O que é a Filosofia? (Textos/Fichas) - AQUI
A filosofia é uma actividade crítica
A primeira coisa a fazer perante uma afirmação filosófica,
como “Tudo é relativo”, é tentar saber exactamente o que estamos a dizer.
“Tudo” refere-se a quê? E o que quer dizer “relativo”? No estudo da filosofia,
este trabalho de interpretação é crucial. Temos de saber com precisão o que
realmente está a ser afirmado para podermos discutir essa afirmação. É por isso
que no capítulo 2 iremos distinguir frases de proposições, e iremos ver o que é
a ambiguidade e outras armadilhas que não nos permitem interpretar
correctamente as ideias dos filósofos.
Se me perguntares o que quer dizer “tudo” e “relativo” no
contexto da minha afirmação, posso responder assim:
“Tudo” refere-se a todas as verdades. O que eu defendo é que
todas as verdades são relativas. E “relativo” quer dizer que as verdades mudam,
ou variam; não são coisas fixas.
Agora já compreendemos melhor o que quer dizer “Tudo é
relativo”. Mas será então que, nesse sentido, é verdadeiro que “Tudo é
relativo”? Que razões temos para aceitar esta ideia? Por que razão não será
melhor aceitar a negação desta ideia? É porque por vezes queremos negar ideias
que no capítulo 2 irás aprender a não errar ao negar certos tipos de
afirmações.
Já estás a ver que não basta interpretar e compreender o que
eu queria dizer com a afirmação “Tudo é relativo”. É preciso ter uma atitude
crítica em relação ao que foi dito. Será que tenho razão? Porquê? Ou será que
estou enganado? E porquê?
Quando fazemos estas perguntas, estamos a exigir argumentos.
Será que os argumentos em que me baseio ao pensar que tudo é relativo são
suficientemente fortes para apoiar esta ideia? Ou são apenas confusos e desinteressantes?
A argumentação é o coração da filosofia e é por isso que a filosofia é uma
atitude crítica. É por isso também que no capítulo 2 vamos aprender a
distinguir os bons dos maus argumentos.
- Precisamos
de argumentos para mostrar que os problemas que estamos a estudar não são
meras ilusões e confusões. Por exemplo, será que o problema do sentido da
vida faz sentido? Porquê?
- Precisamos
de argumentos para avaliar as respostas que os filósofos e nós próprios
damos aos problemas da filosofia. Por exemplo, será que a resposta que
Platão dá ao problema da imortalidade da alma é boa?
- E
precisamos de saber avaliar argumentos porque os filósofos passam grande
parte do seu tempo a apresentar argumentos a favor das suas ideias e
contra as ideias que eles acham que estão erradas. Por exemplo, será que o
argumento de Santo Anselmo a favor da existência de Deus é bom?
Porque a filosofia é uma actividade crítica, avalia
cuidadosamente os nossos preconceitos mais básicos. Isto faz da filosofia uma
actividade um pouco melindrosa. Em geral, temos tendência para nos agarrarmos
acriticamente aos nossos preconceitos, porque eles condicionam a maneira como
vemos o mundo e como vivemos a vida. A filosofia, pelo contrário, exige
abertura de espírito e disponibilidade para pensar livremente.
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