Apesar dos princípios utilitaristas parecerem apelativos, há muitas dificuldades que se levantam quando tentamos coloca-los em prática.
É extremamente difícil medir a felicidade de pessoas diferentes. Quem decidirá se o enorme prazer do sádico ultrapassa ou não o sofrimento da sua vítima? Ou como se compara o prazer que um entusiasta de futebol tem quando a sua equipa marca um golo brilhante com as deleitosas vibrações de um devoto da ópera que ouve uma ária favorita? E como se comparam estes tipos de prazer com sensações de caráter mais físico, tais como as que se obtêm com o sexo e a alimentação?
Bentham pensava que, em princípio, tais comparações poderiam ser feitas. Para ele, a origem da felicidade era irrelevante. A felicidade era apenas um estado de espírito bem aventurado: prazer e ausência de dor. Apesar de ocorrer com diferentes intensidades, era sempre do mesmo tipo e, portanto, devia ter peso nos cálculos utilitaristas, independentemente da forma como era obtido. (…)
Mill (…) sugeriu uma distinção entre os prazeres elevados e os prazeres baixos. Mill argumentou que qualquer pessoa que tenha conhecido os prazeres elevados (que eram, na sua perspetiva, sobretudo intelectuais), iria automaticamente preferi-los aos chamados prazeres baixos (que eram sobretudo os físicos). No esquema de Mill os prazeres elevados contavam muito mais no cálculo da felicidade do que os baixos (…).
Casos problemáticos
Outra objeção ao utilitarismo defende que este pode justificar muitas ações que habitualmente são consideradas imorais. Por exemplo, se pudesse mostrar-se que enforcar publicamente um inocente teria o efeito benéfico direto de reduzir os crimes violentos, por atuar como um fator de dissuasão, causando assim, no cômputo geral, mais prazer que dor, então o utilitarista seria obrigado a dizer que enforcar o inocente era a coisa moralmente correta a fazer (...)
Nigel Warburton, Elementos Básicos de Filosofia
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