Ana Subjetivista
Chamo-me Ana
Subjetivista; mas, dado a minha colega também se chamar "Ana",
habitualmente tratam-me por "Sub". Adotei o subjetivismo ao
compreender que a moral é profundamente emocional e pessoal.
O ano passado
frequentei com alguns amigos um curso de antropologia. Acabámos por aceitar o
relativismo cultural – a perspetiva de que o bem e o mal são relativos a cada
cultura, que "bem" significa "socialmente aprovado". Mais
tarde, descobri que o relativismo cultural enfrenta um problema, nomeadamente o
de nos negar a liberdade para formarmos os nossos próprios juízos morais.
Sucede que a liberdade moral é algo a que atribuo muita importância.
O relativismo
cultural obriga-me a aceitar todos os valores da sociedade. Admitamos que
descobri que a maior parte das pessoas aprova ações racistas; terei então de
concluir que o racismo é um bem. Estaria a contradizer-me se dissesse "O
racismo é socialmente aprovado embora não seja um bem". Como o relativismo
cultural impõe as respostas do exterior, negando a liberdade de pensamento em
questões morais, passei a considerá-lo repulsivo.
Quando afirmo
"Isto é um bem" refiro-me ao que eu própria sinto – é apenas uma
maneira de dizer "Gosto disto". Os meus juízos de valor são acerca do
que eu sinto e não acerca do que a sociedade sente. Os meus juízos de valor
descrevem as minhas emoções.
Considero a
liberdade moral uma parte do processo de crescimento. O que se espera das
crianças é que repitam mecanicamente os valores que lhes foram ensinados; no
entanto, um adulto que proceda deste modo revela que o seu processo de
desenvolvimento não foi o adequado. O que se espera dos adultos é que pensem
pela sua cabeça e que formem os seus próprios valores. O relativismo cultural não
permite fazê-lo. Pelo contrário, tornamo-nos conformistas.
Deixem-me dar-vos um
exemplo de como funciona o subjetivismo. A minha família ensinou-me a respeitar
escrupulosamente a proibição de consumir bebidas alcoólicas. Na minha família
beber estava "socialmente proibido". No entanto, os meus colegas de
escola acham interessante beber em grandes quantidades. Neste grupo, beber é um
"requisito social". O relativismo cultural afirma que devo fazer
aquilo que a sociedade defende – mas que sociedade? Será que devo proceder de
acordo com a minha família ou seguir o meu grupo de amigos?
O subjetivismo
diz-me para seguir o que sinto. Assim, comecei a refletir no conflito entre
estas diferentes normas e nas razões que lhes subjazem. A minha família
desejava prevenir-me contra os perigos do excesso de bebida, enquanto os meus
amigos usavam a bebida para promover o divertimento e a sociabilidade. Eu tenho
um sentimento positivo acerca de cada um destes objetivos e pensei na melhor
maneira de promover ambos. Após alguma reflexão, os meus sentimentos
tornaram-se claros. Diziam-me para beber moderadamente.
Beber demais pode
ser "fixe" (socialmente aprovado) mas conduz com frequência a
agressões, ressacas, alcoolismo, gravidezes indesejadas e também à morte em
acidentes de viação. Nenhuma destas consequências me agrada – por isso, sou
emocionalmente contra beber demais. Eis por que razão beber demais é um mal.
Muitos dos meus amigos bebem em excesso dado tratar-se de um comportamento
socialmente aprovado. Isto fá-los agir como crianças. Adotaram cegamente os
valores do grupo em vez de pensarem por si próprios.
Deixem-me
explicar-vos alguns aspetos mais sobre o subjetivismo. Afirmei que "X é
bom" significa "Gosto de X". Alguns subjetivistas
preferem usar diferentes termos para expressar emoção – por exemplo,
"sinto aprovação por", "tenho um sentimento positivo acerca
de" ou "desejo". Contudo, não irei preocupar-me em saber qual
dos termos é mais adequado.
A verdade do
subjetivismo torna-se óbvia se considerarmos a maneira habitual de falar. É
frequente dizermos coisas do género "Gosto disto – é bom." Estas
expressões têm o mesmo significado. Acontece também perguntarmos "Gostas?
– Parece-te bem?" Em ambos os casos estamos a formular uma única pergunta,
embora utilizemos diferentes palavras.
A objeção colocada
pela minha companheira de quarto é que podemos dizer que gostamos de coisas que
não são boas. Por exemplo, "Gosto de fumar, embora fazê-lo não seja
bom." Mas neste caso passamos da avaliação da satisfação imediata para
a avaliação das consequências. As coisas seriam claras se
disséssemos "Gosto da satisfação imediata que fumar provoca (a satisfação
imediata é um bem); não gosto das consequências (as consequências não são
boas)."
O subjetivismo
sustenta que as verdades morais são relativas ao indivíduo. Se eu gosto de X e
você não, então "X é um bem" é verdade para mim mas falso para si.
Usamos a palavra "bem" para falar dos nossos sentimentos positivos.
Nada é um bem ou um mal em si mesmo, independentemente dos nossos sentimentos.
Os valores apenas existem como preferências de pessoas individuais. Você tem as
suas preferências e eu as minhas; nenhuma preferência é objetivamente correta
ou incorreta. Esta ideia tornou-me mais tolerante a respeito das pessoas com
sentimentos diferentes e, portanto, com diferentes crenças morais.
A minha colega
defende que os juízos morais traduzem afirmações objetivas acerca do que em si
mesmo é verdadeiro, independentemente dos nossos sentimentos, e que o
subjetivismo não tem este facto em consideração. Mas a objetividade é uma
ilusão que resulta de objetivarmos as nossas reações subjetivas. Rimo-nos de
uma piada e afirmamos que a piada é "engraçada" – como se ser
engraçado fosse uma propriedade objetiva das coisas. Quando gostamos de uma
coisa dizemos que é "boa" – como se ser boa fosse objetivo. Nós, os
subjetivistas, não nos deixamos enganar por este tipo de ilusões gramaticais.
Na prática, todos
seguimos o que sentimos em questões morais. Contudo, apenas os subjetivistas
são suficientemente honestos para o admitir e pôr de lado o apelo a uma
pretensa objetividade.
Harry Gensler, Ethics: A contemporary introduction
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