segunda-feira, 5 de maio de 2014

O padrão do gosto


Rembrandt

O sentimento está sempre certo – porque o sentimento não tem outro referente senão ele mesmo e é sempre real, quando alguém tem consciência dele. Mas nem todas as determinações do entendimento são certas, porque têm como referente algumas coisas para além delas mesmas, a saber, os factos reais e nem sempre são conformes a esse padrão.
Entre mil e uma opiniões que pessoas diferentes podem ter a respeito do mesmo assunto, há uma e apenas uma que é justa e verdadeira e a única dificuldade é encontrá-la e confirmá-la. Pelo contrário, os mil e um sentimentos despertados pelo mesmo objecto são todos certos, porque nenhum sentimento representa o que realmente está no objeto. Ele limita-se a observar uma certa conformidade ou relação entre o objecto e os órgãos ou faculdades do espírito e, se essa conformidade realmente não existisse, o sentimento jamais poderia ter ocorrido. A beleza não é uma qualidade das próprias coisas, existe apenas no espírito que a contempla e cada espírito percebe uma beleza diferente. É possível até uma pessoa encontrar deformidade onde uma outra vê apenas beleza e qualquer indivíduo deve concordar com o seu próprio sentimento, sem ter a pretensão de regular o dos outros.
(...)

Embora as pessoas com gosto refinado sejam raras, facilmente as distinguimos em sociedade pela solidez do seu entendimento e pela superioridade das suas faculdades relativamente ao resto da humanidade. O ascendente que adquirem faz prevalecer a viva aprovação com que acolhem quaisquer obras de génio e torna-a geralmente predominante. Entregues a si próprios, muitos homens têm apenas uma vaga e duvidosa percepção da beleza, mas ainda assim são capazes de se deleitar com qualquer obra de qualidade que se lhes aponte. Todo aquele que se converte à admiração do verdadeiro poeta ou orador é a causa de uma nova conversão. E embora os preconceitos possam prevalecer durante algum tempo, nunca se unem para rivalizar com o verdadeiro génio – acabam por ceder perante a força da natureza e o justo sentimento. Assim, embora uma nação civilizada possa enganar-se facilmente ao escolher o seu filósofo de eleição, nunca erra prolongadamente na sua afeição por um autor épico ou trágico favorito.


Mas apesar dos nossos esforços em fixar um padrão do gosto e em reconciliar as discordantes impressões das pessoas, restam ainda duas fontes de diversidade, as quais não são suficientes para eliminar todas as fronteiras entre beleza e deformidade, embora sirvam frequentemente para produzir diferenças no grau de aprovação ou censura. Uma reside nas diferenças de humor de cada pessoa; a outra nos costumes e opiniões próprios da nossa época e do nosso país. Os princípios gerais do gosto são uniformes na natureza humana: sempre que as pessoas divergem nos seus gostos, pode-se geralmente apontar algum defeito ou perversão nas suas faculdades, que tem origem ou no preconceito, ou na falta de prática, ou na falta de sensibilidade. E há assim boas razões para aprovar uns gostos e condenar outros. Mas onde quer que haja tal diversidade, a qual se mostre completamente irrepreensível, tanto na estrutura interna como na situação externa, deixa também de haver lugar para dar preferência a um gosto em detrimento de outro; nesse caso, uma certa diversidade no juízo é inevitável, e é em vão que procuramos um padrão que permita conciliar os sentimentos contrários.

                                                                        David Hume, Do Padrão do Gosto



Juízo estético é a expressão da apreciação dos objetos em termos de beleza


O problema da justificação dos juízos estéticos:

De que depende a verdade destes juízos: das propriedades intrínsecas dos objetos ou do que sentimos ao observá-los?

Subjetivismo radical – Os juízos estéticos são subjetivos, dependem do sentimento de prazer de cada sujeito.
As propriedades estéticas não existem nos objectos mas são atribuídas pelo sujeito.
Subjetivismo (moderado) estético – Os juízos são subjectivos mas admitem critérios para a apreciação e avaliação das obras de arte
Hume e o padrão do gosto
Kant e a universalidade do juízo estético
Objetivismo estético – Os juízos estéticos são verdadeiros ou falsos em função das propriedades intrínsecas dos objectos e não dos sentimentos do sujeito.




SUBJETIVISMO MODERADO DE HUME

Os juízos estéticos são subjetivos – a beleza e a deformidade não são qualidades dos objetos, pertencem ao sentimento

Existe desacordo e diversidade de gostos entre pessoas e culturas

Nem todas as opiniões valem o mesmo

Existem juízos estéticos que são verdadeiros ou falsos, independentemente do gosto individual

Apesar dos desacordos, verifica-se que as pessoas, em diferentes épocas e lugares, acham umas coisas mais agradáveis que outras, o que mostra que há princípios comuns que determinam a formação do gosto

PADRÃO DE GOSTO  
adaptação - 50 LiçõesRazões de Ser

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