(…) Em suma, o entendimento não deve aprender
pensamentos mas a pensar. Deve ser conduzido, se assim nos quisermos exprimir,
mas não levado em ombros, de maneira a que no futuro seja capaz de caminhar por
si, e sem tropeçar.
A natureza peculiar
da própria filosofia exige um método de ensino assim. Mas visto que a filosofia
é, estritamente falando, uma ocupação apenas para aqueles que já atingiram a
maturidade, não é de espantar que se levantem dificuldades quando se tenta
adaptá-la às capacidades menos exercitadas dos jovens. O jovem que completou a
sua instrução escolar habituou-se a aprender. Agora pensa que vai aprender
filosofia. Mas isso é impossível, pois agora deve aprender a filosofar.
[...] Para que pudesse aprender filosofia teria de começar por já haver uma filosofia. Teria de ser possível apresentar um livro e dizer: "Veja-se, aqui há sabedoria, aqui há conhecimento em que podemos confiar. Se aprenderem a entendê-lo e a compreendê-lo, se fizerem dele as vossas fundações e se construírem com base nele daqui para a frente, serão filósofos". Até me mostrarem tal livro de filosofia, um livro a que eu possa apelar, [...] permito-me fazer o seguinte comentário: estaríamos a trair a confiança que o público nos dispensa se, em vez de alargar a capacidade de entendimento dos jovens entregues ao nosso cuidado e em vez de os educar de modo a que no futuro consigam adquirir uma perspectiva própria mais amadurecida, se em vez disso os enganássemos com uma filosofia alegadamente já acabada e cogitada por outras pessoas em seu benefício.
[...] Para que pudesse aprender filosofia teria de começar por já haver uma filosofia. Teria de ser possível apresentar um livro e dizer: "Veja-se, aqui há sabedoria, aqui há conhecimento em que podemos confiar. Se aprenderem a entendê-lo e a compreendê-lo, se fizerem dele as vossas fundações e se construírem com base nele daqui para a frente, serão filósofos". Até me mostrarem tal livro de filosofia, um livro a que eu possa apelar, [...] permito-me fazer o seguinte comentário: estaríamos a trair a confiança que o público nos dispensa se, em vez de alargar a capacidade de entendimento dos jovens entregues ao nosso cuidado e em vez de os educar de modo a que no futuro consigam adquirir uma perspectiva própria mais amadurecida, se em vez disso os enganássemos com uma filosofia alegadamente já acabada e cogitada por outras pessoas em seu benefício.
(…) Por exemplo, o
autor sobre o qual baseamos a nossa instrução não deve ser considerado o
paradigma do juízo. Ao invés, deve ser encarado como uma ocasião para cada um
de nós formar um juízo sobre ele, e até mesmo, na verdade, contra ele. O que o
aluno realmente procura é proficiência no método de reflectir e fazer
inferências por si. E só essa proficiência lhe pode ser útil. Quanto ao
conhecimento positivo que ele poderá talvez vir a adquirir ao mesmo tempo —
isso terá de ser considerado uma consequência acidental. Para que a colheita de
tal conhecimento seja abundante, basta que o aluno semeie em si as fecundas
raízes deste método.
Immanuel Kant, “Anúncio do Programa do Semestre de Inverno de 1765-1766 (Tradução de Desidério
Murcho)
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