Pequeno-almoço sobre cartolina
Primeira exposição póstuma de Jorge Varanda (Luanda, 1953 - Lisboa, 2008), artista com um percurso marginal que se dividiu entre a pintura, a ilustração, as artes gráficas, a produção de diaporamas, a intervenção em arquitetura e a realização de filmes e banda desenhada.
O título da mostra remete para uma folha de cartolina, onde o artista desenhou o contorno de alguns objetos e escreveu palavras como “local da bandeja”, “pão” e “controlo remoto”, que sugerem uma refeição matinal em frente a uma televisão.
É esse horizonte próximo da produção de uma série de cartolinas de formato regular (100x70cm) pintadas ao longo dos anos 80, que estarão expostas, e que constitui o mais relevante desenvolvimento na pintura de suporte bidimensional de Jorge Varanda.
O título Pequeno-almoço sobre cartolina refere-se a uma ideia de domesticidade necessária à compreensão do conjunto da obra deste autor. A estranheza do comportamento dos outros é um dos temas oferecidos pelas imagens e narrativas fabricadas a partir de um lugar de conforto que é a casa, cuja moldura é justamente a janela, objeto simbólico da separação entre interior e exterior. A adversidade da vivência da cidade acontece numa relação inversa à comodidade experimentada em casa. A casa abre-se à rua e para um mundo atravessado por pessoas anónimas, peões ou marionetas.
Para além das cartolinas, esta mesma atmosfera é transmitida por outras obras, sobretudo pelas madeiras recortadas e justapostas, pelas caixas que são interiores de pequenos teatros ou exteriores de prédios de grandes cidades, ou por biombos e outros dispositivos articulados.
O trabalho de Varanda reenvia para uma urbanidade fracassada e apodrecida da qual também participa e pela qual se encontra inequivocamente intoxicado. É a des-humanidade que lhe terá sido, afinal, servida a quente na bandeja do pequeno-almoço.