O sentimento está sempre certo – porque o sentimento não tem
outro referente senão ele mesmo e é sempre real, quando alguém tem consciência
dele. Mas nem todas as determinações do entendimento são certas, porque têm
como referente algumas coisas para além delas mesmas, a saber, os factos reais
e nem sempre são conformes a esse padrão. Entre mil e uma opiniões que pessoas
diferentes podem ter a respeito do mesmo assunto, há uma e apenas uma que é
justa e verdadeira e a única dificuldade é encontrá-la e confirmá-la. Pelo
contrário, os mil e um sentimentos despertados pelo mesmo objecto são todos
certos, porque nenhum sentimento representa o que realmente está no objeto. Ele
limita-se a observar uma certa conformidade ou relação entre o objecto e os
órgãos ou faculdades do espírito e, se essa conformidade realmente não
existisse, o sentimento jamais poderia ter ocorrido. A beleza não é uma
qualidade das próprias coisas, existe apenas no espírito que a contempla e cada
espírito percebe uma beleza diferente. É possível até uma pessoa encontrar
deformidade onde uma outra vê apenas beleza e qualquer indivíduo deve concordar
com o seu próprio sentimento, sem ter a pretensão de regular o dos outros.
(...)
Embora as pessoas com gosto refinado sejam raras, facilmente as distinguimos em
sociedade pela solidez do seu entendimento e pela superioridade das suas
faculdades relativamente ao resto da humanidade. O ascendente que adquirem faz
prevalecer a viva aprovação com que acolhem quaisquer obras de génio e torna-a
geralmente predominante. Entregues a si próprios, muitos homens têm apenas uma
vaga e duvidosa percepção da beleza, mas ainda assim são capazes de se deleitar
com qualquer obra de qualidade que se lhes aponte. Todo aquele que se converte
à admiração do verdadeiro poeta ou orador é a causa de uma nova conversão. E
embora os preconceitos possam prevalecer durante algum tempo, nunca se unem
para rivalizar com o verdadeiro génio – acabam por ceder perante a força da
natureza e o justo sentimento. Assim, embora uma nação civilizada possa
enganar-se facilmente ao escolher o seu filósofo de eleição, nunca erra
prolongadamente na sua afeição por um autor épico ou trágico favorito.
Mas apesar dos nossos esforços em fixar um padrão do gosto e em reconciliar as
discordantes impressões das pessoas, restam ainda duas fontes de diversidade,
as quais não são suficientes para eliminar todas as fronteiras entre beleza e
deformidade, embora sirvam frequentemente para produzir diferenças no grau de
aprovação ou censura. Uma reside nas diferenças de humor de cada pessoa; a
outra nos costumes e opiniões próprios da nossa época e do nosso país. Os
princípios gerais do gosto são uniformes na natureza humana: sempre que as
pessoas divergem nos seus gostos, pode-se geralmente apontar algum defeito ou perversão
nas suas faculdades, que tem origem ou no preconceito, ou na falta de prática,
ou na falta de sensibilidade. E há assim boas razões para aprovar uns gostos e
condenar outros. Mas onde quer que haja tal diversidade, a qual se mostre
completamente irrepreensível, tanto na estrutura interna como na situação
externa, deixa também de haver lugar para dar preferência a um gosto em
detrimento de outro; nesse caso, uma certa diversidade no juízo é inevitável, e
é em vão que procuramos um padrão que permita conciliar os sentimentos
contrários.
David Hume, Do Padrão do Gosto
Juízo
estético é a expressão da apreciação dos objetos em termos de
beleza
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O problema da justificação dos juízos estéticos:
De que depende a verdade destes
juízos: das propriedades intrínsecas dos objetos ou do que sentimos ao
observá-los?
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Subjetivismo
radical – Os juízos estéticos são subjetivos, dependem do sentimento de
prazer de cada sujeito.
As propriedades estéticas não existem nos objectos
mas são atribuídas pelo sujeito.
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Subjetivismo
(moderado) estético – Os juízos são subjectivos mas admitem critérios para a
apreciação e avaliação das obras de arte
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Hume e o padrão do gosto
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Kant e a universalidade do juízo estético
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Objetivismo
estético – Os juízos estéticos são verdadeiros ou falsos em função das
propriedades intrínsecas dos objectos e não dos sentimentos do sujeito.
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SUBJETIVISMO
MODERADO DE HUME
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Os
juízos estéticos são subjetivos – a beleza e a deformidade não são
qualidades dos objectos, pertencem ao sentimento
Existe desacordo e diversidade de gostos
entre pessoas e culturas
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Nem todas as opiniões valem o mesmo
Existem
juízos estéticos que são verdadeiros ou falsos, independentemente do
gosto individual
Apesar dos desacordos, verifica-se que as
pessoas, em diferentes épocas e lugares, acham umas coisas mais agradáveis
que outras, o que mostra que há princípios
comuns que determinam a formação do gosto
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PADRÃO
DE GOSTO
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