segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Relativismo cultural



Ana Relativista

“Fui educada para acreditar que a moral se refere a factos objectivos. Tal como a neve é branca, também o infanticídio é um mal. Mas as atitudes variam em função do espaço e do tempo. As normas que aprendi são as normas da minha própria sociedade; outras sociedades possuem diferentes normas. A moral é uma construção social. Tal como as sociedades criam diversos estilos culinários e de vestuário, também criam códigos morais distintos. [... ]
Considere a minha crença de que o infanticídio é um mal. Ensinaram-me isto como se se tratasse de um padrão objectivo. Mas não é; é apenas aquilo que defende a sociedade a que pertenço. Quando afirmo «o infanticídio e um mal» quero dizer que a minha sociedade desaprova essa prática e nada mais. Para os antigos romanos, por exemplo, o infanticídio era um bem. Não tem sentido perguntar qual das perspectivas é «correcta». Cada um dos pontos de vista é relativo à sua cultura, e o nosso é relativo à nossa. Não existem verdades objectivas acerca do bem ou do mal. [... ] «Mal» é um termo relativo. Deixem-me explicar o que isto significa. Quero dizer que nada está absolutamente «à esquerda», mas apenas «à esquerda deste ou daquele» objecto. Do mesmo modo, nada e um mal em absoluto, mas apenas um mal nesta ou naquela sociedade em particular. [... ]
Podemos expressar esta perspectiva claramente através de uma definição: «x e um bem» significa «a maioria (na sociedade em questão) aprova x». Outros conceitos morais como «mal» ou «correcto» podem ser definidos da mesma forma. Note-se ainda a referência a uma sociedade especifica. Excepto se o contrário for especificado, a sociedade em causa e aquela a que pertence a pessoa que faz juízo. Quando afirmo «Hitler agiu erradamente» quero dizer de acordo com os padrões da minha sociedade».
o mito da objectividade afirma que as coisas podem ser um bem ou um mal de uma forma absoluta e não relativamente a esta ou àquela cultura. Mas como poderemos saber o que é um bem ou o que é um mal em termos absolutos? Como poderíamos argumentar a favor desta ideia sem pressupor os padrões da nossa   sociedade?
As pessoas que falam do bem e do mal de forma absoluta consideram as normas que lhes foram ensinadas como factos objectivos. Essas pessoas necessitam de estudar antropologia, ou de viver algum tempo numa cultura diferente.
Quando adoptei o relativismo cultural tomei-me mais receptiva a aceitar outras culturas. Como muitos outros estudantes, eu partilhava a típica atitude «nós estamos certos e eles errados». Lutei arduamente contra isto. Apercebi-me de que o outro lado não está errado» mas que é apenas «diferente». Temos, por isso, que considerar  os outros a partir do seu próprio ponto de vista; ao critica-los, limitamo-nos a impor-lhes padrões que a nossa própria sociedade construiu. Nós, os relativistas culturais, somos mais tolerantes.”

          HARRY GENSLER, Introdução à Ética

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Critérios Valorativos



Os valores justificam as nossas escolhas e preferências, relativamente aos atos e aos objetos. Os valores estão na base das nossas escolhas.

Dilema moral:
          Lawrence Kohlberg
I
Numa cidade da Europa, uma mulher estava a morrer de cancro. Um medicamento descoberto recentemente por um farmacêutico dessa cidade podia salvar-lhe a vida. A descoberta desse medicamento tinha custado muito dinheiro ao farmacêutico, que agora pedia dez vezes mais por uma pequena porção desse remédio. Heinz, o marido da mulher que estava a morrer, foi ter com as pessoas suas conhecidas para lhe emprestarem o dinheiro pedido pelo farmacêutico. Foi ter, então com ele, contou-lhe que a sua mulher estava a morrer e pediu-lhe para o deixar levar o medicamento mais barato. Em alternativa, pediu-lhe para o deixar levar o medicamento, pagando mais tarde a metade do dinheiro que ainda lhe faltava. O farmacêutico respondeu que não, que tinha descoberto o medicamento e que queria ganhar dinheiro com a sua descoberta. Heinz, que tinha feito tudo ao seu alcance para comprar o medicamento, ficou desesperado e pensou assaltar a farmácia e roubar o medicamento para a sua mulher.
-         Deve Heinz assaltar a farmácia para roubar o medicamento para salvar a sua mulher?
II
Supondo que Heinz assaltava a Farmácia. A notícia do roubo aparecia no jornal. Brown, um polícia que conhecia Heinz, leu a notícia e lembrou-se de o ter visto a sair correndo da tal Farmácia. Como era amigo de Heinz, e conhecendo o seu caso, perguntou a si mesmo se deveria denunciá-lo.
-         Deve o polícia acusar Heinz de roubo?

III
Supondo que Brown prendia Heinz, este é levado a tribunal e compete agora ao Juiz determinar qual a sua sentença.
-         Deve o Juiz condenar Heinz ou suspender a pena e libertá-lo?
-         Que valores estão em conflito?

sábado, 5 de janeiro de 2013

Libertismo


O argumento da responsabilidade. O pressuposto de que temos livre-arbítrio está profundamente enraizado nas nossas formas habituais de pensar. Ao reagir a outras pessoas, não conseguimos deixar de as ver como autoras das suas ações. Consideramo-las responsáveis, censurando-as caso se tenham comportado mal e admirando-as caso se tenham comportado bem. Para que estas reações estejam justificadas, parece necessário que as pessoas tenham livre –arbítrio.

Outros sentimentos humanos importantes, como o orgulho e a vergonha, também pressupõem o livre-arbítrio. Alguém que conquista uma vitória ou tem sucesso num exame pode sentir-se orgulhoso, enquanto alguém que desiste ou faz batota pode sentir-se envergonhado. Porém, se as nossas acções se devem sempre a factores que não controlamos, os sentimentos de orgulho e de vaidade são infundados. Estes sentimentos são uma parte inescapável da vida humana. Assim, uma vez mais, parece inescapável que nos concebamos como livres.
Podemos, portanto, raciocinar desta forma:


1. Não conseguimos deixar de admirar ou de censurar as pessoas pelo que fazem, nem conseguimos deixar de, por vezes, sentir orgulho ou vergonha pelo que fazemos.


2. Estas reações – admiração, censura, orgulho e vergonha – não seriam apropriadas se as pessoas não tivessem livre-arbítrio.
3. Logo, temos de acreditar que as pessoas têm livre-arbítrio.


4. Dado que temos de ter essa crença, temo-la de facto: as pessoas têm livre-arbítrio.


Este é um exemplo daquilo que Immanuel Kant (1724-1804) designou por «argumento transcendental». Kant, que muitos consideram o maior dos filósofos modernos, observou que não conseguimos deixar de acreditar em certas coisas. Sendo assim, não conseguimos deixar de acreditar também naquilo que é necessário para que essas crenças sejam verdadeiras. Suponha-se que não conseguimos deixar de acreditar que X. Mas X pressupõe Y. Logo, disse Kant, não temos escolha: temos de presumir que é verdade que Y.
O problema dos argumentos deste tipo é óbvio. As crenças originais podem ser falsas, ainda que sejam psicologicamente inescapáveis. Se soubéssemos que as crenças originais são verdadeira – que as pessoas são censuráveis e que o orgulho é justificado - , poderíamos concluir que tudo o que essas crenças implicam também é verdade. Contudo, se não sabemos se as crenças são verdadeiras, não podemos extrair justificadamente quaisquer conclusões a partir delas. Não podemos concluir que temos livre-arbítrio a partir do simples facto de o livre-arbítrio ser implicado por crenças que temos, mas que não constituem conhecimento.


                                        James Rachels, Elementos da Filosofia Moral

Os fenómenos físicos são determinados mas as ações humanas resultam de deliberações racionais e podem alterar o curso dos acontecimentos do mundo

  •  Nem todos os acontecimentos estão submetidos ao mesmo tipo de causalidade
  •  A causalidade natural rege o mundo físico
  • Os agentes humanos são causa de ações que produzem efeitos no mundo
  • A causalidade livre é própria de algumas ações dos seres humanos
  • As ações não são o desfecho inevitável de ações anteriores
  • Se há ações livres, os agentes humanos  são responsabilizáveis por elas

Assim sendo, o determinismo é falso e a crença na liberdade e na responsabilidade é verdadeira



OBJEÇÕES
·         As deliberações e escolhas podem ser determinadas por desejos e crenças
·         Para o libertismo o livre arbítrio é incompatível com o determinismo
·         As escolhas não são livres

Determinismo moderado




Tudo no mundo é determinado mas algumas ações são livres porque embora sejam determinadas, não são constrangidas


  • Todas as ações têm uma causa
  • Essas causas são internas ou externas
  • Agimos livremente quando não somos compelidos ou coagidos por forças externas
  • Somos causalmente determinados e também livres e responsáveis pelo que fazemos 

                O determinismo é compatível com a liberdade e com a                 responsabilidade




OBJEÇÕES
·         O facto de não nos sentirmos constrangidos não significa que poderíamos ter escolhido outra coisa além do que escolhemos

·         O facto de não termos consciência das causas da nossas escolhas, não significa que elas não existam

·         As nossas escolhas podem ter na sua base:
o   Acontecimentos anteriores
o   A nossa personalidade
o   A nossa constituição genética

Determinismo radical



Algumas pessoas pensam que nunca é possível fazermos qualquer coisa diferente daquilo que, de facto, fazemos neste sentido absoluto. Reconhecem que aquilo que fazemos depende das nossas escolhas, decisões e desejos e que fazemos escolhas diferentes em circunstâncias diferentes: não somos como a terra, que toda no seu eixo com monótona regularidade. Mas afirmam que, em cada caso, as circunstâncias que existem antes de agirmos determinam as nossas ações e tornam-nas inevitáveis.

É o livre arbítrio compatível com o determinismo?



CAROLINA: Eu diria que há três questões principais: 1) Têm as pessoas livre arbítrio? 2) É o determinismo verdadeiro? e 3), é o livre arbítrio compatível com o determinismo?
LÁZARO: A minha resposta a essas questões é que as pessoas têm livre arbítrio, que o livre arbítrio é incompatível com o determinismo, e, logo, que o determinismo é falso.
DANIEL: O meu raciocínio é exactamente o oposto. Defendo que o determinismo é verdadeiro e, logo, que as pessoas não têm livre arbítrio.
CAROLINA: Concordo contigo, Lázaro, quando afirmas que as pessoas têm liberdade, e contigo, Daniel, quando afirmas que o determinismo é verdadeiro, mas não julgo que as duas posições sejam contraditórias.
Determinismo
LÁZARO: Talvez o melhor seja, antes de começarmos a discutir as nossas posições, definir "determinismo".
CAROLINA: Boa ideia. A minha definição de "determinismo" é: "Tudo o que acontece tem uma causa". Na terminologia da filosofia contemporânea isso é o mesmo que dizer que todo o acontecimento tem uma causa. Incluindo tudo o que fazemos, pensamos ou dizemos.
                                                                                                          Clifford Williams

O problema do libre arbítrio - respostas





SOMOS LIVRES OU DETERMINADOS? É A LIBERDADE COMPATÍVEL COM O LIVRE ARBÍTRIO?



O problema do livre-arbítrio


Determinismo Radical – Todos os acontecimentos, inclusive as acções humanas, são causados por acções anteriores
Determinismo moderado (compatibilismo) – Tudo no mundo é determinado mas algumas acções são livres porque embora sejam determinadas, não são constrangidas
Libertarismo – Os fenómenos físicos são determinados mas as acções humanas resultam de deliberações racionais e podem alterar o curso dos acontecimentos do mundo




O problema do livre arbítrio






Livre arbítrio - liberdade, capacidade de decidir

Crença no livre arbítrio  

  • Há acontecimentos – as ações humanas – que não se encontram numa cadeia causal
  • As ações humanas dependem da nossa vontade, das nossas escolhas
  • Existe liberdade

Determinismo - Todos os acontecimentos estão causalmente determinados pelos acontecimentos anteriores e pelas leis da natureza 

Crença no determinismo 

  • Todos os acontecimentos, incluindo as ações humanas, são o resultado de causas anteriores

Será que temos capacidade de escolha e de decisão? Ou a nossa acção está ligada a acontecimentos anteriores, sendo um efeito de um acontecimento anterior?


Muitos acontecimentos do mundo estão sujeitos a um determinismo causal. Mas são também  as nossas acções o resultado de causas anteriores e não o resultado da nossa vontade?


Somos livres ou determinados?

Ou é possível conciliar as duas crenças?



As condicionantes da ação humana




O fenómeno fundamental da auto-experiência humana é que já de antemão nos achamos no meio de uma realidade, rodeada por coisas e seres humanos, com os quais lidamos, que nos influenciam e com quem mantemos uma relação múltipla. A nossa existência está na dependência do mundo, tanto do mundo das coisas e dos objectos como também e sobretudo do mundo humano e pessoal. A nossa existência concreta está assim condicionada e determinada de múltiplas formas. Foram-lhes dadas possibilidades, ao mesmo tempo que ficou sujeita a limitações.
Isto também é válido no que diz respeito à nossa vida somático-biológica, ligada a este mundo de coisas, submetida às leis e físicas e químicas, que surgiu neste mundo fruto de um processo vital e é regida por leis biológicas e psicológicas, como toda a forma de vida que existe no mundo. Assim, a nossa vida corporal está dependente do mundo como a nossa vida vital; está dependente das coisas do mundo que nos fornecem o alimento, vestuário e habitação, que nós aprendemos, usamos e manipulamos a fim de poder viver e subsistir como homens.
Com maior razão não pode prescindir do mundo humano. O indivíduo nasce na comunidade e cresce nela de forma humana. Aprende a sua linguagem, adopta os seus costumes e participa no seu espírito e na sua cultura. Tudo isto imprime um cunho decisivo na existência humana individual.
                                                 E. Goreth, O que é o Homem?

CONDICIONANTES FÍSICO-BIOLÓGICAS

O património genético que os seres humanos herdam dos seus progenitores determina um conjunto de condicionantes das suas acções. A estrutura biológica de cada um, assim como a sua relação com o meio condiciona aquilo que ele quer fazer.
O ambiente e recursos materiais condicionam a acção humana (recursos, matérias-primas, clima, condições ambientais).
A personalidade e características psicológicas de cada um também condicionam a sua acção.

CONDICIONANTES HISTÓRICO-CULTURAIS

A época histórica e o meio sociocultural influenciam as nossas decisões.
Através do processo de socialização cada ser humano apreende e interioriza os elementos da cultura a que pertence: linguagem, valores, regras, crenças, formas de sentir, de ser e de estar.
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