Quais serão as
tarefas atuais da ética? Há tarefas inéditas, sem dúvida, que se referem à
resolução de problemas diferentes dos tradicionais ou ao controlo de
possibilidades de ambíguo alcance e que se não conheciam antes. As ameaças ao
meio ambiente, por exemplo, o uso de técnicas cirúrgicas, ou genéticas que
podem favorecer perversas instrumentalizações da nossa corporalidade. Nestes
campos, é urgente não dar nada como fatalmente irremediável e manter um aberto
debate crítico em que muitas são as vozes que devem, sem dúvida, ser escutadas.
Como nem tudo o que pode tecnicamente
ser feito deve ser irremediavelmente
feito, seria bom colaborar o mais possível na reinvenção dessa virtude
aristotélica que se adequa à natureza trágica da peripécia humana: a prudência.
E talvez também a solicitude para com os outros, esse aspeto distintivo da atividade moral feminina que estudiosas como Carol Gillogan opõem à rígida e por vezes impiedosa frialdade do imperativo categórico.
Também não faltam ideais morais para propor à gestão política, como a luta contra a miséria e a fome ou a igualdade de direitos. E como já desde Montesquieu ficou dito que a virtude é a característica insubstituível da democracia, a própria gestão política tem de respeitar uma norma deontológica que combata a sua deriva para formas corruptas de cleptocracia, em cujas sujas tabernas o benefício dos partidos e dos políticos substitui o da sociedade de que devem ser instrumentos. Mas o núcleo essencial do ímpeto ético está subjacente sob as modas, novidades e propósitos de universal regeneração, sendo muito parecido ao que já tantas vozes formularam ao longo da história: que o humano reconheça o humano e se reconheça no humano, que a liberdade oriente a vida e que a vida – a boa vida, não o puro fenómeno biológico – assinale os limites devidos à liberdade.
E talvez também a solicitude para com os outros, esse aspeto distintivo da atividade moral feminina que estudiosas como Carol Gillogan opõem à rígida e por vezes impiedosa frialdade do imperativo categórico.
Também não faltam ideais morais para propor à gestão política, como a luta contra a miséria e a fome ou a igualdade de direitos. E como já desde Montesquieu ficou dito que a virtude é a característica insubstituível da democracia, a própria gestão política tem de respeitar uma norma deontológica que combata a sua deriva para formas corruptas de cleptocracia, em cujas sujas tabernas o benefício dos partidos e dos políticos substitui o da sociedade de que devem ser instrumentos. Mas o núcleo essencial do ímpeto ético está subjacente sob as modas, novidades e propósitos de universal regeneração, sendo muito parecido ao que já tantas vozes formularam ao longo da história: que o humano reconheça o humano e se reconheça no humano, que a liberdade oriente a vida e que a vida – a boa vida, não o puro fenómeno biológico – assinale os limites devidos à liberdade.
Fernando Savater, O Conteúdo da
Felicidade
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