(…) Mas devemos ir além da lista de critérios partilhados
para as características dos indivíduos que fizeram a escolha. Quer dizer, há
que lidar com características que variam de um cientista para outro sem com
isso arriscar minimamente a sua aderência aos cânones que tornam científica a
ciência. Embora tais cânones existam e devam ser descobertos (sem dúvida, os
critérios de escolha com que comecei estão entre eles), não são por si
suficientes para determinar as decisões dos cientistas individuais. Para esse
propósito, os cânones partilhados devem estudar-se de maneiras que diferem de
um indivíduo para outro.
(…)
Algumas das diferenças que tenho em mente resultam da
experiência anterior do indivíduo como cientista. Em que parte do campo
trabalhava ele, quando se confrontou com a necessidade de escolher? Por quanto
tempo trabalhou nele; qual foi o seu êxito; e quanto do seu trabalho dependeu
de conceitos e técnicas impugnados pela nova teoria? Outros factores
importantes para a escolha ficam fora das ciências. A eleição de Kepler pelo
copernicanismo ficou a dever-se em parte à sua imersão nos movimentos
neoplatónicos e herméticos da sua época; o Romantismo Germânico predispôs
aqueles que afectou para o reconhecimento e a aceitação da conservação da
energia; o pensamento social britânico do século XIX teve uma influência
semelhante sobre a disponibilidade e aceitabilidade do conceito de Darwin da
luta pela existência. Ainda outras diferenças significativas são funções da
personalidade. Alguns cientistas põem mais ênfase do que outros na
originalidade e têm mais vontade, portanto, em tomar riscos; alguns cientistas
preferem teorias compreensivas, unificadas para soluções de problemas exactos e
pormenorizados de alcance aparentemente mais restrito. Factores diferenciadores
como estes são descritos pelos meus críticos como subjectivos, e são postos em
constraste com os critérios partilhados ou objectivos de onde parti. Embora
mais à frente ponha em questão este uso dos termos, vou aceitá-los por
enquanto. Defendo que toda a escolha individual entre teorias rivais depende de
uma mistura de factores objectivos e subjectivos, ou de critérios partilhados e
individuais. Visto que os últimos em geral não aparecem na filosofia da
ciência, o meu realce sobre eles fez que a minha crença nos primeiros não
tivesse sido apercebida pelos meus críticos.
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