quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

O hedonismo qualitativo de Mill


Matisse



                     Texto: O hedonismo qualitativo de Mill



 Se me perguntarem o que entendo pela natureza qualitativa dos prazeres, ou por aquilo que torna um prazer mais valioso que outro, simplesmente enquanto prazer e não por ser maior em quantidade, só há uma resposta possível. De dois prazeres, se houver um ao qual todos ou quase todos aqueles que tiveram a experiência de ambos darem uma preferência decidida, independentemente de sentirem qualquer obrigação moral para o preferis, então será esse o prazer mais desejável. (…)
Ora, é um facto inquestionável que aqueles que estão igualmente familiarizados com ambos, e que são igualmente capazes de os apreciar e de se deleitar com eles, dão uma preferência muitíssimo marcada ao modo de existência que emprega as suas faculdades superiores. Poucas criaturas humanas consentiriam em ser transformadas em qualquer dos animais inferiores perante a promessa de plena fruição dos prazeres de uma besta, nenhum ser humano inteligente consentiria tornar-se tolo, nenhuma pessoa instruída se tornaria ignorante, nenhuma pessoa de sentimento e consciência se tornaria egoísta e vil, mesmo que a persuadissem de que o tolo, o asno e o velhaco estão mais satisfeitos com a sua sorte do que ela com a sua (…) Quem supõe que esta preferência implica um sacrifício da felicidade – que, em igualdade de circunstâncias, o ser superior não é mais feliz do que o inferior – confunde as ideias muito diferentes de felicidade e de contentamento. (...) É melhor ser um ser humano insatisfeito do que um porco satisfeito; é melhor ser Sócrates insatisfeito do que um tolo satisfeito. E se o tolo ou o porco têm uma opinião diferente é porque só conhecem o seu próprio lado da questão. A outra parte da comparação conhece ambos os lados.
                                                                       Stuart Mill, Utilitarismo

                 Questões:

                   1. Distinga o hedonismo qualitativo de Mill do hedonismo quantitativo de Bentham.
                   2. O que são, segundo Mill, prazeres superiores e inferiores?
                  3. Como sabemos que os prazeres intelectuais são superiores aos prazeres de comer e                                                    dormir?


            A objeção ao hedonismo: a máquina de experiências


Esta objeção foi formulada pelo filósofo Robert Nozick. Imagina que tens à tua disposição um computador capaz de te fornecer todas as experiências que mais desejas. Passarás a ser uma pessoa absolutamente feliz e não alguém que ora sente alegria e entusiasmo pela vida, ora tristeza e tédio. A tua felicidade não terá interrupções. Mas tens de escolher entre ligar-te à máquina de experiências ou prosseguir a vida que já tens. Lembra-te que, se o fizeres, poderás viver a ilusão de seres, por exemplo, um ídolo pop, um revolucionário que transforma o mundo num lugar perfeito ou até um jogador de futebol milionário, informado e com gosto. Qual é a tua escolha?
Se o utilitarismo de Mill for verdadeiro, a escolha certa é estabelecer a ligação à máquina. Mas muito provavelmente não vais ser capaz de esquecer o valor que tem o facto de viveres uma vida real e dar o salto para a doce ilusão. Parece claro que fazer certas coisas tem valor para além do sentimento de felicidade que produz em ti. Não queres perder a autonomia e a realidade de fazer as coisas. Isto é eticamente crucial e está acima da felicidade.
                                       Faustino Vaz, A máquina de experiências in crítica
               
                Questões:
                1. O que mostra a objeção da máquina de experiências?



Jeremy Bentham

Hedonismo quantitativo

O valor intrínseco de um prazer depende apenas da sua duração e intensidade




Stuart Mill

Hedonismo qualitativo

O valor intrínseco de um prazer depende da sua qualidade




Hedonismo quantitativo
(Jeremy Bentham)
Hedonismo qualitativo
(Stuart Mill)


O valor intrínseco de um prazer depende apenas da sua duração e intensidade

O valor intrínseco de um prazer depende sobretudo da sua qualidade.

Distinção entre prazeres inferiores (comuns aos animais) e prazeres superiores, (resultantes das capacidades intelectuais)



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