O problema do mal




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 É um facto que existe mal no mundo.
A existência de mal no mundo é de dois tipos:
Mal moral -o mal provocado pelos seres humanos no exercício do seu livre-arbítrio: crimes, guerras, crueldade, injustiça…
Mal natural – catástrofes naturais como tempestades, terramotos, doenças, epidemias…


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         Texto 1: O problema do mal




O mundo em que vivemos está repleto de coisas más. Dor, fome, pobreza, tristeza, guerras, catástrofes e muitas outras coisas. Faz-nos pensar “Se eu fosse Deus, acabaria com tudo isso e faria um mundo melhor!” Dizem que Deus é criador, bom, omnipotente e omnisciente. Se assim fosse, o mal não existiria; um ser bom e com poderes ilimitados não criaria um mundo mau — criaria um mundo perfeito. Ao olharmos para o mundo e para os seus habitantes somos levados a concluir que o deus descrito atrás não existe.
Este é o problema do mal. Como podemos compatibilizar um mundo repleto de sofrimento com a existência de Deus? Dificilmente.
O problema do mal pode ser encarado de duas perspectivas distintas: por um lado temos os crentes, para quem o problema do mal é mais um desafio à fé que professam, talvez um Mistério da Fé; por outro, os não crentes, que encaram este problema como um argumento contra a existência de Deus.
                                                             Jaime Quintas, O problema do mal, in Crítica

             Questões:
              1. Em que consiste o problema do mal?
              2. Em que perspetivas pode ser encarado o problema do mal?


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          Texto 2: Deus e o problema do mal



O argumento do mal contra a existência de Deus só se coloca quando se discute a existência de Deus tal como é defendida pelos teístas. Deus sabe tudo, pode fazer tudo, é infinitamente bom e criou o universo. Por saber tudo, sabe da existência do mal; por poder fazer tudo, pode eliminar o mal; por ser bom, quererá eliminar o mal; e por ter criado o universo é responsável pelo que fez. Se discutimos a existência de um deus que não reúna qualquer uma destas quatro características fundamentais, o problema do mal deixa de se colocar.
Importa detalhar um pouco o que se entende por um ser omnipotente e bom. Enquanto, neste contexto, a omnisciência de Deus não levanta grandes questões — Deus sabe do mal que existe no mundo — já a omnipotência e a bondade poderão originar alguns equívocos. Por omnipotência entende-se a capacidade de fazer tudo o que é logicamente possível. Assim, Deus poderá criar e destruir mundos, mas não poderá fazer um círculo quadrado ou um objecto demasiado pesado para Ele próprio levantar, dado que isto são impossibilidades lógicas. Quando dizemos que Deus é infinitamente bom, queremos dizer que Ele quererá fazer o melhor mundo possível, de acordo com critérios humanos.
Uma das maneiras de contornar o problema do mal seria afirmar que o conceito de bondade aplicado a Deus é diferente do aplicado aos seres humanos, pelo que, segundo os padrões de Deus, este seria o melhor mundo possível; o problema está em que, segundo este critério, não podemos afirmar que Deus é bom, uma vez que este conceito perde o seu significado.
                                                 Jaime Quintas, O problema do mal, in Crítica
     
           Questões:
              1. Mostre como a existência do mal põe em causa a existência de um Deus teísta.
              2. Poderá ser contornado o problema do mal?


         Texto 3: O argumento mal




O problema do mal é a ideia de que o mal é incompatível com a existência de Deus. Se Deus é sumamente bom, não quer o mal. Além disso, é omnisciente, e por isso sabe que existe o mal. Como também é omnipotente, pode eliminar o mal. Assim parece razoável pensar que se deus existisse, não haveria mal. No entanto, o mal existe: há homicídios, doenças, guerras e roubos. Por isso, parece razoável concluir que deus não existe:

Se Deus existisse, não existiria mal.
Mas o mal existe.
Logo, Deus não existe.

Dado que o argumento é válido e as premissas parecem verdadeiras, temos de aceitar a conclusão: afinal, Deus não existe.
A defesa do livre-arbítrio é uma objeção à primeira premissa deste argumento, e aplica-se mais facilmente ao caso do mal moral. (As guerras, roubos e homicídios são males morais porque resultam das ações humanas; os terramotos, doenças e inundações são males naturais porque resultam de acontecimentos naturais). A ideia da defesa do livre arbítrio é que Deus é compatível com o mal moral. Porquê? Porque permitir o mal moral é a única maneira que Deus tem de possibilitar a existência de outra coisa muito importante: o livre-arbítrio humano.
Deste ponto de vista, um mundo com seres dotados de livre arbítrio, como nós, é melhor do que um mundo sem livre-arbítrio.
[…] Mas o que dizer do mal natural? A resposta ao mal natural começa por convidar-nos a imaginar que não há mal natural; seria esse mundo realmente melhor do que é? Talvez não. E porquê? Porque não haveria coragem para enfrentar a morte e a doença, não haveria heroísmo para salvar pessoas inocentes de terramotos e não daríamos o melhor de nós mesmos para curar as doenças. Assim um mundo com mal natural permite a existência de bens que de outro modo não poderiam existir (…). Em conclusão, deste ponto de vista, não há incompatibilidade entre Deus e o mal natural.

                                                                         Aires Almeida, Janelas para a Filosofia


         Questões:
              1. Explique e formule o argumento do mal contra a existência de Deus.
              2. Explique as objeções que se podem colocar ao argumento do mal.




Ou Deus quer impedir o mal e não pode, ou pode, mas não quer. Se quer, mas não pode, é impotente. Se pode, mas não quer, é malévolo. Mas se Deus quer e pode, de onde vem então o mal?
Epicuro


Se Deus é omnisciente, sabe que o mal existe. Se é sumamente bom, quer impedi-lo. Se é omnipotente, pode impedi-lo. Logo, se Deus existisse, não haveria mal. Mas há mal. Logo, Deus não existe.



(1) Se Deus existe, é omnipotente, omnisciente e sumamente bom.
(2) Se Deus é omnipotente, pode acabar com o mal no mundo.
(3) Se Deus é omnisciente, sabe que existe mal no mundo.
(4) Se Deus é sumamente bom, então quer acabar com o mal no mundo.
(5) Se existe mal no mundo, então ou Deus não pode acabar com o mal no mundo, ou Deus não sabe que existe mal no mundo, ou Deus não quer acabar com o mal no mundo.
(6) Existe mal no mundo.
(7) Logo, Deus não existe.




          Texto 4: O mal gratuito


Desenvolvemos aqui o argumento centrando-nos num exemplo de sofrimento animal: um veado que fica horrivelmente queimado durante um incêndio provocado pela descarga de um raio, sofrendo terrivelmente durante cinco dias antes de morrer. Ao contrário dos seres humanos, não se atribui livre-arbítrio aos veados, pelo que não podemos imputar o terrível sofrimento do veado a um mau uso do livre-arbítrio. Porque permitiria então Deus que isso acontecesse quando, se existe, poderia tê-lo impedido com tanta facilidade?
                                        William L. Rowe, Introdução à Filosofia da Religião



Mal justificado – mal que se não existir impossibilita a existência de um bem maior.  
Mal injustificado (gratuito) – mal que se não existir não leva a que se perca um bem maior.







         Texto 5: Escolher o bem ou o mal


A escolha livre e responsável não é apenas o livre-arbítrio no sentido restrito de poder escolher entre ações alternativas, sem que a nossa escolha tenha sido causalmente determinada por uma qualquer causa anterior. [...] Mas os seres humanos poderiam ter este tipo de livre-arbítrio unicamente em virtude de serem capazes de escolher livremente entre duas alternativas igualmente boas e sem importância. Ter a possibilidade da escolha livre e responsável é antes ter livre-arbítrio (do tipo discutido) para fazer escolhas entre o bem e o mal que sejam significativas, profundamente importantes para o agente, para os outros e para o mundo.
                                                            Richard Swinburne, Será que Deus Existe




Deus existe, mas pode existir mal no mundo. Ou seja, a existência de Deus é compatível com a existência do mal.



Primeira premissa: A existência do mal é necessária para a existência de livre-arbítrio.
Segunda premissa: Um mundo com livre-arbítrio é melhor do que um mundo sem
livre-arbítrio.
Terceira premissa: Deus quer o melhor.
Conclusão: Logo, Deus permite a existência do mal.




Teodiceia de Leibniz



(1)   Deus criou o melhor dos mundos possíveis.
(2)   melhor dos mundos possíveis tem partes indesejáveis.
(3)   Se Deus criou o melhor dos mundos possíveis e o melhor dos mundos possíveis tem partes indesejáveis, então Deus permite o mal.
(4)    Logo, Deus permite o mal.



           Texto 6: Teodiceia de Leibniz



Acredito que Deus criou coisas em perfeição última, apesar de não nos parecer isso ao considerar partes do Universo. É um pouco como o que acontece na música e na pintura, pois as sombras e dissonâncias melhoram verdadeiramente as outras partes, e o autor sábio de tais obras obtém destas imperfeições particulares um benefício tão grandioso para a perfeição total do seu trabalho que é muito melhor dar-lhes espaço do que tentar passar sem elas. Assim, temos de acreditar que Deus não teria permitido o pecado nem teria criado coisas que sabe que irão pecar, se não tivesse obtido delas um bem incomparavelmente maior que o mal que daí resulta.

                                  Leibniz, Diálogo sobre a Liberdade Humana e a Origem do Mal


 
   

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