terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Subjetivismo axiológico


Ana Subjetivista

Chamo-me Ana Subjetivista; mas, dado a minha colega também se chamar "Ana", habitualmente tratam-me por "Sub". Adotei o subjetivismo ao compreender que a moral é profundamente emocional e pessoal.
O ano passado frequentei com alguns amigos um curso de antropologia. Acabámos por aceitar o relativismo cultural – a perspetiva de que o bem e o mal são relativos a cada cultura, que "bem" significa "socialmente aprovado". Mais tarde, descobri que o relativismo cultural enfrenta um problema, nomeadamente o de nos negar a liberdade para formarmos os nossos próprios juízos morais. Sucede que a liberdade moral é algo a que atribuo muita importância.

O relativismo cultural obriga-me a aceitar todos os valores da sociedade. Admitamos que descobri que a maior parte das pessoas aprova ações racistas; terei então de concluir que o racismo é um bem. Estaria a contradizer-me se dissesse "O racismo é socialmente aprovado embora não seja um bem". Como o relativismo cultural impõe as respostas do exterior, negando a liberdade de pensamento em questões morais, passei a considerá-lo repulsivo.
 Crescer obriga-nos a questionar os valores que herdámos. E é claro que recebemos os nossos valores da sociedade, pelo menos inicialmente. Quando somos crianças, esses valores são-nos fornecidos principalmente pelos nossos pais e grupos de amigos. Depois tornamo-nos adultos. À medida que crescemos, questionamos os valores que aprendemos. Podemos aceitá-los ou rejeitá-los em bloco ou aceitá-los ou rejeitá-los parcialmente. A escolha é nossa.
Quando afirmo "Isto é um bem" refiro-me ao que eu própria sinto – é apenas uma maneira de dizer "Gosto disto". Os meus juízos de valor são acerca do que eu sinto e não acerca do que a sociedade sente. Os meus juízos de valor descrevem as minhas emoções.
Considero a liberdade moral uma parte do processo de crescimento. O que se espera das crianças é que repitam mecanicamente os valores que lhes foram ensinados; no entanto, um adulto que proceda deste modo revela que o seu processo de desenvolvimento não foi o adequado. O que se espera dos adultos é que pensem pela sua cabeça e que formem os seus próprios valores. O relativismo cultural não permite fazê-lo. Pelo contrário, tornamo-nos conformistas.
Deixem-me dar-vos um exemplo de como funciona o subjetivismo. A minha família ensinou-me a respeitar escrupulosamente a proibição de consumir bebidas alcoólicas. Na minha família beber estava "socialmente proibido". No entanto, os meus colegas de escola acham interessante beber em grandes quantidades. Neste grupo, beber é um "requisito social". O relativismo cultural afirma que devo fazer aquilo que a sociedade defende – mas que sociedade? Será que devo proceder de acordo com a minha família ou seguir o meu grupo de amigos?
O subjetivismo diz-me para seguir o que sinto. Assim, comecei a refletir no conflito entre estas diferentes normas e nas razões que lhes subjazem. A minha família desejava prevenir-me contra os perigos do excesso de bebida, enquanto os meus amigos usavam a bebida para promover o divertimento e a sociabilidade. Eu tenho um sentimento positivo acerca de cada um destes objetivos e pensei na melhor maneira de promover ambos. Após alguma reflexão, os meus sentimentos tornaram-se claros. Diziam-me para beber moderadamente.
Beber demais pode ser "fixe" (socialmente aprovado) mas conduz com frequência a agressões, ressacas, alcoolismo, gravidezes indesejadas e também à morte em acidentes de viação. Nenhuma destas consequências me agrada – por isso, sou emocionalmente contra beber demais. Eis por que razão beber demais é um mal. Muitos dos meus amigos bebem em excesso dado tratar-se de um comportamento socialmente aprovado. Isto fá-los agir como crianças. Adotaram cegamente os valores do grupo em vez de pensarem por si próprios.
Deixem-me explicar-vos alguns aspetos mais sobre o subjetivismo. Afirmei que "X é bom" significa "Gosto de X". Alguns subjetivistas preferem usar diferentes termos para expressar emoção – por exemplo, "sinto aprovação por", "tenho um sentimento positivo acerca de" ou "desejo". Contudo, não irei preocupar-me em saber qual dos termos é mais adequado.
A verdade do subjetivismo torna-se óbvia se considerarmos a maneira habitual de falar. É frequente dizermos coisas do género "Gosto disto – é bom." Estas expressões têm o mesmo significado. Acontece também perguntarmos "Gostas? – Parece-te bem?" Em ambos os casos estamos a formular uma única pergunta, embora utilizemos diferentes palavras.
A objeção colocada pela minha companheira de quarto é que podemos dizer que gostamos de coisas que não são boas. Por exemplo, "Gosto de fumar, embora fazê-lo não seja bom." Mas neste caso passamos da avaliação da satisfação imediata para a avaliação das consequências. As coisas seriam claras se disséssemos "Gosto da satisfação imediata que fumar provoca (a satisfação imediata é um bem); não gosto das consequências (as consequências não são boas)."
O subjetivismo sustenta que as verdades morais são relativas ao indivíduo. Se eu gosto de X e você não, então "X é um bem" é verdade para mim mas falso para si. Usamos a palavra "bem" para falar dos nossos sentimentos positivos. Nada é um bem ou um mal em si mesmo, independentemente dos nossos sentimentos. Os valores apenas existem como preferências de pessoas individuais. Você tem as suas preferências e eu as minhas; nenhuma preferência é objetivamente correta ou incorreta. Esta ideia tornou-me mais tolerante a respeito das pessoas com sentimentos diferentes e, portanto, com diferentes crenças morais.
A minha colega defende que os juízos morais traduzem afirmações objetivas acerca do que em si mesmo é verdadeiro, independentemente dos nossos sentimentos, e que o subjetivismo não tem este facto em consideração. Mas a objetividade é uma ilusão que resulta de objetivarmos as nossas reações subjetivas. Rimo-nos de uma piada e afirmamos que a piada é "engraçada" – como se ser engraçado fosse uma propriedade objetiva das coisas. Quando gostamos de uma coisa dizemos que é "boa" – como se ser boa fosse objetivo. Nós, os subjetivistas, não nos deixamos enganar por este tipo de ilusões gramaticais.

Na prática, todos seguimos o que sentimos em questões morais. Contudo, apenas os subjetivistas são suficientemente honestos para o admitir e pôr de lado o apelo a uma pretensa objetividade.

Harry Gensler Ethics: A contemporary introduction

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