Centrando-nos apenas
no problema do valor da arte, é possível encontrar dois grupos de teorias: as
instrumentalistas e as não instrumentalistas. As instrumentalistas defendem que
a arte é valiosa por ser um meio para certos fins que consideramos importantes
e valiosos. (…) As não instrumentalistas defendem que a arte tem valor autónomo,
isto é, o seu valor intrínseco, dado ser independente de quaisquer fins.
(…)
Valor intrínseco
A ideia de que a
arte tem valor intrínseco é habitualmente associada ao elogio da arte pela arte
e ao culto da beleza, típicos de alguns críticos e artistas românticos do séc
XIX. “Esteticismo” foi o nome pelo que ficou conhecida esta perspetiva. O
esteticismo inspirou-se na estética Kantiana, em particular na ideia de que a
apreciação da arte não tem qualquer outro propósito a não ser a mera
contemplação das formas. A arte não visa, como sustentava Kant, satisfazer
quaisquer necessidades práticas ou teóricas. Esta é também uma perspetiva
formalista, pois valoriza exclusivamente as propriedades formais das obras de
arte, tendo sido posteriormente desenvolvida e refinada por Eduard Hanslick
(1854), a propósito da música, e por Clive Bell (1914), aplicada à pintura.
(…)
Valor instrumental
O hedonismo é provavelmente a resposta
mais popular para justificar o valor da arte. De acordo com o hedonismo, a arte
é valiosa por proporcionar prazer às pessoas que a apreciam. Trata-se,
portanto, de uma perspetiva instrumental. Mas, apesar de ser inegável que muita
arte proporciona prazer e que esse prazer pode mesmo aumentar o valor de certas
obras, o hedonismo não é aceite pela generalidade dos filósofos da arte. Não só
porque muita arte não procura sequer agradar, como pode exigir esforço e estudo
aprofundado para ser correctamente apreciada.(…)
O moralismo (ou eticismo) tem sido outra
das justificações instrumentais do valor da arte. Uma forma extrema de
moralismo foi defendida por Tolstoi, que chegou a incluir os seus mais
aclamados romances entre as obras de arte falhadas, precisamente por serem
moralmente fúteis.(…)
Outra das teorias
instrumentalistas é o instrumentalismo
estético. Esta perspetiva, associada a Beardsley, está próxima do
formalismo, mas distingue-se dele precisamente pelo seu caráter instrumental.
Beardley considera que a arte tem valor na medida em que produz em nós
experiências compensadoras: as experiências estéticas. (…)
A perspetiva mais
defendida nas últimas décadas é o cognitivismo, havendo mesmo uma apreciável
variedade de teorias cognitivistas.(…) A tese geral é que a arte é valiosa
porque proporciona conhecimento.
Aires Almeida,
Estética e Filosofia da Arte, in Filosofia: uma Introdução por Disciplinas
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