Ana Relativista
“Fui educada para acreditar que a moral se refere a factos objectivos. Tal como a neve é branca, também o infanticídio é um mal. Mas as atitudes variam em função do espaço e do tempo. As normas que aprendi são as normas da minha própria sociedade; outras sociedades possuem diferentes normas. A moral é uma construção social. Tal como as sociedades criam diversos estilos culinários e de vestuário, também criam códigos morais distintos. [... ]
Considere a minha crença de que o infanticídio é um mal. Ensinaram-me isto como se se tratasse de um padrão objectivo. Mas não é; é apenas aquilo que defende a sociedade a que pertenço. Quando afirmo «o infanticídio e um mal» quero dizer que a minha sociedade desaprova essa prática e nada mais. Para os antigos romanos, por exemplo, o infanticídio era um bem. Não tem sentido perguntar qual das perspectivas é «correcta». Cada um dos pontos de vista é relativo à sua cultura, e o nosso é relativo à nossa. Não existem verdades objectivas acerca do bem ou do mal. [... ] «Mal» é um termo relativo. Deixem-me explicar o que isto significa. Quero dizer que nada está absolutamente «à esquerda», mas apenas «à esquerda deste ou daquele» objecto. Do mesmo modo, nada e um mal em absoluto, mas apenas um mal nesta ou naquela sociedade em particular. [... ]
Podemos expressar esta perspectiva claramente através de uma definição: «x e um bem» significa «a maioria (na sociedade em questão) aprova x». Outros conceitos morais como «mal» ou «correcto» podem ser definidos da mesma forma. Note-se ainda a referência a uma sociedade especifica. Excepto se o contrário for especificado, a sociedade em causa e aquela a que pertence a pessoa que faz juízo. Quando afirmo «Hitler agiu erradamente» quero dizer de acordo com os padrões da minha sociedade».
o mito da objectividade afirma que as coisas podem ser um bem ou um mal de uma forma absoluta e não relativamente a esta ou àquela cultura. Mas como poderemos saber o que é um bem ou o que é um mal em termos absolutos? Como poderíamos argumentar a favor desta ideia sem pressupor os padrões da nossa sociedade?
As pessoas que falam do bem e do mal de forma absoluta consideram as normas que lhes foram ensinadas como factos objectivos. Essas pessoas necessitam de estudar antropologia, ou de viver algum tempo numa cultura diferente.
Quando adoptei o relativismo cultural tomei-me mais receptiva a aceitar outras culturas. Como muitos outros estudantes, eu partilhava a típica atitude «nós estamos certos e eles errados». Lutei arduamente contra isto. Apercebi-me de que o outro lado não está errado» mas que é apenas «diferente». Temos, por isso, que considerar os outros a partir do seu próprio ponto de vista; ao critica-los, limitamo-nos a impor-lhes padrões que a nossa própria sociedade construiu. Nós, os relativistas culturais, somos mais tolerantes.”
HARRY GENSLER,
Introdução à Ética
Concordas com a concepção que a Ana Relativista tem da tolerância entre culturas?
ÉTICA E SUBJETIVISMO
ÉTICA E SUBJETIVISMO
Ana Subjectivista
Chamo-me Ana Subjectivista. Adoptei o subjectivismo ao compreender que a moral é profundamente emocional e pessoal.
O ano passado frequentei com alguns amigos um curso de antropologia. Acabámos por aceitar o relativismo cultural — a perspectiva de que o bem e o mal são relativos a cada cultura, que "bem" significa "socialmente aprovado". Mais tarde, descobri que o relativismo cultural enfrenta um problema, nomeadamente o de nos negar a liberdade para formarmos os nossos próprios juízos morais. Sucede que a liberdade moral é algo a que atribuo muita importância.
O relativismo cultural obriga-me a aceitar todos os valores da sociedade. Admitamos que descobri que a maior parte das pessoas aprova acções racistas; terei então de concluir que o racismo é um bem. Estaria a contradizer-me se dissesse "O racismo é socialmente aprovado embora não seja um bem". Como o relativismo cultural impõe as respostas do exterior, negando a liberdade de pensamento em questões morais, passei a considerá-lo repulsivo.
O subjectivismo sustenta que as verdades morais são relativas ao indivíduo. Se eu gosto de X e você não, então "X é um bem" é verdade para mim mas falso para si. Usamos a palavra "bem" para falar dos nossos sentimentos positivos. Nada é um bem ou um mal em si mesmo, independentemente dos nossos sentimentos. Os valores apenas existem como preferências de pessoas individuais. Você tem as suas preferências e eu as minhas; nenhuma preferência é objectivamente correcta ou incorrecta. Esta ideia tornou-me mais tolerante a respeito das pessoas com sentimentos diferentes e, portanto, com diferentes crenças morais.
Harry Gensler
Que objecções se podem colocar ao subjectivismo moral?