segunda-feira, 23 de setembro de 2013

António Ramos Rosa




António Ramos Rosa, 17/10/1924 - 23/09/2013

Nada sabemos de quase tudo. A vastidão
é inapreensível. A simultaneidade
é inapreensível. A disparidade
é inapreensível. E há um mutismo
no mundo e em nós que não se quebra nunca.



Na página há um silêncio inexpugnável
Talvez algo queira correr e dissipar-se
na correnteza da água. Talvez um outro espaço
mesmo na ignorância possa ser a transparência
Mas longe é tudo vagaroso e recolhido
Não progredimos na grande solidão que envolve tudo
Ouvi-la? É quase deslumbrante e de uma 
tranquilidade que em nós demora
como se em nós houvesse correspondência
Ou não somos nós que criamos o entendimento
que une as sombras que somos ao sossego império
que é tudo e nada no seu mundo esplendor?
Somos nós e é o mundo que cria a substância
de estar em que nada se abre e todavia se abre
nas corolas de sono e no timbre da luz

António Ramos Rosa, O Livro da Ignrância

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