O conhecimento é um
estado muitíssimo valorizado no qual uma pessoa está em contacto cognitivo com
a realidade. Trata-se, portanto, de uma relação. De um lado da relação
encontra-se um sujeito consciente, e do outro lado encontra-se uma porção da
realidade com a qual o conhecedor está direta ou indirectamente relacionado.
Enquanto a relação direta é uma questão de grau, é conveniente pensar no
conhecimento de coisas como uma forma direta de conhecimento relativamente ao
qual o conhecimento acerca de coisas é indireto.
Ao primeiro chama-se
habitualmente conhecimento por contato uma vez que o sujeito está em
contato, através da experiência, com a porção de realidade conhecida, ao passo
que ao segundo tipo de conhecimento se chama conhecimento proposicional uma
vez que aquilo que o sujeito conhece é uma proposição verdadeira acerca do
mundo. Conhecer o Rodrigo é um exemplo de conhecimento por contacto, ao passo
que saber que o Rodrigo é um filósofo é um exemplo de conhecimento proposicional.
O conhecimento por contato inclui não apenas conhecimento de pessoas e coisas,
mas também conhecimento dos nossos estados mentais. De facto, os estados
mentais daquele que conhece são muitas vezes tidos como porção de realidade
mais directamente conhecível.
O conhecimento
proposicional tem sido muito mais exaustivamente discutido do que o
conhecimento por contacto pelo menos por dois motivos. Por um lado, o
conhecimento proposicional é a forma pela qual se comunica o conhecimento, o
que significa que o conhecimento proposicional pode ser tranferido de uma
pessoa para outra, ao passo que o conhecimento por contacto não pode ser
transferido de pessoa para pessoa, pelo menos de forma directa. Outra razão
relacionada com esta é a que a realidade tem uma estrutura proposicional
ou, pelo menos, a proposição é a principal forma pela qual a realidade é
compreensível para a mente humana. Assim, mesmo que a minha experiência do
Rodrigo me leve a conhecer o Rodrigo, e a experiência das minhas emoções me
leve a saber o que é possuir tais emoções, como teórica tenho dificuldades em
responder à questão “o que é o conhecimento?” relativamente a ambos os casos. É
mais fácil explicar o objeto do conhecimento quando se trata de uma proposição.
Neste artigo seguirei o procedimento habitual concentrando-me no conhecimento
proposicional, mas ao fazê-lo reconheço que a conveniência não implica
necessariamente a sua grande importância.
As proposições são
verdadeiras ou falsas, mas somente as proposições verdadeiras ligam o sujeito
cognitivo com a realidade da forma desejada. Assim, o objeto do conhecimento no
sentido que mais interessa aos filósofos é habitualmente visto como uma
proposição verdadeira. Saber qual a natureza da verdade, das proposições e da
realidade é uma questão matafísica. Por esta razão os epistemólogos não dirigem
os seus esforços para estas questões quando escrevem sobre epistemologia, e
assim as questões acerca da natureza do conhecimento não se centram no objecto
do conhecimento, mas antes nas propriedades do próprio estado mental que fazem
dele um estado de conhecimento. Deste modo, as investigações acerca do
conhecimento dirigem a sua atenção para a relação de conhecimento centrando-se
mais do lado do sujeito da relação do que do lado do objecto.
Linda Zagzebski, O que é o Conhecimento?
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