia de que podemos entender a ética como um fenómeno humano – como o resultado de necessidades, interesses e desejos humanos – nada mais.
(...)
Hobbes supôs que
«bom» e «mau» são nomes que damos às coisas de que gostamos ou que de que não
gostamos. Assim, quando duas pessoas gostam de coisas diferentes, podem
considerar boas e más coisas diferentes. No entanto, disse Hobbes, somos todos
muito semelhantes na nossa constituição psicológica fundamental. Somos essencialmente
criaturas motivadas pelo interesse pessoal que querem viver – e que querem
viver tão bem quanto possível. Esta é a chave para compreender a ética. A ética
surge quando as pessoas compreendem o que
têm de fazer para viver bem.
Hobbes sublinha que
cada um de nós vive muitíssimo melhor numa sociedade em que haja cooperação
mútua do que numa sociedade em que cada um tente vingar sozinho. (…) a
cooperação social torna possíveis as escolas, os hospitais e as estradas; as casas
com electricidade e aquecimento central (…)
No entanto, numa
sociedade em que haja cooperação mútua só pode existir se adotarmos certas
regras de comportamento – regras que obrigam a dizer a verdade, a cumprir as
promessas, a respeitar a vida e a propriedade dos outros e por assim em diante
(…)
Deste modo, para
obter os benefícios da vida em sociedade, temos de fazer um acordo com os
outros: cada um concorda obedecer a estas regras na condição de os outros
também o fazerem. Este «contrato social» é o fundamento da moralidade. Podemos
entender assim a moralidade como o
conjunto de regras a que as pessoas racionais concordarão obedecer, para seu
benefício mútuo, na condição das outras pessoas também lhe obedecerem.
J. Rachels, Problemas da Filosofia
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