O argumento da
responsabilidade. O pressuposto de que temos livre-arbítrio está
profundamente enraizado nas nossas formas habituais de pensar. Ao reagir a
outras pessoas, não conseguimos deixar de as ver como autoras das suas ações.
Consideramo-las responsáveis, censurando-as caso se tenham comportado mal e
admirando-as caso se tenham comportado bem. Para que estas reações estejam
justificadas, parece necessário que as pessoas tenham livre –arbítrio.
Outros sentimentos humanos importantes, como o orgulho e a vergonha, também
pressupõem o livre-arbítrio. Alguém que conquista uma vitória ou tem sucesso
num exame pode sentir-se orgulhoso, enquanto alguém que desiste ou faz batota
pode sentir-se envergonhado. Porém, se as nossas acções se devem sempre a
factores que não controlamos, os sentimentos de orgulho e de vaidade são
infundados. Estes sentimentos são uma parte inescapável da vida humana. Assim,
uma vez mais, parece inescapável que nos concebamos como livres.
Podemos, portanto, raciocinar desta forma:
1. Não conseguimos deixar de admirar ou de censurar as pessoas pelo que fazem,
nem conseguimos deixar de, por vezes, sentir orgulho ou vergonha pelo que
fazemos.
2. Estas reações – admiração, censura, orgulho e vergonha – não seriam
apropriadas se as pessoas não tivessem livre-arbítrio.
3. Logo, temos de acreditar que as pessoas têm livre-arbítrio.
4. Dado que temos de ter essa crença, temo-la de facto: as pessoas têm
livre-arbítrio.
Este é um exemplo daquilo que Immanuel Kant (1724-1804) designou por «argumento
transcendental». Kant, que muitos consideram o maior dos filósofos modernos,
observou que não conseguimos deixar de acreditar em certas coisas. Sendo assim,
não conseguimos deixar de acreditar também naquilo que é necessário para que
essas crenças sejam verdadeiras. Suponha-se que não conseguimos deixar de
acreditar que X. Mas X pressupõe Y. Logo, disse Kant, não temos escolha: temos
de presumir que é verdade que Y.
O problema dos argumentos deste tipo é óbvio. As crenças originais podem ser
falsas, ainda que sejam psicologicamente inescapáveis. Se soubéssemos que as
crenças originais são verdadeira – que as pessoas são censuráveis e que o
orgulho é justificado - , poderíamos concluir que tudo o que essas crenças
implicam também é verdade. Contudo, se não sabemos se as crenças são
verdadeiras, não podemos extrair justificadamente quaisquer conclusões a partir
delas. Não podemos concluir que temos livre-arbítrio a partir do simples facto
de o livre-arbítrio ser implicado por crenças que temos, mas que não constituem
conhecimento.
James
Rachels, Elementos da Filosofia Moral
Os fenómenos físicos são determinados mas as ações humanas resultam de deliberações racionais e podem alterar o curso dos acontecimentos do mundo
- Nem todos os acontecimentos estão submetidos ao mesmo tipo de causalidade
- A causalidade natural rege o mundo físico
- Os agentes humanos são causa de ações que produzem efeitos no mundo
- A causalidade livre é própria de algumas ações dos seres humanos
- As ações não são o desfecho inevitável de ações anteriores
- Se há ações livres, os agentes humanos são responsabilizáveis por elas
Assim sendo, o determinismo é falso e a crença na liberdade e na responsabilidade é verdadeira
OBJEÇÕES
· As deliberações e escolhas podem ser determinadas por desejos e crenças
· Para o libertismo o livre arbítrio é incompatível com o determinismo
· As escolhas não são livres
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