A perspetiva
objetivista (também designada realismo moral) defende que certas coisas são
objetivamente um bem ou objetivamente um mal, independentemente do que
possamos sentir ou pensar. Martin Luther King, por exemplo, defendia que o
racismo está objetivamente errado. Que o racismo esteja errado era para ele um
facto. Qualquer pessoa e cultura que aprovasse o racismo estariam erradas. Ao
dizer isto, King não estava a absolutizar as normas da nossa sociedade;
discordava, pelo contrário, das normas amplamente aceites. Fazia apelo a uma
verdade mais elevada acerca do bem e do mal, uma verdade que não estava
dependente do modo de pensar ou sentir das pessoas neste ou naquele momento.
Fazia apelo a valores objetivos.
Ana rejeita a crença
em valores objetivos e chama-lhe "o mito da objetividade". Nesta
perspetiva, as coisas são um bem ou um mal apenas relativamente a esta ou
àquela cultura. Não são objetivamente boas ou más, como King pensava. Mas
serão os valores objetivos realmente um "mito"? Para responder a
isto convém examinar o raciocínio de Ana.
Ana tinha três
argumentos contra a objetividade dos valores. Não existem verdades morais
objetivas porque:
·
A moral é um produto da cultura;
·
As sociedades discordam amplamente acerca da
moralidade;
·
Não existe uma maneira clara de resolver
diferenças morais.
De facto, qualquer
destes argumentos cede com facilidade se o examinarmos cuidadosamente.
1.
"Dado que a moral é um produto da cultura,
não podem existir verdades morais objetivas". O problema deste raciocínio
é que um produto da cultura pode expressar uma verdade objetiva. Qualquer
livro é um produto cultural; no entanto, muitos livros exprimem verdades
objetivas. Da mesma forma, um código moral pode ser um produto cultural e
expressar verdades objetivas acerca da maneira como as pessoas devem viver.
2.
"Visto as diferentes culturas discordarem
amplamente sobre a moral, não podem existir verdades morais objetivas." O
simples facto de existir desacordo não mostra, no entanto, que não existe
verdade neste domínio e que nenhum dos lados está certo ou errado. O extenso
desacordo entre diferentes culturas acerca de antropologia, religião, e até em
física, não impede a existência de verdades objetivas nestes domínios. Logo, o
desacordo em questões morais não mostra que não exista verdade nestes assuntos.
Podemos igualmente questionar-nos se as diferentes culturas divergem assim tão
profundamente sobre a moral. Na maior parte das culturas existem normas muito
semelhantes quanto a matar, roubar e mentir. E muitas das diferenças podem ser
explicadas em resultado da aplicação dos mesmos valores básicos a diferentes
situações. A Regra de Ouro "Trata os outros como queres ser tratado"
é quase universalmente aceite em todo o mundo. E as diferentes culturas que
constituem as Nações Unidas concordaram em larga medida a respeito dos direitos
humanos mais elementares.
3.
"Como não existe uma maneira clara de
resolver diferenças morais, não é possível que existam verdades morais
objetivas." Mas podem existir maneiras claras de resolver pelo menos um
grande número de diferenças morais. Precisamos de uma forma de raciocinar em
ética que faça apelo às pessoas inteligentes e com suficiente abertura de
espírito de todas as culturas — isto faria pela ética o que se obteve em
ciência com o método experimental.
Ainda que não existisse uma maneira sólida de conhecer verdades morais, daí não
se segue que tais verdades não existam. Existem verdades que não conhecemos
inequivocamente. Terá chovido neste lugar 500 anos atrás? Há seguramente uma
verdade acerca disto que nunca conheceremos. Apenas uma pequena percentagem de
verdades são conhecidas. Logo, podem existir verdades morais objectivas mesmo
que não possamos sabê-lo.
O ataque de Ana aos
valores morais objetivos falhou. Mas isto não encerra o tema porque há mais
argumentos. O debate sobre a objetividade dos valores é importante. Antes de
terminar gostaria de clarificar alguns aspectos.
O ponto de vista
objetivista afirma que algumas coisas são objetivamente um
bem ou um mal, independentemente do que possamos pensar ou sentir; contudo,
esta perspetiva está preparada para aceitar algum relativismo noutras áreas.
Muitas regras sociais são claramente determinadas por padrões locais:
·
Regra local: "É proibido virar à direita
com a luz vermelha."
·
Regra de etiqueta local: "Use o garfo
apenas com a mão esquerda."
É necessário
respeitar este género de regras locais; ao proceder de outra maneira podemos
ferir as pessoas, quer porque chocamos contra os seus carros quer porque
ferimos os seus sentimentos. Na concepção objectivista, a exigência de não
magoar as outras pessoas é uma regra de um género diferente — uma regra moral —
não determinada por costumes locais. Considera-se que as regras morais possuem
mais autoridade que as leis governamentais ou as regras de etiqueta; são regras
que qualquer sociedade deve respeitar se quiser sobreviver e
prosperar. Se visitamos um lugar cujos padrões permitem magoar as pessoas por
razões triviais, então esses padrões estão errados. O relativismo cultural
disputa esta afirmação. A ideia é que os padrões locais são determinantes ainda
que se trate de princípios morais básicos; assim, ferir outras pessoas por
motivos triviais é um bem se esta atitude for socialmente aprovada.
Respeitar as
diferenças culturais não nos transforma em relativistas culturais. Este é um
falso estereótipo. O que caracteriza o relativismo cultural é a afirmação de
que tudo o que é socialmente aprovado é um bem.
Harry Gensler, Ethics: A contemporary introduction
in http://criticanarede.com/fil_relatcultural.html
Apresente, justificadamente, a sua posição, relativamente às perspetivas apresentadas no texto.
Apresente, justificadamente, a sua posição, relativamente às perspetivas apresentadas no texto.
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