O Problema da Responsabilidade Ecológica -AQUI
Jonas e a Ética da Responsabilidade - AQUI
A Natureza como
responsabilidade do Homem é certamente uma novidade sobre a qual a teoria ética
deve meditar. Que tipo de obrigação é decente ter para com ela? Trata-se
simplesmente de prudência a aconselhar-nos que não matemos a galinha dos ovos
de oiro ou que não serremos o ramo sobre a qual estamos sentados? Mas este
“nós”, que lá está sentado e se arrisca a cair do abismo, quem é? E qual o meu
interesse em que se mantenha lá ou caia?
Na medida em que é o
destino do Homem na sua dependência relativamente ao estado da Natureza que
constitui a última palavra de um interesse moral pela preservação da Natureza,
a orientação antropocêntrica de toda a ética clássica continua a existir […].
Mas a nova forma de actuar do Homem não poderia significar que não é somente o
‘interesse’ do Homem que é preciso ter em conta, que o nosso dever se prolonga
para lá disso e que o confinamento antropocêntrico de todas as éticas
anteriores já não é válido? Pelo menos, não é absurdo perguntar se o estado da
natureza não humana, a biosfera como totalidade e com as suas partes, doravante
submetida ao nosso poder, está confiada à nossa guarda e nos faz um apelo
ético, não somente por causa do nosso interesse futuro, mas por si e de direito
próprio. Se assim fosse, isso exigiria uma remodelação profunda da nossa
concepção dos fundamentos da ética.
Porque significaria
que se tem de procurar, não somente o bem do homem, como o bem das coisas
extra-humanas, e de se ampliar o reconhecimento de ‘fins em si’ para além da
esfera humana, incluindo a preocupação com esta noção do bem do homem […]. A
perspectiva científica dominante acerca da Natureza recusa-nos em absoluto o
direito teórico de considerar a Natureza como uma coisa digna de respeito,
tendo-a reduzido à indiferença do acaso e da necessidade e tendo-a desagregado
de qualquer finalidade que seja valorizada. […]
Mesmo que a
obrigação a respeito do homem continue ainda a ter um valor absoluto, ela não
deixa agora de incluir a natureza como condição da sua própria sobrevivência e
como um dos elementos da sua integralidade existencial. Agora vamos mais longe
e dizemos que a solidariedade de destino entre o homem e a natureza,
solidariedade redescoberta através do perigo, nos faz igualmente redescobrir a
dignidade autónoma da natureza e nos exige o respeito pela sua integridade,
ultrapassando a perspectiva meramente utilitária.
Um imperativo
apropriado à nova maneira de agir humana e do sujeito desse agir poderia
enunciar-se assim: ‘Age de tal forma que as consequências da tua acção sejam
compatíveis com a permanência de uma vida autenticamente humana na Terra’; se
fosse dito na negativa, teríamos: ‘Age de tal maneira que as consequências da
tua acção não sejam destruidoras para a possibilidade futura de uma tal vida’;
ou ainda, simplesmente: ‘Não ponhas em perigo as condições de uma perpetuação
indefinida da humanidade na Terra’; ou de novo expresso na positiva; ‘Inclui
nas tuas escolhas actuais a integridade futura da humanidade como objecto da
tua vontade.»
H. Jonas, citado por
Gilbert Hottois, O Paradigma Bioético (adaptado, Filosofia: 11.º ano,
Lisboa, Plátano Editora)
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