Klee
Os defensores da
utilidade são frequentemente chamados a responder a objeções como esta – que antes
da ação, não há tempo para calcular e pesar os efeitos de qualquer linha de
conduta na felicidade geral. Isto é exactamente como se alguém dissesse que é
impossível guiar a nossa conduta pelo cristianismo, já que, sempre que tenha de
se fazer alguma coisa, não há tempo para ler todo o antigo testamento.
A resposta a esta objeção
é que tem havido muito tempo, nomeadamente todo o passado da espécie humana. Ao
longo de todo este tempo, a humanidade tem vindo a descobrir tendências das
ações através da experiência, dependendo dessa experiência toda a prudência,
bem como toda a moralidade da vida. As pessoas falam como se o começo deste
curso de experiência tivesse sido posto de parte até aqui, e como se, no
momento em que um homem se sente tentado a intrometer-se na propriedade ou na
vida de outro, tivesse de começar a considerar pela primeira vez se o
assassínio ou o roubo são prejudiciais para a felicidade humana. Penso que,
mesmo neste caso, ele não consideraria a questão muito enigmática, mas, seja
como for, a questão hoje chegar-lhe-ia resolvida às mãos. É realmente estranho
supor que, se os seres humanos tivessem concordado quanto a considerar a
utilidade como teste de moralidade,
permaneceriam sem qualquer acordo a
respeito daquilo que é útil e não tomariam quaisquer medidas para que as suas
noções sobre o assunto fossem ensinadas aos jovens e inculcadas pela lei pela
opinião.(…) É estranho pensar que um primeiro princípio é inconsistente com a
aplicação de princípios secundários. Informar um viajante sobre o lugar do seu
destino último não é proibir o uso de pontos de referência e de sinais pelo
caminho. A proposição de que a felicidade é o fim e o objetivo da moralidade
não significa que não se possa construir qualquer estrada para atingir esse
objetivo, ou que as pessoas que seguem para lá não devam ser aconselhadas a
seguir uma direção em bez de outra. (…) seja qual for o princípio que adoptemos
como princípio fundamental da moralidade, precisamos de princípios subordinados
através dos quais possamos aplica-los; a impossibilidade de passarmos sem eles,
sendo comum a todos os sistemas, não poide proporcionar qualquer argumento
contra um em particular (…)
J.S. Mill, Utilitarismo
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