(...) A ideia de
uma distinção entre uma vida com sentido e uma vida sem sentido não é
equivalente à diferença mais óbvia e incontroversa entre uma vida que é
subjetivamente satisfatória ou enriquecedora e outra que não o é. Quando
perguntamos se as nossas vidas têm sentido não estamos a fazer algo totalmente
introspetivo, e quando procuramos uma forma de dar sentido às nossas vidas,
não estamos à procura do comprimido da felicidade.
A vida de Sísifo,
perpetuamente condenado a carregar um pedregulho por um monte acima que depois
caía outra vez, tem sido caracterizada, pelo menos desde os escritos de Camus,
como um paradigma da ausência de sentido. Se imaginarmos que Sísifo encontrava
uma perversa satisfação nesta actividade repetitiva e inútil, então não é claro
se pensamos que nesse caso a sua vida tem mais sentido, ou se pelo contrário é
mais miserável.
Todavia,
as explicações sobre o sentido da vida não têm de ser reduzidas a alternativas
puramente subjectivas e puramente objectivas. Os paradigmas mais naturais de
vidas com sentido são tanto subjectivamente bastante enriquecedores como dignos
de admiração e válidos se julgados de pontos de vista externos aos próprios
agentes. O tipo de vida que é mais confortavelmente descrita como tendo sentido
parece ser uma vida em que há uma ligação feliz entre os interesses reais de
uma pessoa e o conjunto de coisas que são dignas de interesse. O sentido parece
emergir quando a atracção subjectiva se interliga ao que é objectivamente
atraente.
Se este
tipo de existência de sentido está relacionada com a preocupação que mais
naturalmente parece requerer uma ligação a algum desígnio divino ou cósmico, e
como, são questões de difícil determinação. Além disso, a noção de algo
«objectivamente atraente» (ou de valia ou valor objectivo), à qual esta
concepção de existência de sentido faz referência, é notoriamente controversa.
Se, no limite, esta noção é inteligível, particularmente na ausência de uma
metafísica religiosa, é algo que constitui em si uma importante questão
filosófica. No entanto, não é surpreendente que a questão do sentido da vida
derive para outras questões filosóficas importantes e a elas se ligue. Trata-se
afinal de um dos tópicos mais profundos e fundamentais de toda a filosofia.
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Susan Wolf, "O Sentido da Vida", in Crítica, http://criticanarede.com/met_sentidodavida.html
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