quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Questões de facto e relação de causalidade




Todos os raciocínios relativos aos factos parecem fundar-se na relação de causa e efeito. Só mediante esta relação podemos ir além do testemunho da nossa memória e dos nossos sentidos. Se perguntássemos a um homem porque acredita ele em alguma questão de facto  que está ausente, por exemplo, que o seu amigo está no campo ou na França, fornecer-nos-ia uma razão e esta razão seria algum outro facto, como uma carta dele recebida ou o conhecimento das suas antigas resoluções e promessas.

Um homem que encontrasse um relógio ou qualquer outra máquina numa ilha deserta concluiria que noutros tempos estiveram homens nessa ilha. Todos os nossos raciocínios acerca de factos são da mesma natureza. E aqui supõe-se constantemente que existe uma conexão entre o facto presente e aquele que dele é inferido. Se nada houvesse a ligá-los, a inferência seria inteiramente precária. A audição de uma voz articulada e de discurso racional na escuridão certifica-nos da presença de alguma pessoa. Porquê? Porque são efeitos da maneira de ser e da estrutura humanas, e intimamente a elas adstritos. Se analisamos todos os outros raciocínios desta natureza, veremos que se baseiam na relação de causa e efeito, e que esta relação é próxima ou remota, directa ou colateral. O calor e a luz são efeitos colaterais do fogo, e um efeito pode ser adequadamente inferido a partir do outro.
                           
David Hume, Investigação Sobre o Entendimento Humano


Questões de facto

Raciocínios que assentam na relação causa-efeito/ relação de causalidade

As relações causais nunca podem ser descobertas a priori
A inferência causal baseia-se em regularidades observadas uma conjunção constante

          Ao observar que algum evento (A) tem até agora sido sempre seguido do evento (B), acreditamos que, da próxima vez que ocorrer (A), sucederá (B).

          Ocorreu um raio (A)
Aos raios (A) têm-se seguido trovões (B)
Logo, provavelmente irá ocorrer um trovão (B)

Raciocínio causal – Partimos de premissas empíricas e a conclusão não se segue necessariamente delas
As inferências causais pressupõem que a Natureza se comporta de maneira uniforme – Princípio da uniformidade da natureza:

A causas semelhantes seguem-se efeitos semelhantes
O futuro será semelhante ao passado

          Ao observar que algum evento (A) tem até agora sido sempre seguido do evento (B), acreditamos que, da próxima vez que ocorrer (A), sucederá (B).

      Acreditamos que o futuro assemelhar-se – á ao passado.

PROBLEMA:

Como podemos justificar que o passado será semelhante ao futuro?

A uniformidade da natureza não é justificável demonstrativamente nem indutivamente.


Se o princípio da uniformidade da natureza é justificável, então pode ser justificado demonstrativamente ou indutivamente.


O princípio da uniformidade da natureza não é justificável demonstrativamente


O princípio da uniformidade da natureza não é  indutivamente justificável.


Logo, o princípio da uniformidade da natureza não é racionalmente justificável


Se a crença na uniformidade da experiência fosse dedutivamente demonstrada seria uma verdade necessária cuja negação implicaria contradição.

As verdades contingentes não são demonstradas.

Não se pode demonstrar que o futuro se assemelhará ao passado.

Não é possível justificar este princípio indutivamente.

Justificar indutivamente o princípio da uniformidade da natureza constituiria uma petição de princípio.

O futuro tem-se assemelhado ao passado

Logo, provavelmente o futuro assemelhar-se-á ao passado.

Justificava-se a crença na uniformidade da natureza com base na experiência que tivemos até hoje da uniformidade da natureza



O problema da indução


O raciocínio indutivo não é justificável
- Raciocinando indutivamente, geralmente tem-se chegado a conclusões corretas

- Mas continuará a indução a ser fiável?

- Acreditamos que sim mas não podemos justificar

  • não é possível justificá-la a priori (não é uma verdade necessária)


  • Não é possível verifica-la a posteriori (se dissermos que a indução é fiável porque tem sido até agora, estamos a justificar a indução com a indução)


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