Filosofia da religião
Argumento cosmológico
Argumento teleológico ou do desígnio
Argumento ontológico
O problema do mal
O Fideísmo de Pascal
Questões de revisão
Texto 1: O que é a filosofia da religião?
A filosofia da religião tem como objetivo investigar por
processos estritamente racionais as crenças religiosas fundamentais, com o
fim de determinar o seu significado e de saber se são justificadas.
Embora sejam várias as crenças que interessam à filosofia
da religião, a mais importante é a crença na existência de Deus. A respeito
desta crença existem dois problemas principais:
Iremos falar destes dois problemas em seguida, embora a
nossa atenção se vá centrar no segundo. De modo geral, entende-se que uma
crença está justificada quando as provas a seu favor mostrem que essa crença
é verdadeira ou bastante provável. Um exemplo ajudará a perceber a ideia.
Imagine que um astrónomo comunica à comunidade científica que as suas
investigações o levam a pensar que existe um planeta, até então desconhecido,
entre Neptuno e Plutão. O astrónomo que faz esta afirmação pode ser muito
reputado, mas é óbvio que nenhum outro astrónomo a vai considerar verdadeira
a menos que ele a justifique. Os outros astrónomos vão querer saber que
provas tem ele a favor dela e só a considerarão verdadeira se essas provas
forem tais que mostrem que ela é verdadeira ou, pelo menos, bastante
provável. Em princípio, as provas que o astrónomo pode utilizar são de dois
tipos: argumentos e indícios empíricas. Neste caso, dado o conteúdo da
afirmação, mesmo que os argumentos fossem muito fortes seria pouco provável
que os astrónomos se contentassem apenas com argumentos. Eles só
considerariam a afirmação provada quando tivessem acesso a dados empíricos
favoráveis, por exemplo, imagens do planeta obtidas por telescópio.
A situação não é muito diferente em filosofia da religião.
Para que uma afirmação seja aceite ela tem de passar por um processo de
justificação semelhante. A diferença principal está em que a maior parte das
crenças religiosas não podem, ao contrário das afirmações sobre planetas, ser
justificadas por intermédio de indícios empíricas. Não é possível provar,
devido à própria natureza de Deus, por meios empíricos a Sua existência. É
por essa razão que a investigação dessa crença pertence à filosofia e não à
ciência. Para percebermos melhor isto temos de abordar a questão da definição
de Deus.
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Questões:
1- O que é a filosofia da religião?
2- Quais os problemas fundamentais da filosofia da religião?
3- Por que razão a investigação da crença da existência de Deus não pertence à ciência?
Texto 2: A definição de Deus.
O problema da definição ou da natureza de Deus é um
problema complexo e difícil. Por esse motivo, a nossa abordagem será
forçosamente breve. Contudo, podemos dizer que envolve duas questões
principais. Uma, a da definição propriamente dita, isto é, a questão de saber
que propriedades devem ser atribuídas a Deus; e outra, a de saber se essas
propriedades podem ser descritas de modo a serem combinadas numa definição
coerente de Deus.
A primeira questão deu origem a duas doutrinas
filosoficamente mais relevantes, o teísmo e o deísmo, que embora tenham
elementos em comum diferem em certos aspectos de forma importante. O teísmo é
a conceção da natureza de Deus segundo a qual Deus é um ser pessoal,
espiritual, imutável, omnipresente, criador do universo, transcendente (que
está fora do espaço e do tempo), omnipotente (que pode tudo), omnisciente
(que sabe tudo), sumamente bom e necessário. Os teístas admitem a revelação,
por intermédio, por exemplo, de um livro sagrado como a Bíblia ou o Corão, ou
de milagres e profecias, e pensam que Deus intervém no mundo, assegurando a
sua existência contínua. Os deístas, pelo contrário, recusam-se a aceitar
qualquer forma de revelação como fonte de conhecimento de Deus. Para eles, os
únicos conhecimentos legítimos da natureza de Deus são os que derivam de
processos racionais de investigação. O deísmo, tal como o teísmo, afirma que
existe um Deus pessoal e transcendente, que criou o mundo e que estabeleceu
as leis que o regem, mas, ao contrário do teísmo, nega que Deus intervenha no
curso dos acontecimentos do mundo seja de que maneira for e que responda às
preces e necessidades humanas.
Estas não são, no entanto, as únicas conceções sobre a
natureza de Deus. Outras formas de conceber a sua natureza são, por exemplo,
o panteísmo, que identifica Deus com o universo físico, e o panenteísmo, a
crença de que Deus está dentro de tudo e não apenas do universo físico. Além destas
perspetivas sobre Deus, que diferem apenas na forma como concebem Deus, há
também aquelas que, como o ateísmo, negam a existência de Deus, ou, como o
agnosticismo, afirmam ser impossível saber se Deus existe.
De todas estas conceções, o teísmo é de longe a perspetiva
mais comum, visto que subjaz às três grandes religiões monoteístas do mundo,
o Cristianismo, o Islamismo e o Judaísmo. Por este motivo, sempre que daqui
em diante nos referirmos a Deus, estamos implicitamente a assumir que se
trata de Deus tal como entendido nessas religiões.
O segundo problema, o da coerência dos atributos divinos, é
ainda mais difícil e intrincado que o primeiro. Por isso, iremos apenas
indicar dois exemplos, o paradoxo da pedra e o problema do mal, para dar uma
ideia da sua complexidade.
Se aceitarmos a conceção teísta da natureza de Deus, um dos
seus atributos é a omnipotência. Deus é todo-poderoso, Deus pode tudo ou,
pelo menos, tudo o que seja logicamente possível. Significa isso que Deus
pode também criar uma pedra que não possa levantar? Se pode criar tal pedra,
então há uma coisa que Deus não pode fazer, a saber, levantar a pedra. Se
Deus não a pode criar, também há algo que Deus, apesar de sumamente poderoso,
é incapaz de fazer. As soluções propostas para este paradoxo têm sido muito
diferentes e nem todas elegantes, mas estudá-las está para além do que nos
propusemos fazer, por isso, não temos de nos preocupar com elas.
O problema do mal representa ainda uma dificuldade maior.
Ele tem constituído ao longo dos séculos uma das maiores dores de cabeça para
os teístas e o principal argumento dos ateus contra a existência de Deus. O
problema resulta diretamente da combinação de várias propriedades que são
atribuídas a Deus pela definição teísta. Como vimos, os teístas dizem que
Deus é, entre outras coisas, criador do universo, omnipotente, omnisciente e
sumamente bom. Mas, nesse caso, como é possível o mal que indiscutivelmente
existe no mundo? Parece decorrer do facto de Deus ter estas propriedades que
não deveria existir qualquer mal. Aparentemente, um criador que seja
omnisciente, sumamente bom e omnipotente, tem forçosamente de saber que o mal
existe, de não querer que haja mal e de poder impedi-lo. Então, como se
explica o mal?
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Questões:
1- Quais as questões principais que se colocam no âmbito do problema da definição da natureza de Deus?
2- Distinga a conceção teísta da natureza de Deus da conceção deísta.
3- Mostre, exemplificando, que o problema da coerência dos atributos divinos é complexo e apresenta dificuldades.
Filosofia da religião
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Argumento teleológico ou do desígnio
Argumento ontológico
RTP-Play- Entrevista Domingos Faria
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