(…) William Graham Sumner resume a essência
do relativismo cultural. Sumner afirma que não há uma medida do certo e do
errado, além dos padrões de uma dada sociedade: “A noção de certo está nos
hábitos da população. Não reside além deles, não provém de origem independente,
para os por à prova. O que estiver nos hábitos populares, seja o que for, está
certo". Suponha-se que tomávamos isto a sério. Quais seriam algumas das
consequências?
1. Deixaríamos de poder afirmar que os costumes de outras sociedades são
moralmente inferiores aos nossos. Isto, é claro, é um dos principais aspetos
sublinhados pelo relativismo cultural. Teríamos de deixar de condenar outras
sociedades simplesmente por serem "diferentes": Enquanto nos
concentrarmos apenas em certos exemplos, como as práticas funerárias dos gregos
e calatinos isto pode parecer uma atitude sofisticada e esclarecida.
No entanto seríamos também impedidos de criticar outras práticas menos
benignas. Suponha-se que uma sociedade declarava guerra aos seus vizinhos com o
intuito de os fazer escravos. Ou suponha que uma sociedade era violentamente má
anti-semita e os seus líderes se propunham destruir os judeus. O relativismo
cultural iria impedir-nos de dizer que qualquer destas práticas estava errada.
(Nem sequer poderíamos dizer que uma sociedade tolerante em relação aos judeus
é melhor que uma sociedade anti – semita, por isso implicaria um tipo qualquer
de padrão transcultural de comparação.) A incapacidade de condenar estas
práticas não parece muito esclarecida; pelo contrário, e escravatura e a anti –
semitismo afiguram-se erradas onde quer que ocorram. No entanto, se tomássemos
a sério o relativismo cultural teríamos de encarar estas práticas sociais como
algo imune à crítica.
2. Poderíamos decidir se as ações são certas ou erradas pela simples consulta
dos padrões da nossa sociedade. O relativismo cultural propõe uma maneira
simples para determinar o que está certo ou errado: tudo aquilo que de que necessitamos
é perguntar se a ação está de acordo com os códigos da nossa sociedade.
Suponhamos que em 1975 um residente da África do Sul se perguntava se a
política de apartheid do seu país – um sistema rigidamente racista – era
moralmente correta. Tudo o que teria que fazer era perguntar se esta política
se conformava com o código moral da sua sociedade. Em caso de resposta
afirmativa, não haveria motivos de preocupação pelo menos de um ponto de vista
moral.
Esta implicação do relativismo cultural é
perturbadora porque poucos de nós pensam que o código moral da nossa sociedade
é perfeito – não é difícil pensar em várias maneiras de as aperfeiçoar. No
entanto, o relativismo cultural não se limita a impedir-nos de criticar os
códigos das outras sociedades; não nos permite igualmente criticar a nossa.
Afinal de contas, se certo e errado são relativos à cultura, isto tem de ser
verdade tanto relativamente à nossa própria cultura como relativamente às
outras.
J. Rachels, Elementos de Filosofia
Moral
Explique as consequências morais do relativismo cultural.
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