Supõe que estás na bicha de uma cantina e que, quando chegas às sobremesas, hesitas entre um pêssego e uma grande fatia de bolo de chocolate com uma cremosa cobertura de natas. O bolo tem bom aspecto, mas sabes que engorda. Ainda assim, tiras o bolo e come-lo com prazer. No dia seguinte vês-te ao espelho, ou pesas-te, e pensas: «Quem me dera não ter comido o bolo de chocolate. Podia ter comido antes o pêssego.»
«Podia ter comido antes o pêssego.» Que quer isto dizer? E será verdade?
Havia pêssegos quando estavas na bicha na cantina: tiveste a oportunidade de ter tirado antes um pêssego. Mas não é apenas isso que queres dizer. Queres dizer que podias ter tirado o pêssego em vez do bolo. Podias ter feito algo diferente daquilo que realmente fizeste. Antes de teres decidido, estava em aberto se havias de tirar fruta ou bolo, e apenas a tua escolha que decidiu qual dos dois havias de comer. (…)
Esta é uma ideia de «pode» ou «poderia» que aplicamos só às pessoas (e talvez a alguns animais). Quando dizemos «o carro podia ter chegado ao cimo da colina», queremos dizer que o carro podia e tinha potência suficiente para chegar ao cimo da colina se alguém o tivesse conduzido até lá. Não queremos dizer que numa certa ocasião, quando se encontrava estacionado no vale, o carro poderia simplesmente ter começado a andar e chegado ao topo, em vez de permanecer estacionado onde estava. (…)
Parte do que quer dizer pode ser o seguinte: até ao momento em que escolhes nada determina irrevogavelmente qual será a tua escolha. Escolher o pêssego continua a ser para ti uma possibilidade em aberto até ao momento em que de facto escolhes bolo de chocolate. A tua escolha não está determinada à partida.
Algumas coisas que acontecem estão determinadas à partida. Por exemplo, parece estar determinado à partida que o Sol se levantará amanhã a uma certa hora. O Sol não se levantar amanhã e continuar a noite não é uma possibilidade em aberto. (…) Se não existe qualquer possibilidade de a Terra parar ou de o Sol não estar lá, não há qualquer possibilidade de o Sol não se levantar amanhã.
Quando dizes que podias ter comido um pêssego em vez de bolo de chocolate, parte do que queres dizer pode ser que aquilo que ias fazer não estava determinado à partida, tal como está determinado à partida que o Sol se levantará amanhã. Não havia processos ou forças a operarem antes de fazeres a tua escolha que tenham tornado inevitável o facto de teres escolhido bolo de chocolate. (…)
Algumas pessoas pensam que nunca é possível fazermos qualquer coisa diferente daquilo que de facto fazemos neste sentido absoluto. Reconhecem que aquilo que fazemos depende das nossas escolhas, decisões e desejos e que fazemos escolhas diferentes em circunstâncias diferentes: não somos como a Terra, que roda no seu eixo com monótona regularidade. Mas afirmam que, em cada caso, as circunstâncias que existem antes de agirmos determinam as nossas ações e tornam-nas inevitáveis. (…)
Podes zangar-te muito com alguém que vai a uma festa a tua casa e rouba todos os teus discos de Glenn Gould, mas supõe que acreditavas que a sua acção estava determinada à partida pela sua natureza e pela situação. (…) Poderias ainda achar que era responsável por um comportamento tão baixo? Ou seria mais razoável encará-lo como uma espécie de desastre natural – como se os teus discos tivessem sido devorados por térmitas?
NAGEL, Que quer dizer tudo isto?
Perspetivas incompatibilistas
|
ARGUMENTO DA CONSEQUÊNCIA:
Se o determinismo é verdadeiro,
então os nossos atos são consequência das leis da natureza e de acontecimentos
situados no passado
O que aconteceu antes de termos
nascido não depende de nós
As leis da natureza não dependem de
nós
Logo, as consequências destas
coisas, as nossas ações não dependem de nós
SE O
DETERMINISMO É VERDADEIRO, ENTÃO NUNCA PODEMOS AGIR DE OUTRA FORMA
LOGO, SE O
DETERMINISMO É VERDDADEIRO, ENTÃO NÃO TEMOS LIVRE ARBÍTRIO
|
Perspetivas
compatibilistas
|
O Compatibilista tem de mostrar que
uma das premissas é falsa.
A primeira premissa é falsa: mesmo
que o determinismo seja verdadeiro é possível agir de outra forma.
A ação livre não deixa de ser
causada, apenas não está sujeita a constrangimentos.
Segundo o compatibilismo clássico,
é possível agir de outra forma na medida em que o agente poderia ter desejado
agir de outra forma
|
O DILEMA DO DETERMINISMO
Mesmo considerando que muitos físicos hoje acreditam que habitamos num universo indeterminista:
Ou o mundo é determinista ou é indeterminista.
Se o mundo é determinista, não temos livre-arbítrio.
Mas, se o mundo é indeterminista, também não temos livre-arbítrio.
Logo, não temos livre-arbítrio.
(se há indeterminismo, algumas das nossas ações resultam do acaso. E o que acontece por acaso também está fora do nosso controle)
Mesmo considerando que muitos físicos hoje acreditam que habitamos num universo indeterminista:
Ou o mundo é determinista ou é indeterminista.
Se o mundo é determinista, não temos livre-arbítrio.
Mas, se o mundo é indeterminista, também não temos livre-arbítrio.
Logo, não temos livre-arbítrio.
(se há indeterminismo, algumas das nossas ações resultam do acaso. E o que acontece por acaso também está fora do nosso controle)
TEORIAS
|
TESE/ ARGUMENTOS
|
OBJEÇÕES
| |
INCOMPATIBILISMO
Argumento:
Se o determinismo é verdadeiro, então não podemos agir de outra forma
Se temos livre arbítrio, então podemos agir de outra forma
Logo, se o determinismo é verdadeiro, então não temos livre arbítrio
|
DETERMINISMO RADICAL
|
Se o determinismo fosse falso, então causas semelhantes
teriam efeitos diferentes.
É evidente que causas semelhantes têm efeitos semelhantes
(na maioria das nossas ações do dia a dia e nas ciências da natureza).
Logo, o determinismo é verdadeiro.
Se o determinismo é verdadeiro, então não temos livre arbítrio
O determinismo é verdadeiro
Logo, não temos livre arbítrio
Todos os acontecimentos, incluindo as ações humanas são efeitos de acontecimentos anteriores
O livre arbítrio é uma ilusão
As ações resultam de crenças e desejos que são determinados por fatores biológicos e culturais
|
Se ninguém age livremente, ninguém é moralmente responsável pelo que faz
A experiência do livre arbítrio é muito forte
|
LIBERTISMO
|
Se o determinismo é verdadeiro, então não temos livre arbítrio
Temos livre arbítrio
Logo, o determinismo não é verdadeiro
A segunda premissa é defendida
As ações humanas não estão sujeitas à causalidade natural
O corpo está sujeito à causalidade natural, mas a alma não está sujeita às leis da natureza
|
A alma não está sujeita às leis da natureza mas está sujeita às leis da própria alma, e, nesse caso não há livre arbítrio
As deliberações e escolhas podem ser determinadas por crenças e desejos
| |
COMPATIBILISMO
Mesmo que o determinismo seja verdadeiro temos o poder de agir de outra forma
|
DETERMINISMO
MODERADO (compatibilismo clássico) |
Todas as ações têm uma causa
As ações são livres se são realizadas porque agente assim o deseja
As ações são livres quando não existem constrangimentos O agente age de uma forma podendo ter agido de outra na medida em que desejou agir dessa forma
O determinismo é compatível com a liberdade
|
O facto de não nos sentirmos constrangidos não quer dizer que pudéssemos ter escolhido outra coisa além do que escolhemos
|
Teorias Filosóficas
|
A crença no livre arbítrio é verdadeira
|
A crença no determinismo é verdadeira
|
O determinismo é compatível com a liberdade
|
DETERMINISMO
RADICAL
|
Não
|
Sim
|
Não
|
DETERMINISMO MODERADO
|
Sim
|
Sim
|
Sim
|
LIBERTISMO
|
Sim
|
Não
|
Não
|
DETERMINISMO
RADICAL
|
LIBERTISMO
|
DETERMINISMO MODERADO
| |
Todos os acontecimentos são determinados por causas anteriores
|
Aceita
|
Rejeita
|
Aceita
|
Não há ações livres
|
Aceita
|
Rejeita
|
Rejeita
|
Ninguém é responsável pelas suas ações
|
Aceita
|
Rejeita
|
Rejeita
|
PREZI - O PROBLEMA DO LIVRE ARBÍTRIO
Sem comentários:
Enviar um comentário