É na
verdade conforme ao dever que o merceeiro não suba os preços ao comprador
inexperiente, e, quando o movimento do negócio é grande, o comerciante
esperto não faça semelhante coisa, mas mantenha um preço fixo geral para toda
a gente, de forma que uma criança pode comprar em sua casa tão bem como
qualquer outra pessoa.
É-se, pois, servido honradamente; mas isso ainda não é bastante
para acreditar que o comerciante tenha assim procedido por dever e princípios
de honradez; o seu interesse assim o exigia; mas não é de aceitar que ele,
além disso, tenha tido uma inclinação imediata para os seus fregueses, de
maneira a não fazer, por amor deles, preço mais vantajoso a um do que a
outro. A ação não foi, portanto, praticada por dever (…), mas somente com
intenção egoísta.
Pelo
contrário, conservar cada qual a sua vida é um dever, e é além disso uma
coisa para que toda a gente tem inclinação imediata. Mas por isso mesmo é que
o cuidado, por vezes ansioso, que a maioria dos homens lhe dedica não tem
nenhum valor intrínseco e a máxima que o exprime nenhum conteúdo moral. Os
homens conservam a sua vida, conforme ao dever, sem dúvida,
mas não por dever. Em contraposição, quando as contrariedades e o
desgosto sem esperança roubaram totalmente o gosto de viver; quando o
infeliz, com fortaleza de alma, deseja a morte e conserva contudo a vida sem
a amar, não por inclinação ou medo, mas por dever, então a sua máxima
tem um conteúdo moral.”
Kant, Fundamentação da
metafísica dos Costumes
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