quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Porquê estudar filosofia?



Porquê estudar filosofia
Defende-se por vezes que não vale a pena estudar filosofia uma vez que tudo o que os filósofos fazem é discutir sofisticamente o significado das palavras; nunca parecem atingir quaisquer conclusões de qualquer importância e a sua contribuição para a sociedade é virtualmente nula. Continuam a discutir acerca dos mesmos problemas que cativaram a atenção dos gregos. Parece que a filosofia não muda nada; a filosofia deixa tudo tal e qual.
Qual é afinal a importância de estudar filosofia? Começar a questionar as bases fundamentais da nossa vida pode até ser perigoso: podemos acabar por nos sentir incapazes de fazer o que quer que seja, paralisados por fazer demasiadas perguntas. Na verdade, a caricatura do filósofo é geralmente a de alguém que é brilhante a lidar com pensamentos altamente abstractos no conforto de um sofá, numa sala de Oxford ou Cambridge, mas incapaz de lidar com as coisas práticas da vida: alguém que consegue explicar as mais complicadas passagens da filosofia de Hegel, mas que não consegue cozer um ovo.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

O que é a filosofia?




A filosofia é uma atividade: é uma forma de pensar acerca de certas questões. A sua característica mais marcante é o uso de argumentos lógicos. A atividade dos filósofos é, tipicamente, argumentativa: ou inventam argumentos, ou criticam os argumentos de outras pessoas ou fazem as duas coisas. Os filósofos também analisam e clarificam conceitos. A palavra «filosofia» é muitas vezes usada num sentido muito mais lato do que este, para referir uma perspetiva geral da vida ou para referir algumas formas de misticismo. Não irei usar a palavra neste sentido lato: o meu objectivo é lançar alguma luz sobre algumas das áreas centrais de discussão da tradição que começou com os gregos antigos e que tem prosperado no século XX, sobretudo na Europa e na América.

Waking Life





Filme: Acordar para a Vida

Título original: Waking Life
Realizador: Richard Linklater
Argumento: Richard Linklater
Ano: 2001
Duração: 99 minutos

À procura de respostas para algumas perguntas filosóficas

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

António Ramos Rosa




António Ramos Rosa, 17/10/1924 - 23/09/2013

Nada sabemos de quase tudo. A vastidão
é inapreensível. A simultaneidade
é inapreensível. A disparidade
é inapreensível. E há um mutismo
no mundo e em nós que não se quebra nunca.

domingo, 22 de setembro de 2013

O sono da razão produz monstros




Uma das séries de sátiras gravadas pelo pintor espanhol Goya tem por título “O Sono da Razão Produz Monstros”. Goya pensava que muitas das loucuras da humanidade resultavam do “sono da razão”. Há sempre pessoas prontas a dizer-nos o que queremos, a explicar-nos como nos vão dar essas coisas e a mostrar-nos no que devemos acreditar. As convicções são contagiosas, e é possível convencer as pessoas de praticamente tudo. Geralmente, estamos dispostos a pensar que os nossos hábitos, as nossas convicções, a nossa religião e os nossos políticos são melhores do que os deles, ou que os nossos direitos dados por Deus anulam os direitos deles, ou que os nossos interesses exigem ataques defensivos ou dissuasivos contra eles. Em última análise, trata-se de ideias que fazem as pessoas matarem-se umas às outras. É por causa de ideias sobre o que os outros são, ou quem somos, ou o que os nossos interesses ou direitos exigem que fazemos guerras ou oprimimos os outros de consciência tranquila, ou até aceitamos por vezes ser oprimidos. Quando estas convicções implicam o sono da razão, o despertar crítico é o antídoto. A reflexão permite-nos recuar, ver que talvez a nossa perspectiva sobre uma dada situação esteja distorcida ou seja cega, ou pelo menos ver se há argumentos a favor dos nossos hábitos, ou se é tudo meramente subjetivo. Fazer isto bem é pôr em prática mais alguma engenharia conceptual.


Sócrates



Ménone - Eu tinha já ouvido dizer, Sócrates, antes de conversar contigo, que só sabias duvidar de tudo, e fazer duvidar os outros; e agora verifico que me fascinas o espírito com os teus sortilégios e malefícios, e me enfeitiçaste de tal modo que estou cheio de dúvidas. Se me permites o gracejo, dir-te-ei que te assemelhas à tremelga, que deixa, como que entorpecido, quem lhe toca (…)

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Validade: o que se segue do quê?


Mondrian

A maioria das pessoas gosta de pensar que é lógica. Dizer a alguém "Não estás a ser lógico" é uma normalmente uma forma de crítica. Ser ilógico é ser confuso, desordenado, irracional. Mas o que é a lógica? (…) Todos nós raciocinamos. Tentamos descobrir como as coisas são raciocinando com base naquilo que já sabemos. Tentamos persuadir os outros de que algo é de determinada maneira dando-lhes razões. A lógica é o estudo do que conta como uma boa razão para o quê, e porquê. Temos no entanto de compreender esta afirmação de um certo modo. Aqui estão dois trechos de raciocínio — os lógicos chamam-lhes inferências:

1.  Roma é a capital da Itália, e este avião aterra em Roma; logo, o avião aterra na Itália.
2.   Moscovo é a capital dos EUA; logo, não podemos ir a Moscovo sem ir aos EUA.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

O que é a Filosofia?





A filosofia é diferente da ciência e da matemática. Ao contrário da ciência, não assenta em experimentações nem na observação, mas apenas no pensamento. E ao contrário da matemática não tem métodos formais de prova. A filosofia faz-se colocando questões, argumentando, ensaiando ideias e pensando em argumentos possíveis contra elas, e procurando saber como funcionam realmente os nossos conceitos.

Lógica




As partes relevantes de um argumento são, em primeiro lugar as suas premissas. As premissas são o ponto de partida, ou o que se aceita ou presume, no que respeita ao argumento. Um argumento pode ter uma ou várias premissas. A partir das premissas, os argumentos derivam uma conclusão. Se estamos a refletir sobre um argumento, talvez por termos relutância em aceitar a sua conclusão, temos duas opções. Em primeiro lugar, podemos rejeitar uma ou mais das suas premissas. Em segundo lugar, podemos também rejeitar o modo como a conclusão é extraída das premissas. A primeira reação é que uma das premissas não é verdadeira. A segunda é que o raciocínio não é válido. É claro que o mesmo argumento pode estar sujeito a ambas as críticas: as premissas não são verdadeiras e o raciocínio aplicado é inválido. Mas as duas críticas são distintas ( e as duas expressões, «não é verdadeira» e «não é válido» marcam bem a diferença.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Lógica



LÓGICA FORMAL

O estudo da argumentação válida que depende exclusivamente da forma lógica. Por exemplo, a validade do seguinte argumento depende inteiramente da sua forma lógica: "Alguns homens são mortais; logo, alguns mortais são homens". A forma lógica deste argumento é a seguinte: Alguns A são B; logo, alguns B são A. Não é difícil ver que qualquer argumento que tenha esta forma lógica é válido. Não se deve pensar que só a LÓGICA CLÁSSICA é formal; a LÓGICA ARISTOTÉLICA é igualmente formal, apesar de em geral se usar menos símbolos. Os argumentos cuja validade não depende inteiramente da sua forma lógica são o objecto de estudo da LÓGICA INFORMAL

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Perguntas da Filosofia


Eis algumas perguntas que qualquer um de nós pode fazer sobre nós próprios: O que sou eu? O que é a consciência? Será que eu poderia sobreviver à morte do meu corpo? Será que posso ter a certeza de que as experiências e sensações das outras pessoas são como as minhas? Se eu não posso partilhar as experiências das outras pessoas, será que posso comunicar com elas? Será que agimos sempre em função do nosso interesse próprio? Será que sou apenas uma espécie de fantoche, programado para fazer as coisas que penso fazer em função do meu livre-arbítrio?


segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Bem Vindos à Filosofia




Bem vindo à Filosofia. Para alguns de vocês, será a disciplina mais prática que irão estudar na escola.
Porquê dizer tal coisa? Não tem a filosofia a reputação de não ser prática? Não é abstrata e teórica – precisamente o oposto de prático?

A filosofia pode ser abstrata e teórica. Mas o estudo da filosofia pode ser prático, na medida em que afeta o que fazemos com a nossa vida. Isto porque as abstrações ou teorias dizem respeito aos conceitos e valores básicos com os quais enfrentamos a experiência.

domingo, 15 de setembro de 2013

Atividades diagnósticas




Supõe que trabalhas numa biblioteca, verificando os livros que as pessoas requisitam, e um amigo te pede para o deixares roubar uma obra de referência difícil de encontrar que quer possuir.
Podes hesitar em concordar por diversas razões. Podes recear que ele seja apanhado e que, assim, tanto ele como tu arranjem problemas. Ou podes querer que o livro fique na biblioteca para que tu próprio possas consultá-lo.
Mas também podes pensar que aquilo que ele propõe está errado – que ele não deve fazê-lo e que tu não deves ajudá-lo. Se pensas assim, o que quer isso dizer, o que torna isso verdadeiro, se é que há algo que o torne verdadeiro? 

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Os animais têm direitos?



O que significa perguntar se os animais têm direitos? Quais as principais perspetivas sobre esta questão? Clica na imagem.

sábado, 10 de agosto de 2013

Sob o Signo de Amadeo




Para te informares, clica aqui

A comemorar os 30 anos da abertura do Centro de Arte Moderna, está aberta ao público, de 25 de Julho a 19 de Janeiro de 2014, uma exposição que apresenta a totalidade do acervo de Amadeo de Souza-Cardoso (1887-1918).


quinta-feira, 8 de agosto de 2013

A entrada das mulheres na filosofia do séc. XX



Momentos antes de morrer, Sócrates despede-se dos amigos, dos filhos e da família. O relato tocante que Platão nos deixa no Fédon é por demais conhecido. No entanto, há nele uma breve referência que passa despercebida à maior parte dos leitores: a ordem dada pelo filósofo para que as mulheres se retirem. Ausentes em todo o diálogo preparatório da morte, são mandadas sair quando esta vai concretamente ocorrer, como se só os discípulos, homens todos eles, pudessem assistir ao suicídio forçado do filósofo, do mesmo modo que só eles acompanharam as suas diatribes oratórias na cidade.

Fotografia e pintura


Willy Ronis, O Nu Provençal, 1949

A fotografia e a pintura sempre tiveram destinos paralelos, conflituosos e complementares.
Muitas vezes, os primeiros fotógrafos são pintores reconvertidos, que manterão na sua prática os ensinamentos estéticos que receberam.

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Para começar, a morte





Lembro-me muito bem da primeira vez que percebi de verdade que mais cedo ou mais tarde tinha de morrer. Devia andar pelos dez anos, talvez nove, eram quase onze horas de uma noite qualquer e já estava deitado. Os meus irmãos, que dormiam comigo no mesmo quarto, ressonavam agradavelmente. No quarto ao lado, meus pais conversavam em voz baixa enquanto se despiam e minha mãe tinha posto o rádio que deixava a tocar até tarde, para evitar os meus terrores nocturnos. De repente sentei-me na cama às escuras: eu também ia morrer! Era o que me tocava, o que irremediavelmente me calhava!, não havia escapatória! Não só teria que suportar a morte das minhas duas avós e do meu querido avô, bem como dos meus pais, como também eu, eu próprio, não teria outro remédio senão morrer. Que coisa tão estranha e terrível, tão perigosa, tão incompreensível, mas sobretudo, que coisa tão irremediavelmente pessoal!

domingo, 4 de agosto de 2013

Quais serão as tarefas atuais da ética?





Quais serão as tarefas atuais da ética? Há tarefas inéditas, sem dúvida, que se referem à resolução de problemas diferentes dos tradicionais ou ao controlo de possibilidades de ambíguo alcance e que se não conheciam antes. As ameaças ao meio ambiente, por exemplo, o uso de técnicas cirúrgicas, ou genéticas que podem favorecer perversas instrumentalizações da nossa corporalidade. Nestes campos, é urgente não dar nada como fatalmente irremediável e manter um aberto debate crítico em que muitas são as vozes que devem, sem dúvida, ser escutadas. Como nem tudo o que pode tecnicamente ser feito deve ser irremediavelmente feito, seria bom colaborar o mais possível na reinvenção dessa virtude aristotélica que se adequa à natureza trágica da peripécia humana: a prudência.
E talvez também a solicitude para com os outros, esse aspeto distintivo da atividade moral feminina que estudiosas como Carol Gillogan opõem à rígida e por vezes impiedosa frialdade do imperativo categórico.

sábado, 3 de agosto de 2013

É possível a ética?



É possível a ética? Se a entendemos como arte de viver, como projecto racional para harmonizar as exigências sociais da liberdade, como consciência de uma autonomia responsável, como reflexão crítica dos valores institucionalizados, negar a possibilidade da ética equivaleria a negar-nos a nós próprios como sujeitos não já civis mas civilizados. O preço pela demissão moral baseada em supostos argumentos históricos, científicos ou políticos – é a consagração desesperada do pior dos niilismos: das suas consequências, tanto individuais como colectivas já tivemos, neste século, os mais arrepiantes exemplos.

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Viveremos tempos especialmente inóspitos para a ética?


Picasso, Guernica

Os que o afirmam baseiam-se num estudo superficial da fisionomia do século que está a acabar: duas terríveis guerras de alcance mundial com milhões de vítimas, secundadas por centenas de conflitos menores, mais localizados mas não menos destrutivos; a concretização de totalitarismos ideológicos que justificaram com inumana eficácia o extermínio de camadas sociais da população civil e mesmo de etnias inteiras; também se patentearam os campos de concentração, armas de destruição maciça com um alcance nunca antes sonhado na bem nutrida história da criminalidade política; apesar do desenvolvimento industrial e tecnológico, um terço da população mundial padece de fome, em muitos países latino-americanos é tristemente comum o abandono e assassínio de crianças, e inclusive nas nações mais desenvolvidas há grandes bolsas de miséria urbana e as agressões ao nosso meio ecológico fazem recear graves perigos para a vida humana no futuro próximo; se a tudo isto se acrescentaria os frequentes casos de corrupção política e económica que envilecem as democracias, a barbárie dos confrontos nacionalistas ou das perseguições xenófobas, etc., é inevitável concluir que o século XX, como assegura o famoso tango, “é um prodígio de maldade insolente” e que nele as invocações éticas parecem tão pouco adequadas como as gargalhadas num funeral.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Arte e religião






A arte e a religião são dois caminhos pelos quais o homem escapa das circunstâncias para o êxtase. Entre o arrebatamento estético e o arrebatamento religioso há um laço familiar. Arte e religião são meios para estados de espírito semelhantes. E, se estivermos autorizados a por de lado a ciência e a estética e, seguindo as nossas emoções e o seu objeto, considerarmos o que está na mente do artista, podemos dizer, com um certo à vontade, que a arte é uma manifestação do sentido religioso. Se for a expressão de uma emoção, como sou levado a pensar, é a expressão de uma emoção que é a força vital presente em todas as religiões; ou, pelo menos, expressão de uma emoção sentida por aquilo que é a essência de tudo. Podemos dizer que tanto a arte como a religião são manifestações do sentido religioso do homem, se por “sentido religioso do homem” entendermos a sua noção de realidade última. O que não podemos dizer é que a arte é a expressão de qualquer religião particular; fazê-lo seria confundir o espírito religioso com os canais através dos quais flui; seria confundir o vinho com a garrafa. A arte pode ter muito a ver com aquela emoção universal que encontrou uma expressão corrupta e vacilante em mil credos diferentes mas não tem nada a ver com factos históricos ou enfeites metafísicos. Certamente que muitas pinturas descritivas são manifestos e exibições dessa natureza. (…) Mas, se uma pintura é uma obra de arte, tem tanto a ver com dogmas e doutrinas como tem a ver com os interesses e emoções da vida quotidiana.
                                                                                                 Clive Bell, Arte


terça-feira, 16 de julho de 2013

sábado, 6 de julho de 2013

O Crítico como Artista



Van Gogh


ERNEST A mais alta crítica é então mais criativa que a criação, e o fim principal do crítico é ver o objeto em si como na realidade não é; parece-me ser esta a tua teoria.

Partie d’échecs


Vieira da Silva, Partie d'échecs

Para quem gosta de se interrogar sobre a arte, a Partie d’échecs adquire valor exemplar.
Primeiro o quadro fascina-nos, no sentido em que o nosso olhar é irresistivelmente atraído pelo tabuleiro em si, mesmo ao meio, real e exato. Mas mal mergulhamos nele que, do centro da sua teia, a feiticeira nos retem num universo que lhe é próprio. A partir do tabuleiro, com minuciosas construções, ou como temas que, em música, prosseguissem incansavelmente a mesma toada, os quadrados escapam, devoram os personagens entrevistos, cobrem infinitamente todo o horizonte.

sábado, 29 de junho de 2013

Podem as emoções funcionar cognitivamente na interpretação da obra de arte?


Degas, Waiting


Num lado colocamos a sensação, perceção, inferência, conjetura, toda a inspeção e investigação fria, facto e verdade; no outro prazer, dor, interesse, satisfação, desapontamento, toda a resposta afetiva tonta, gostar e detestar. De uma forma muitíssimo eficiente, isto impede-nos de ver que na nossa experiencia estética as emoções funcionam cognitivamente.

sexta-feira, 28 de junho de 2013

quarta-feira, 26 de junho de 2013

O Belo, A Moda e a Felicidade




Esta é na verdade uma bela ocasião para estabelecer uma teoria racional e histórica do belo, em oposição à teoria do belo único e absoluto; para mostrar que o belo é sempre, inevitavelmente, de dupla composição, se bem que a impressão que produz seja una; porque a dificuldade de discernir os elementos variáveis do belo na unidade da impressão em nada infirma a necessidade da variedade na sua composição. 

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Exame Nacional de Filosofia - 2013 (1ª Fase)


Exame Nacional de Filosofia - 2013 

1ª FASE

VERSÃO 1 - aqui

VERSÃO 2 - aqui

Critérios de correção - aqui


Um bom exame, equilibrado quanto à relevância dos conteúdos selecionados, às competências a testar e ao grau de dificuldade das questões. Acessível a qualquer aluno que se tenha preparado.  

sexta-feira, 14 de junho de 2013

"A cadeira amarela" de Van Gogh





No chão de tijoleira rústica,
rusticamente empalhada, e amarela sobre
a tijoleira recozida e gasta.
No assento da cadeira, um pouco de tabaco num papel
ou num lenço (tabaco ou não?) e um cachimbo,

Toda a arte é completamente inútil





O artista é o criador de coisas belas.
O objetivo da arte é revelar a arte e ocultar o artista.
O crítico é aquele que sabe traduzir de outro modo para um novo material a sua impressão das coisas belas. 

domingo, 9 de junho de 2013

A Vida imita a Arte muito mais do que a Arte imita a Vida




Um interessante excerto de um diálogo: O Declínio da Mentira, da obra Intenções: Quatro Ensaios sobre Arte de Oscar Wilde, com tradução de António M. Feijó



CYRIL (…) Mas a fim de evitar qualquer erro, quero que me digas, em poucas palavras, as doutrinas desta nova estética.

VIVIAN  Ei-las, então, em poucas palavras. A Arte não é expressão de nada a não ser de si mesma. Tem uma vida independente, tal como o Pensamento a tem, e desenvolve-se estritamente por caminhos próprios. Não é necessariamente realista numa época de realismo, nem espiritual numa época de fé. Longe de ser uma criação do seu tempo, está normalmente em oposição frontal a ele, e a única história que preserva para nós é a história da sua própria evolução. Por vezes, retrocede sobre si mesma (…). Noutras alturas, antecipa por completo a sua época, e produz num dado século oras que exigirão um outro século para serem percebidas, apreciadas e fruídas. (…)

sábado, 8 de junho de 2013

Será que há critérios ou princípios críticos universais?




A avaliação da arte

A questão da avaliação da arte diz respeito aos critérios usados pela crítica para classificar uma dada obra como boa ou má, magnífica ou vulgar, bonita ou feia, etc. Será que há critérios ou princípios críticos universais? Como se adivinha, aqueles que defendem que o valor da arte é instrumental, encontram aí o fundamento para um critério geral de avaliação. Por exemplo, quem defende o cognitivismo tem como critério geral de avaliação a maior ou menor capacidade de uma dada obra de arte para nos proporcionar conhecimento. Esta é uma perspetiva universalista.

O valor da arte




 O valor da Arte

Centrando-nos apenas no problema do valor da arte, é possível encontrar dois grupos de teorias: as instrumentalistas e as não instrumentalistas. As instrumentalistas defendem que a arte é valiosa por ser um meio para certos fins que consideramos importantes e valiosos. (…) As não instrumentalistas defendem que a arte tem valor autónomo, isto é, o seu valor intrínseco, dado ser independente de quaisquer fins.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

"50 Lições de Filosofia" e "Razões de Ser"





Coloquei os manuais “50 lições de Filosofia” e “Razões de Ser” em 1º e 2º lugar, respetivamente, na escolha do manual a adotar. Tive a oportunidade de os analisar comparativamente com outros (desta vez os manuais chegaram às escolas com tempo para uma análise cuidada) e de os utilizar/ experimentar em alguns temas com os alunos (em situação de lecionação e de revisão de temas/ problemas para preparação de exame), o que funcionou muito bem (sendo também esta a opinião dos alunos).

domingo, 2 de junho de 2013

domingo, 26 de maio de 2013

A arte como expressão


Viajante sobre um Mar de Névoa (1818), C.D. Friedrich

Sebenta de Filosofia ver aqui

A arte é uma atividade humana que consiste nisto: um homem comunica conscientemente a outros, por meio de certos sinais externos, os sentimentos de que teve experiência, e outras pessoas são contaminadas por estes sentimentos e também deles têm experiência.
                                                                                           Tolstoi, O que é a Arte?

quarta-feira, 22 de maio de 2013

O problema da definição da "obra de arte"


Veemeer, A Leiteira  (1688)

O que é a arte? Três teorias sobre um problema central da estética - Crítica

TEORIA DA ARTE COMO IMITAÇÃO

Esta é uma das mais antigas teorias da arte. Foi, aliás, durante muito tempo aceite pelos próprios artistas como inquestionável. A definição que constitui a sua tese central é a seguinte:

Uma obra é arte se, e só se, é produzida pelo homem e imita algo.

A característica própria desta teoria não reside no facto de defender que uma obra de arte tem de ser produzida pelo homem, o que é comum a outras teorias, mas na ideia de que para ser arte essa obra tem de imitar algo. Daí que seja conhecida como teoria da arte como imitação.

Vários foram os filósofos que se referiram à arte como imitação. Alguns desprezavam-na por isso mesmo, como acontecia com o conhecido filósofo grego Platão que, ao considerar que as obras de arte imitavam os objectos naturais, via essas obras como imagens imperfeitas dos seus originais. Ainda por cima quando, no seu ponto de vista, os próprios objectos naturais eram por sua vez cópias de outros seres mais perfeitos. Já o seu contemporâneo Aristóteles, mantendo embora a ideia de arte como imitação, tinha uma opinião mais favorável à arte, uma vez que os objectos que a arte imita não são, segundo ele, cópias de nada.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

O juízo estético em Kant



Naufrágio, Turner

"Esta tempestade no mar é sublime", não é uma opinião pessoal.



O primeiro lugar-comum do gosto está contido na proposição com a qual cada pessoa sem gosto pensa precaver-se contra a censura: cada urna tem o seu próprio gosto. Isto equivale dizer que o princípio determinante deste juízo é simplesmente subjectivo (deleite ou dor) e que o juízo não tem nenhum direito ao necessário assentimento dos outros. O Segundo lugar-comum do gosto, que também é usado até por aqueles que concedem ao juízo de gosto o direito de expressar-se validamente por qualquer um, é: não se pode disputar sobre o gosto. O que equivale dizer que o princípio determinante de um juízo de gosto na verdade pode ser também objectivo, mas que ele não se deixa conduzir a conceitos determinados; por conseguinte, nada pode ser decidido sobre o próprio juízo através de provas, conquanto se possa perfeitamente e com direito discutir a esse respeito. 

sexta-feira, 17 de maio de 2013

O Padrão do Gosto





O problema da justificação dos juízos estéticos - aqui


O sentimento está sempre certo – porque o sentimento não tem outro referente senão ele mesmo e é sempre real, quando alguém tem consciência dele. Mas nem todas as determinações do entendimento são certas, porque têm como referente algumas coisas para além delas mesmas, a saber, os factos reais e nem sempre são conformes a esse padrão. Entre mil e uma opiniões que pessoas diferentes podem ter a respeito do mesmo assunto, há uma e apenas uma que é justa e verdadeira e a única dificuldade é encontrá-la e confirmá-la. Pelo contrário, os mil e um sentimentos despertados pelo mesmo objecto são todos certos, porque nenhum sentimento representa o que realmente está no objeto. Ele limita-se a observar uma certa conformidade ou relação entre o objecto e os órgãos ou faculdades do espírito e, se essa conformidade realmente não existisse, o sentimento jamais poderia ter ocorrido. A beleza não é uma qualidade das próprias coisas, existe apenas no espírito que a contempla e cada espírito percebe uma beleza diferente. É possível até uma pessoa encontrar deformidade onde uma outra vê apenas beleza e qualquer indivíduo deve concordar com o seu próprio sentimento, sem ter a pretensão de regular o dos outros.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

A mistura de fatores objetivos e subjetivos na escolha das teorias




 (…) Mas devemos ir além da lista de critérios partilhados para as características dos indivíduos que fizeram a escolha. Quer dizer, há que lidar com características que variam de um cientista para outro sem com isso arriscar minimamente a sua aderência aos cânones que tornam científica a ciência. Embora tais cânones existam e devam ser descobertos (sem dúvida, os critérios de escolha com que comecei estão entre eles), não são por si suficientes para determinar as decisões dos cientistas individuais. Para esse propósito, os cânones partilhados devem estudar-se de maneiras que diferem de um indivíduo para outro.

Características de uma boa teoria científica



Começarei por perguntar: quais são as características de uma boa teoria científica? Entre muitas das respostas usuais, seleccionei cinco, não porque sejam exaustivas, mas porque são individualmente importantes e em conjunto suficientemente variadas para indicar o que está em jogo. Em primeiro lugar, uma teoria deve ser exacta: quer dizer, no seu domínio, as consequências deduzíveis de uma teoria devem estar em concordância demonstrada com os resultados das experimentações e observações existentes. Em segundo lugar, uma teoria deve ser consistente, não só internamente ou com ela própria, mas também com outras teorias correntemente aceites e aplicáveis a aspectos relacionados da natureza. Terceiro, deve ter um longo alcance: em particular, as consequências de uma teoria devem estender-se muito para além das observações, leis ou subteorias particulares, para as quais ela estava projectada em princípio. Quarto, e relacionado de perto com o anterior, deve ser simples, ordenando fenómenos que, sem ela, seriam individualmente isolados e, em conjunto, seriam confusos. Quinto - uma rubrica um tanto ou quanto menos padronizada, mas de especial importância para decisões científicas reais -, uma teoria deve ser fecunda quanto a novas descobertas de investigação: deve desvendar novos fenómenos ou relações anteriormente não verificadas entre fenómenos já conhecidos.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

A incomensurabilidade dos paradigmas



À semelhança da escolha entre instituições políticas rivais, a que se verifica entre paradigmas rivais revela ser uma escolha entre modos de vida comunitária incompatíveis. Devido a este caráter, a escolha não é, nem pode ser, determinada meramente pelos procedimentos de avaliação característicos da ciência normal, pois estes dependem, em parte, de um paradigma específico, e esse paradigma está em causa. Quando os paradigmas são incluídos, como devem, num debate de escolha entre paradigmas, o seu papel é necessariamente circular. Cada grupo utiliza o seu próprio paradigma para argumentar em defesa do próprio.
                                                                Kuhn, A Estrutura das Revoluções Científicas


domingo, 12 de maio de 2013

O desenvolvimento descontinuísta da ciência




A ciência normal, a atividade em que, inevitavelmente, a maioria dos cientistas consome quase todo o seu tempo, constitui-se na suposição de que a comunidade científica sabe como é o mundo. Grande parte do êxito da pesquisa deve-se ao facto da comunidade se encontrar disposta a defender essa suposição, mesmo que seja necessário pagar um preço elevado. A ciência normal, por exemplo, suprime frequentemente inovações fundamentais, devido a permanecerem demasiado subversivas relativamente às suas crenças habituais.

Ciência e verdade






A esta altura, percebe-se claramente a diferença entre verdade e corroboração. Apreciar um enunciado dando-o como corroborado, é também uma apreciação lógica e, portanto, intemporal; assevera que certa relação lógica está em vigor entre um sistema teorético e um sistema qualquer de enunciados básicos aceites. Entretanto, nunca podemos dizer que um enunciado, como tal, está por si mesmo “corroborado” (no sentido em que podemos dizer que é verdadeiro). Só podemos dizer que está corroborado com respeito a algum sistema de enunciados básicos – sistema aceite num determinado tempo. A corroboração que uma teoria recebeu ontem não é idêntica à corroboração que uma teoria recebeu hoje. (…)

segunda-feira, 6 de maio de 2013

A atitude estética - características





A atitude estética, ou a «forma estética de contemplar o mundo», é geralmente contraposta à atitude prática, na qual só interessa a utilidade do objecto em questão. O verdadeiro negociante de terrenos que contempla uma paisagem só a pensar no possível valor monetário do que vê não está a contemplar esteticamente a paisagem. Para a contemplar dessa maneira teria de «a observar por observar», sem qualquer outra intenção — teria de saborear a experiência de observar a própria paisagem, tomando atenção aos seus detalhes, em vez de utilizar o objecto observado como um meio para atingir um certo fim.
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