Os defensores da utilidade também
são frequentemente chamados a responder a objeções como esta – que antes da
ação, não há tempo para calcular e pesar os efeitos de qualquer linha de
conduta na felicidade geral. Isto é exactamente como se alguém dissesse que é
impossível guiqr a nossa conduta pelo cristianismo, já que sempre que tenho de
fazer alguma coisa, não há tempo para ler todo o Antigo e o Novo Testamento. A
resposta à objeção é que tem havido muito tempo, nomeadamente todo o passado da
espécie humana. Ao longo desse tempo, a humanidade tem vindo a descobrir as
tendências das ações através da experiência, dependendo dessa experiência toda
a prudência, bem como toda a moralidade da vida. As pessoas falam como se o
começo desse curso de experiência tivesse sido posto de parte até aqui, e como
se, no momento em que o homem se sente tentado a intrometer-se na propriedade
ou na vida do outro, tivesse de começar a considerar pela primeira vez se o
assassínio ou o roubo são prejudiciais para a felicidade humana. Penso que
mesmo nesse caso ele não consideraria a questão muito enigmática, mas, seja
como for, a questão hoje chegar-lhe-ia resolvida às mãos. É realmente estranho
que, se os seres humanos tivessem concordado quanto a considerar a utilidade como
o teste da moralidade, permaneceriam sem qualquer acordo sobre aquilo que é
útil e não tomariam quaisquer medidas para que as suas noções sobre o assunto
fossem ensinadas aos jovens e inculcadas pela lei e pela opinião.(…)
quarta-feira, 27 de março de 2013
terça-feira, 26 de março de 2013
Teste Intermédio de Filosofia
A adesão ao teste intermédio de Filosofia não é consensual.
A oposição ao teste intermédio integra, entre outros, argumentos relativos à natureza dos exames e
às limitações didáticas e pedagógicas decorrentes da existência de avaliação
externa: os exames não são essenciais à aprendizagem e nem sempre constituem os
instrumentos mais adequados e/ ou fiáveis para avaliar as competências
adquiridas pelos alunos; o ensino da filosofia não pode limitar-se à
preparação/ treino dos alunos para a realização de um exame; podemos motivar os
alunos e desenvolver um bom trabalho sem a perspetiva de exame; o problema da
fiabilidade intercorretores pode por (põe) em causa os seus resultados; o teste
intermédio não é essencial para preparar os alunos para exame (sempre se
fizeram exames sem testes intermédios); os testes intermédios constituem um
limite ao exercício da autonomia científica e pedagógica dos professores/
grupos disciplinares nas escolas…
Ora, eu defendo
claramente a existência do teste intermédio na sequência da existência do
exame nacional (exame que deveria ser obrigatório). Integrado no processo de preparação
para exame parece-me importante, tanto do ponto de vista do aluno, como do
professor (há benefício para os alunos e para o professor experimentarem uma
prova externa que antecipa o exame).
Mas a questão que
me parece fundamental é que avaliação externa tem um papel importante,
regulador da qualidade de ensino; ela supõe que se estabeleçam conteúdos
programáticos, que se definam competências a desenvolver e a avaliar, para
todos os alunos, independentemente da escola que frequentam ou do professor que
lhes “calha”. O programa aberto aos percursos, perspetivas, opções e
preferências de cada um propiciou uma ampla liberdade para dar as aulas ao “critério
de cada um”. E este “ficar ao critério de cada um”, como sabemos, pode dar para
o melhor ou para o pior...
A filosofia enquanto
disciplina do ensino secundário precisa de se reabilitar, de ser reconhecida a
sua importância curricular (com um estatuto equiparado às outras disciplinas
consideradas estruturantes), enquanto disciplina que permite desenvolver a capacidade
de argumentar e pensar criticamente.
É claro que o
ensino da filosofia não se deve centrar/ esgotar na preparação dos alunos para o
exame, daí a importância da concordância entre a seleção de conteúdos relevantes e das competências a desenvolver e a
avaliar nas aulas e aquelas que são objeto dos exames.
. H.B.
quinta-feira, 21 de março de 2013
Conhecimentos de facto e a relação de causalidade
Todos os raciocínios relativos aos factos parecem fundar-se na relação de causa e efeito. Só mediante esta relação podemos ir além do testemunho da nossa memória e dos nossos sentidos. Se perguntássemos a um homem porque acredita ele em alguma questão de facto que está ausente, por exemplo, que o seu amigo está no campo ou na França, fornecer-nos-ia uma razão e esta razão seria algum outro facto, como uma carta dele recebida ou o conhecimento das suas antigas resoluções e promessas. Um homem que encontrasse um relógio ou qualquer outra máquina numa ilha deserta concluiria que noutros tempos estiveram homens nessa ilha. Todos os nossos raciocínios acerca de factos são da mesma natureza. E aqui supõe-se constantemente que existe uma conexão entre o facto presente e aquele que dele é inferido. Se nada houvesse a ligá-los, a inferência seria inteiramente precária. A audição de uma voz articulada e de discurso racional na escuridão certifica-nos da presença de alguma pessoa. Porquê? Porque são efeitos da maneira de ser e da estrutura humanas, e intimamente a elas adstritos. Se analisamos todos os outros raciocínios desta natureza, veremos que se baseiam na relação de causa e efeito, e que esta relação é próxima ou remota, directa ou colateral. O calor e a luz são efeitos colaterais do fogo, e um efeito pode ser adequadamente inferido a partir do outro.
David Hume, Investigação Sobre o Entendimento Humano
Não há nenhuma impressão sensível da qual derive a ideia de causa
Mas observamos:
- A SUCESSÃO TEMPORAL
- A CONJUNÇÃO CONSTANTE ENTRE DOIS FENÓMENOS E CHAMAMOS CAUSA AO QUE PRECEDE E EFEITO AO QUE SUCEDE
Ao observar que um acontecimento A tem até agora sido sempre seguido do acontecimento B, acreditamos que, da próxima vez que ocorrer A, sucederá B.
- A OBSERVAÇÃO DESTA CONSTANTE CONJUGAÇÃO, LEVA-NOS A FORMAR A IDEIA DE CAUSA.
- A IDEIA DE CAUSA NÃO DERIVA DA OBSERVAÇÃO DE UM FENÓMENO MAS DO COSTUME, DO HÁBITO DE ESPERAR QUE B ACONTEÇA MAL VEMOS A ACONTECER.
sexta-feira, 15 de março de 2013
Relações entre ideias e conhecimentos de facto
Todos os
objectos da razão ou investigação humanas podem naturalmente dividir-se em duas
classes, a saber, Relações de Ideias e Questões de Facto. Do primeiro tipo são
as ciências da Geometria, Álgebra e Aritmética e, em suma, toda a afirmação que
é intuitiva ou demonstrativamente certa. Que o quadrado da hipotenusa é igual à
soma dos quadrados dos dois lados é uma proposição que exprime uma relação
entre estas figuras. Que três vezes cinco é igual à metade de trinta expressa
uma relação entre estes números. Proposições deste tipo podem descobrir-se pela
simples operação do pensamento, sem dependência do que existe em alguma parte
no universo. Ainda que nunca tivesse havido um círculo ou um triângulo na
natureza, as verdades demonstradas por Euclides conservariam para sempre a sua
certeza e evidência.
As questões de
facto, que constituem os segundos objectos da razão humana, não são indagadas
da mesma maneira, nem a nossa evidência da sua verdade, por maior que seja, é
de natureza semelhante à precedente. O contrário de toda a questão de facto é
ainda possível, porque jamais pode implicar uma contradição, e é concebido pela
mente com a mesma facilidade e nitidez, como se fosse idêntico à realidade. Que
o Sol não se há-de levantar amanhã não é uma proposição menos inteligível e não
implica maior contradição do que a afirmação de que ele se levantará. Por
conseguinte, em vão tentaríamos demonstrar a sua falsidade.
David Hume, Investigação
Sobre o Entendimento Humano
TIPOS DE CONHECIMENTO
- As relações de ideias conhecimentos
apriori que resultam da análise dos elementos de uma proposição e do
estabelecimento de relações entre as ideias que ela contém.
A verdade das
proposições que exprimem relações de ideias constituem conhecimentos que não
dependem do confronto com a experiência
As relações de ideias
são verdades necessárias: não é logicamente possível a sua negação
- Os conhecimentos de
questões de facto são a posteriori e a verdade destas proposições tem de
ser testada pela experiência.
Impressões e ideias
Todos admitirão
prontamente que há uma diferença considerável entre as percepções da mente
quando uma pessoa sente a dor de um calor excessivo ou o prazer de uma tepidez
moderada, e quando mais tarde traz à memória essa sensação ou a antecipa pela
sua imaginação. Essas faculdades podem imitar ou copiar as perceções dos
sentidos, mas jamais podem atingir toda a força e vivacidade do sentimento
original. (…) Todas as cores da poesia, por mais esplêndidas que sejam, jamais
serão capazes de retractar os objetos naturais de modo tal que se tome a
descrição por uma paisagem real. O mais vivido pensamento será sempre inferior à
mais ténue das sensações.
Podemos aqui,
portanto, dividir todas as percepções da mente em duas classes ou espécies, que
se distinguem pelos seus diferentes graus de força e vivacidade. As que são
menos fortes e vividas são geralmente chamadas pensamentos ou ideias. A outra
espécie carece de nome na nossa língua, bem como na maioria das outras, e
suponho que isto acontece porque nunca foi necessário para qualquer finalidade,
com exceção das de caráter filosófico, designá-las por qualquer termo ou
denominação geral. Permitamo-nos portanto uma certa liberdade e chamemos-lhes
impressões, empregando esta palavra num sentido um pouco diferente do habitual.
Entendo pelo termo impressão, assim, todas as nossas impressões mais vividas,
sempre que ouvimos, ou vemos, ou sentimos, ou amamos, ou odiamos, ou desejamos
ou queremos. E as impressões são distintas das ideias, que são as percepções menos
vividas de que temos consciência, quando reflectimos sobre qualquer das
sensações ou movimentos acima mencionados.
A primeira vista,
nada pode parecer mais ilimitado do que o pensamento humano, que não apenas
escapa a toda autoridade e a todo poder do homem, mas também nem sempre é
reprimido dentro dos limites da natureza e da realidade. Inventar monstros e
juntar as mais incongruentes formas e aparências não custa à imaginação mais esforço
do que conceber os objetos mais naturais
e familiares. E enquanto o corpo está confinado a um só planeta, sobre o qual se arrasta com dor e dificuldade, o
pensamento pode-nos transportar num instante às mais distantes regiões do universo,
ou mesmo para além do universo, até ao caos ilimitado, onde se supõe que a
Natureza jaz em total confusão. Aquilo que nunca se viu, ou de que nunca se
ouviu falar, pode ainda ser concebido; e
nada há que fique fora do alcance do pensamento, exceto o que implicar absoluta
contradição.
Mas
embora o nosso pensamento pareça possuir essa liberdade ilimitada, vemos como
um exame mais atento nos mostrará que ele realmente está confinado a limites
muito estreitos, e que todo este poder criador da mente não é mais do que a
capacidade compor, transpor, aumentar e diminuir os materiais que nos são
fornecidos pelos sentidos e pela experiência. Quando pensamos numa montanha de
ouro, estamos apenas a juntar duas ideias consistentes, a de ouro e a de montanha,
as quais já conhecíamos anteriormente. Podemos conceber um cavalo virtuoso porque
a partir dos nossos próprios sentimentos, podemos conceber a virtude, e depois uni-la
à forma e à figura de um cavalo, animal que nos é familiar. Em suma, todos os
materiais do pensamento derivam de nossas sensações externas ou internas.
Apenas a mistura e composição deles compete à mente e à vontade. Ou, para me expressar
em linguagem filosófica, todas as nossas ideias ou percepções mais fracas são
cópias de nossas impressões ou percepções mais vivas.
David Hume, Investigação sobre o Entendimento Humano
Conteúdos do Pensamento
•
Os conteúdos da mente são as impressões e as ideias.
•
As impressões
correspondem aos dados da experiência, referem-se às nossas sensações externas e
aos nossos sentimentos.
•
As ideias
são as representações ou imagens debilitadas, enfraquecidas, das impressões.
•
A diferença entre as impressões e as ideias é de
grau e não de natureza; as ideias são cópias das impressões sensíveis.
•
Para Hume não há ideias inatas
segunda-feira, 11 de março de 2013
A teoria utilitarista de Stuart Mill
"Assim, entre a felicidade pessoal e a felicidade dos outros, o Utilitarismo exige que o indivíduo que seja tão rigoroso e imparcial como um espectador desinteressado e de boa fé (...) fazer o que desejaríamos que nos fizessem, amar e respeitar o próximo como a nós mesmos, é isto que constitui a perfeição ideal da moral utilitarista."
Stuart Mill, O Utilitarismo
A ética utilitarista de Stuart Mill é uma forma de consequencialismo.
As éticas consequencialistas consideram que as ações são moralmente corretas ou moralmente incorretas consoante as suas consequências. A ação deve escolher-se tendo em consideração as melhores consequências.
Para a teoria utilitarista de Stuart Mill, a felicidade é a finalidade última das ações humanas.
O critério de moralidade é o princípio de utilidade: as ações são moralmente corretas se promoverem a felicidade ou o bem estar para o maior número de pessoas envolvidas.
Ao escolher uma ação deve ponderar-se as suas consequências de felicidade ou bem estar das pessoas afectadas. A felicidade é perspectivada de uma forma imparcial para todos os envolvidos (na escolha entre a felicidade do agente e a felicidade geral.
domingo, 10 de março de 2013
Imperativo categórico
Como muitos outros filósofos, Kant pensava que a
moralidade pode resumir-se num princípio fundamental, a partir do qual se
derivam todos os nossos deveres e obrigações. Chamou a este princípio
«imperativo categórico». Na Fundamentação da Metafísica dos Costumes (1785)
exprimiu-o desta forma:
Age apenas segundo aquela máxima que possas ao mesmo tempo desejar que se torne
lei universal.
No entanto, Kant deu igualmente outra formulação do imperativo categórico. Mais
adiante, na mesma obra, afirmou que se pode considerar que o princípio moral
essencial afirma o seguinte:
Age de tal forma que trates a humanidade, na tua pessoa ou na pessoa de outrem,
sempre como um fim e nunca apenas como um meio.
Os estudiosos têm-se perguntado desde então por que razão pensava Kant que
estas duas regras são equivalentes. Parecem exprimir conceções morais
diferentes. Serão, como Kant pensava aparentemente, duas versões da mesma ideia
básica, ou são simplesmente ideias diferentes? Não nos vamos deter nesta questão.
Vamos, em vez disso, concentrar-nos na crença de Kant de que a moralidade exige
que tratemos as pessoas «sempre como um fim e nunca apenas como um meio». O que
significa exatamente isto, e que razão há para pensar que é verdade?
Quando Kant afirmou que o valor dos seres humanos «está acima de qualquer
preço» não tinha em mente apenas um efeito retórico, mas sim um juízo objetivo
sobre o lugar dos seres humanos na ordem das coisas. Há dois factos importantes
sobre as pessoas que apoiam, do seu ponto de vista, este juízo.
Primeiro, uma vez que as pessoas têm desejos e objetivos, as outras coisas têm
valor para elas em relação aos seus projetos. As meras «coisas» (e isto inclui
os animais que não são humanos, considerados por Kant incapazes de desejos e objetivos
conscientes) têm valor apenas como meios para fins, sendo os fins humanos que
lhes dão valor. Assim, se quisermos tornar-nos melhores jogadores de xadrez, um
manual de xadrez terá valor para nós; mas para lá de tais objetivos o livro não
tem valor. Ou, se quisermos viajar, um carro terá valor para nós; mas além de
tal desejo o carro não tem valor.
Segundo, e ainda mais importante, os seres humanos têm «um valor intrínseco,
isto é, dignidade», porque são agentes racionais, ou seja, agentes livres com
capacidade para tomar as suas próprias decisões, estabelecer os seus próprios objetivos
e guiar a sua conduta pela razão. Uma vez que a lei moral é a lei da razão, os
seres racionais são a encarnação da lei moral em si. A única forma de a bondade
moral poder existir é as criaturas racionais apreenderem o que devem fazer e,
agindo a partir de um sentido de dever, fazê-lo. Isto, pensava Kant, é a única
coisa com «valor moral». Assim, se não existissem seres racionais a dimensão
moral do mundo simplesmente desapareceria.
Não faz sentido, portanto, encarar os seres racionais apenas como um tipo de
coisa valiosa entre outras. Eles são os seres para quem as meras «coisa» têm
valor, e são os seres cujas ações conscientes têm valor moral. Kant conclui,
pois, que o seu valor tem de ser absoluto, e não comparável com o valor de
qualquer outra coisa.
Se o seu valor está «acima de qualquer preço», segue-se que os seres racionais
têm de ser tratados «sempre como um fim e nunca apenas como um meio». Isto
significa, a um nível muito superficial, que temos o dever estrito de
beneficência relativamente às outras pessoas: temos de lutar para promover o
seu bem-estar; temos de respeitar os seus direitos, evitar fazer-lhes mal, e,
em geral, «empenhar-nos, tanto quanto possível, em promover a realização dos
fins dos outros».
Mas a ideia de Kant tem também uma implicação um tanto ou quanto mais profunda.
Os seres de que estamos a falar são racionais, e «tratá-los como fins em si»
significa respeitar a sua racionalidade. Assim, nunca podemos manipular as
pessoas, ou usá-las, para alcançar os nossos objectivos, por melhores que esses
objectivos possam ser. Kant dá o seguinte exemplo, semelhante a outro que
utiliza para ilustrar a primeira versão do seu imperativo categórico: suponha
que precisa de dinheiro e quer um empréstimo, mas sabe que não será capaz de
devolvê-lo. Em desespero, pondera fazer uma falsa promessa de pagamento de
maneira a levar um amigo a emprestar-lhe o dinheiro. Poderá fazer isso? Talvez
precise do dinheiro para um propósito meritório — tão bom, na verdade, que
poderia convencer-se a si mesmo de que a mentira seria justificada. No entanto,
se mentisse ao seu amigo, estaria apenas a manipulá-lo e a usá-lo «como um
meio».
Por outro lado, como seria tratar o seu amigo «como um fim»? Suponha que dizia
a verdade, que precisava do dinheiro para um certo objetivo mas não seria capaz
de devolvê-lo. O seu amigo poderia, então, tomar uma decisão sobre o
empréstimo. Poderia exercer os seus próprios poderes racionais, consultar os
seus próprios valores e desejos, e fazer uma escolha livre e autónoma. Se
decidisse de facto emprestar o dinheiro para o objetivo declarado, estaria a
escolher fazer seu esse objetivo. Dessa forma, o leitor não estaria a usá-lo
como um meio para alcançar o seu objetivo, pois seria agora igualmente o objetivo
dele. É isto que Kant queria dizer quando afirmou que «os seres racionais […]
têm sempre de ser estimados simultaneamente como fins, isto é, somente como
seres que têm de poder conter em si a finalidade da ação».
A conceção kantiana da dignidade humana não é fácil de entender; é
provavelmente a noção mais difícil discutida neste livro. Precisamos de
encontrar uma forma de tornar a ideia mais clara. Para isso, analisaremos com
algum detalhe uma das suas aplicações mais importantes. Isto pode ser bem
melhor do que uma discussão teórica árida. Kant pensava que se tomarmos a sério
a ideia da dignidade humana seremos capazes de entender a prática da punição de
crimes de uma forma nova e reveladora. O resto deste capítulo será dedicado a
um exame deste exemplo.
A Fórmula da Lei Universal “Age apenas segundo uma máxima tal que
possas querer ao mesmo tempo que se torne lei universal”
Esta fórmula do imperativo
categórico serve para testar a correção moral das nossas máximas; se a máxima
da nossa ação se pode tornar uma norma moral universal.
A Fórmula da Humanidade “Age de tal maneira que uses a humanidade,
tanto na tua pessoa como na pessoa de outrem, sempre e simultaneamente como fim
e nunca apenas como meio”
Os seres humanos racionais têm um
valor intrínseco absoluto, incondicional e devem, por isso, ser tomados como
fins em si (pessoas) e nunca como simples meio.
Respeitar as pessoas significa trata-las
como fins em si e nunca como como meros instrumentos que nos sirvam para
atingir os nossos objectivos.
Tratar alguém como meio não é
moralmente incorreto desde que respeitemos a sua vontade (estamos
simultaneamente a trata-la como fim não como mero meio).
- Em que medida se relacionam as duas fórmulas do imperativo categórico?
- Qual a diferença entre tratar alguém como meio e mero meio?
O imperativo categórico da ética deontológica de Kant
- Em que medida se relacionam as duas fórmulas do imperativo categórico?
- Qual a diferença entre tratar alguém como meio e mero meio?
A FÓRMULA DA LEI UNIVERSAL
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“Age apenas segundo uma máxima tal que possas querer ao mesmo tempo que
se torne lei universal”
Uma ação é moralmente correta se a sua máxima (regra de ação que nos
indica o motivo por que fazemos algo) puder ser universalizada, se se pode
tornar um princípio universal de ação
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A FÓRMULA DA
HUMANIDADE
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–“Age de tal maneira que uses a
humanidade, tanto na tua pessoa como na pessoa de outrem, sempre e
simultaneamente como fim e nunca apenas como meio”
Cada ser humano é um fim em si e nunca um simples meio (é moralmente
errado instrumentalizar os outros usando-os como meros meios para atingir um
objectivo)
Os seres humanos, enquanto seres racionais, têm valor intrínseco
absoluto (dignidade)
Nenhum ser humano vale mais do que outro (pela condição de ser
racional)
Esta fórmula não proíbe as pessoas de serem meios umas para as outras,
desde que sejam tratadas com respeito
e não apenas como meios, ou
tratadas como instrumentos ou objectos.
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Imperativo categórico e imperativo hipotético
Objeções à ética deontológica de Kant
“Todos os imperativos ordenam ou hipotética ou categoricamente. Os hipotéticos representam a necessidade prática de uma ação possível como meio de alcançar qualquer coisa que se quer ou que é possível que se queira. O imperativo categórico é aquele que nos representa uma ação como ojetivamente necessária por si mesma, sem relação com qualquer outra finalidade. No caso da ação ser apenas boa como meio para qualquer outra coisa, o imperativo que ordena é hipotético; se a ação é boa em si, então o imperativo é categórico”
Kant, Fundamentação da Metafísica dos Costumes
- Distinga imperativo categórico de imperativo hipotético.
- Apresente um exemplo de imperativo categórico e de imperativo hipotético.
Imperativo Categórico
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Imperativo Hipotético
|
- Ordena que uma ação seja realizada
pelo seu valor intrínseco.
- Ordena que se cumpra o dever sempre
por dever, ou seja, ordena que a vontade cumpra o dever exclusivamente
motivada pelo que é correcto fazer.
- Ordena que se aja por dever.
- Ordena que sejamos imparciais e
desinteressados, agindo segundo máximas que todos podem adotar.
- Ordena que respeitemos o valor
absoluto de cada ser racional nunca o reduzindo à condição de meio que nos é
útil.
|
-
O cumprimento do dever é uma ordem condicionada pelo que de
satisfatório ou proveitoso pode resultar do seu cumprimento.
-
As ações que nele se baseiam são ações conformes ao dever, feitas a
pensar nas consequências ou resultados de fazer o que é devido.
-
As ações que cumprem o dever baseadas em interesses seguem máximas que
não podem ser universalizadas.
-
As ações conformes ao dever não respeitam absolutamente o que somos
enquanto seres humanos
|
10º B
11ºA (revisão para o teste intermédio)
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