Edward Hopper
O Compatibilismo é a ideia de que um ato
pode ser simultaneamente livre e determinado. Isto pode parecer uma
contradição, mas, segundo esta teoria, isso não é verdade. Contrariamente ao
que possamos pensar, é possível aceitar que o comportamento humano está
causalmente determinado e pensar corretamente em nós próprios como agentes
livres.
Entre os filósofos, o Compatibilismo é de
longe a teoria do livre-arbítrio mais popular. De uma forma ou de outra foi a
teoria de Hobbes, Hume, Kant e Mill, e é defendida hoje pela maior parte dos
autores que escrevem sobre o assunto. Isto costuma surpreender as pessoas que
não estão familiarizadas com a literatura filosófica, dado que o livre-arbítrio
e o Determinismo parecem obviamente incompatíveis. De que modo são supostamente
consistentes entre si?
Segundo o Compatibilismo, algumas das ações
são obviamente livres e algumas são obviamente não livres. O que interessa é
encontrar a diferença entre elas.
Eis alguns exemplos de ações que não são
livres:
Entregamos a carteira porque um assaltante
nos aponta uma arma à cabeça.
Vamos ao piquenique da empresa porque o
patrão nos disse que tínhamos de ir.
Apresentamo-nos para a incorporação no
exército porque fomos convocados e mandar-nos-ão para a prisão se não nos
apresentarmos.
Nestes casos, não estamos a agir livremente,
porque fomos forçados a fazer aquilo que não queríamos fazer.
Estes, pelo contrário, são casos em que
agimos livremente:
Contribuímos com dinheiro para uma
organização de beneficência porque decidimos que essa organização merece o
nosso apoio.
Incitamos a nossa empresa a patrocinar um
piquenique porque pensamos que isso seria muito bom para os empregados. Ficamos
satisfeitos com o assentimento do patrão e ajudamos voluntariamente a organizar
o evento. No dia do piquenique, chegamos mais cedo por estarmos tão excitados.
Alistamo-nos no exército porque a perspetiva
de ser soldado nos atrai. Pensamos que essa seria uma boa carreira.
Estas acções são livres porque a nossa
escolha se baseia nos nossos próprios desejos, sem que ninguém nos diga o que
temos de fazer. É isto que significa fazer algo, «de livre vontade». Mas
repare-se que isto é perfeitamente compatível com as nossas acções estarem
causalmente determinadas pelo nosso passado, pelos acontecimentos que ocorrem
no nosso cérebro e assim por diante – é mesmo compatível com os nossos desejos
serem causados por factores que não controlamos. Deste modo, o livre-arbítrio e
o Determinismo são compatíveis.
Podemos resumir a ideia básica do compatibilismo dizendo que «livre» não significa «não causado» - significa
antes algo como «isento de coerção». Assim, o facto de o nosso comportamento ser
ou não ser livre não depende de se é ou não causado, depende apenas do modo
como é causado.
J. Rachels, Problemas da Filosofia
Excelente post! Foi muito útil!
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