O subjetivismo pode parecer-te
uma boa teoria sobre os juízos éticos, sobretudo se já tiveste a impressão, no
meio de uma discussão acalorada sobre um tema moral controverso, que só existem
opiniões pessoais diferentes no que respeita ao certo e ao errado, ao bem e ao
mal.
Mas é possível que deixes de pensar assim se considerares alguns casos
concretos. Imagina que alguém te diz que queimar pessoas vivas é uma ação
louvável. Tu afirmas que não. Se aceitares o subjetivismo moral terás de
aceitar que a tua opinião não é melhor nem pior que a da outra pessoa,
simplesmente porque na ética não há verdades nem falsidades independentes
daquilo que as pessoas pensam. Só há opiniões diferentes.
Mas será que estás preparado para
aceitar isto? Se te parece que sim, pensa numa outra possibilidade. Pensa numa
pessoa que acha que te pode sacrificar, apesar de seres uma pessoa saudável e
normal, para salvar o seu filho, que precisa de um transplante de coração.
Achas que isto é uma questão de opinião, ou achas, pelo contrário, que ela
realmente não te pode fazer isso? Se pensas que ela realmente não te pode matar
para salvar o seu filho, tens que rejeitar o subjetivismo.
Estes exemplos permitem-nos
compreender uma das objeções mais
fortes ao subjetivismo:
O subjetivismo permite que qualquer juízo moral seja verdadeiro.
Se uma pessoa pensa que devemos
torturar inocentes, então para essa pessoa é verdade que devemos torturar
inocentes. Se uma pessoa pensa que é errado ajudar os outros, então para essa
pessoa é verdade que é errado ajudar os outros. Assim, o subjetivismo parece
fazer da ética um domínio completamente arbitrário. À luz desta teoria nenhum
ponto de vista, por muito monstruoso ou absurdo que seja, pode ser considerado
realmente errado ou pelo menos pior que pontos de vista alternativos.
A aceitação do subjetivismo
suscita assim diversos problemas e um deles diz respeito à educação moral. Se
educarmos coerentemente os nossos filhos de acordo com a perspetiva subjetivista,
teremos que ensinar-lhes apenas a seguir os seus sentimentos, a orientar-se em
função daquilo de que gostam e de que não gostam. Teremos de lhes dizer que
qualquer comportamento que venham a ter é aceitável, bastando para isso que
esteja de acordo com os seus sentimentos. Se uma criança de tenra idade tiver
um sentimento profundamente negativo em relação à escola, provavelmente pensará
que não há mal nenhum em faltar às aulas. E o subjetivista terá que aceitar
que, para ela, é verdade que não há mal nenhum em faltar as aulas. Podemos
assim concluir o seguinte:
O subjetivismo compromete-nos com uma educação moral que consiste
apenas em ensinar que devemos agir de acordo com os nossos sentimentos.
Muitos vêm nisto uma objeção
importante ao subjetivismo. Outra objeção talvez ainda mais importante diz
respeito à ideia de debater questões morais. Para o subjetivista as noções de
certo e errado, bem e mal, são criações dos indivíduos que não são mais que o
resultado das suas preferências, desejos ou sentimentos. Assim, um subjetivista
acredita que qualquer tentativa de debater racionalmente uma questão moral é
perfeitamente inútil, uma vez que não há nenhuma verdade independente dos
sentimentos de cada indivíduo que possa ser “demonstrada” através do debate.
Cada indivíduo limitar-se-á a defender as posições que forem consentâneas com
os seus sentimentos. Se o Miguel seguir princípios racistas de nada servirá
tentar mostrar-lhe que está errado, até porque, de acordo com o subjetivismo,
nunca é possível que estejamos enganados em questões morais. Se o Miguel disser
que devemos tratar os negros como inferiores, sentindo intensamente que isso
está certo, então a afirmação “Devemos tratar os negros como inferiores” está
realmente certa para ele, é verdadeira para ele. Ele não está nem mais nem
menos enganado do que alguém que pense o contrário. E, se ele tem razão do seu
ponto de vista, então ficamos sem motivos para tentar mudar a sua opinião — não
temos motivos para argumentar racionalmente a favor seja do que for. Podemos
então concluir o seguinte:
O subjetivismo tira todo o sentido ao debate sobre questões morais.
Assim, se aceitarmos o subjetivismo
deixaremos de ter motivos para avaliar os juízos éticos das outras pessoas e
para argumentar racionalmente quando se trata de resolver questões morais. O subjetivismo
torna absurdo qualquer esforço racional para encontrar os melhores princípios
éticos e fundamentá-los perante os outros.
Para veres como esta objeção ao subjetivismo
se pode tornar mais forte, imagina que o João e a Maria estão a discutir o
problema de saber se o aborto é moralmente aceitável. O João afirma: “O aborto
é profundamente errado.” E a Maria responde: “O aborto não tem nada de errado.”
Estamos perante duas afirmações inconsistentes entre si, pois não podem ser
ambas verdadeiras. Só que para o subjetivista cada uma delas significa, respetivamente,
o seguinte:
O João reprova o aborto.
A Maria não reprova o aborto.
Estas duas afirmações já não são
inconsistentes. Por isso, parece que elas não conseguem traduzir corretamente
as afirmações iniciais do João e da Maria, que são inconsistentes. Por outras
palavras, quando o João diz “O aborto é profundamente errado” isso não
significa apenas “O João reprova o aborto”, pois nesse caso a sua afirmação não
seria inconsistente com a de Maria. Isto parece mostrar que o subjetivismo é
falso, ou seja, que afinal não podemos entender os juízos morais como simples
proposições sobre os sentimentos de aprovação ou reprovação de cada indivíduo.
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