“O nosso conhecimento e as nossas expectativas do que iremos provavelmente ver afetam o que vemos de facto. (…) O que normalmente vemos depende daquilo a que chamamos o “enquadramento mental”. Nigel Warburton
Popper afirma o primado da teoria sobre a observação. A ciência é um processo no qual o cientista nunca começa do nada, parte sempre de informação, pressupostos e ideias. Toda a observação está impregnada de teoria no sentido em que esta condiciona e orienta o modo de ver, a seleção/valorização de uns aspetos em detrimento de outros. A observação supõe já uma interpretação, o que está de acordo com a perspectiva de que “o que vemos depende daquilo a que chamamos enquadramento mental”
Podemos considerar que o paradigma em vigor, que, segundo Khun, orienta a “ciência normal”, enquanto conjunto de conceitos fundamentais e procedimentos padronizados, aceites pela comunidade científica que orientam a prática científica numa determinada época, constitue um “enquadramento mental do cientista”.
Mas, ao contrário de Popper, Khun afirma uma concepção descontinuista da evolução da ciência, uma vez que esta evolui por Revoluções científicas, isto é, transformações radicais dos modelos ou quadros explicativos, em que assentava a visão do mundo por eles concebidos.
De facto, no decorrer da produção da ciência normal (conhecimentos produzidos com base no paradigma estabelecido) podem surgir anomalias ou fatos problema, não explicáveis ou resolúveis à luz do paradigma vigente, podendo dar origem a um momento de crise ou “Ciência extraordinária”, onde se confrontam propostas novas de explicação, incompatíveis com os quadros explicativos e procedimentos do paradigma antigo.
Da situação de crise pode surgir o alargamento ou reformulação do paradigma, de modo integrar os novos dados, resolvendo a anomalia, ou, o confronto de propostas explicativas da ciência normal dá origem a novos quadros explicativos impondo-se um novo paradigma. Este configura a realidade de uma forma radicalmente nova, incompatível com o paradigma anterior. Esta impossibilidade de comparar os paradigmas mediante um critério comum, esta imcompatibilidade entre modos de conceber a realidade e a ciência, tem o nome de Incomensorabilidade dos paradigmas.
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