quinta-feira, 17 de abril de 2014

A responsabilidade ecológica




O Problema da Responsabilidade Ecológica -AQUI
Jonas e a Ética da Responsabilidade - AQUI

A Natureza como responsabilidade do Homem é certamente uma novidade sobre a qual a teoria ética deve meditar. Que tipo de obrigação é decente ter para com ela? Trata-se simplesmente de prudência a aconselhar-nos que não matemos a galinha dos ovos de oiro ou que não serremos o ramo sobre a qual estamos sentados? Mas este “nós”, que lá está sentado e se arrisca a cair do abismo, quem é? E qual o meu interesse em que se mantenha lá ou caia?

Na medida em que é o destino do Homem na sua dependência relativamente ao estado da Natureza que constitui a última palavra de um interesse moral pela preservação da Natureza, a orientação antropocêntrica de toda a ética clássica continua a existir […]. Mas a nova forma de actuar do Homem não poderia significar que não é somente o ‘interesse’ do Homem que é preciso ter em conta, que o nosso dever se prolonga para lá disso e que o confinamento antropocêntrico de todas as éticas anteriores já não é válido? Pelo menos, não é absurdo perguntar se o estado da natureza não humana, a biosfera como totalidade e com as suas partes, doravante submetida ao nosso poder, está confiada à nossa guarda e nos faz um apelo ético, não somente por causa do nosso interesse futuro, mas por si e de direito próprio. Se assim fosse, isso exigiria uma remodelação profunda da nossa concepção dos fundamentos da ética.

Porque significaria que se tem de procurar, não somente o bem do homem, como o bem das coisas extra-humanas, e de se ampliar o reconhecimento de ‘fins em si’ para além da esfera humana, incluindo a preocupação com esta noção do bem do homem […]. A perspectiva científica dominante acerca da Natureza recusa-nos em absoluto o direito teórico de considerar a Natureza como uma coisa digna de respeito, tendo-a reduzido à indiferença do acaso e da necessidade e tendo-a desagregado de qualquer finalidade que seja valorizada. […]

Mesmo que a obrigação a respeito do homem continue ainda a ter um valor absoluto, ela não deixa agora de incluir a natureza como condição da sua própria sobrevivência e como um dos elementos da sua integralidade existencial. Agora vamos mais longe e dizemos que a solidariedade de destino entre o homem e a natureza, solidariedade redescoberta através do perigo, nos faz igualmente redescobrir a dignidade autónoma da natureza e nos exige o respeito pela sua integridade, ultrapassando a perspectiva meramente utilitária.
Um imperativo apropriado à nova maneira de agir humana e do sujeito desse agir poderia enunciar-se assim: ‘Age de tal forma que as consequências da tua acção sejam compatíveis com a permanência de uma vida autenticamente humana na Terra’; se fosse dito na negativa, teríamos: ‘Age de tal maneira que as consequências da tua acção não sejam destruidoras para a possibilidade futura de uma tal vida’; ou ainda, simplesmente: ‘Não ponhas em perigo as condições de uma perpetuação indefinida da humanidade na Terra’; ou de novo expresso na positiva; ‘Inclui nas tuas escolhas actuais a integridade futura da humanidade como objecto da tua vontade.»


H. Jonas, citado por Gilbert Hottois, O Paradigma Bioético (adaptado, Filosofia: 11.º ano, Lisboa, Plátano Editora)

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