Esta é na verdade
uma bela ocasião para estabelecer uma teoria racional e histórica do belo, em
oposição à teoria do belo único e absoluto; para mostrar que o belo é sempre,
inevitavelmente, de dupla composição, se bem que a impressão que produz seja
una; porque a dificuldade de discernir os elementos variáveis do belo na
unidade da impressão em nada infirma a necessidade da variedade na sua
composição.
O belo é feito de um elemento eterno, invariável, cuja quantidade é
muitíssimo difícil de determinar, e de um elemento relativo, circunstancial,
que será, se quisermos, alternadamente ou em conjunto, a época, a moda, a
moral, a paixão. Sem este segundo elemento, que é como que o envolvimento
divertido, titilante, aperitivo, do divino bolo, o primeiro elemento seria
indigestível, inavaliável, inadaptado e desapropriado à natureza humana.
Desafio quem quer que seja a descobrir uma amostra qualquer de beleza que não
contenha estes dois elementos. (…)
Baudelaire, O Pintor
da Vida Moderna, I – O Belo, A Moda e a Felicidade, in A Invenção da
Modernidade, Tradução de Pedro Tamen
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