sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

A retórica como manipulação




No diálogo Górgias, o tema central é a retórica, ligada à democracia e à educação dos jovens. Surge aqui a oposição entre os sofistas e os filósofos a propósito deste tema.

Com base no método dialético que consiste em colocar questões ao interlocutor para que, a partir da definição dos assuntos que investiga, se aproxime da verdade, Sócrates que reconhece a sua ignorância, interroga Górgias — um mestre da Retórica — sobre a importância e o poder da retórica.
Sócrates procura, mediante a definição de arte/techné, clarificar os conceito conhecimento e opinião, e adulação e verdade.
O título do diálogo deve-se ao facto de ter sido Górgias que introduziu a Retórica em Atenas, tendo sido considerado o primeiro responsável pela sua prática demagógica.


SÓCRATES: Dizias há pouco que até em questão de saúde o orador é mais persuasivo do que o médico.
GÓRGIAS: Sim, perante uma multidão.
SÓCRATES: Perante uma multidão quer dizer, certamente, perante aqueles que não sabem, porque, perante aqueles que sabem, o orador não pode ser mais persuasivo do que o médico.
GÓRGIAS: Dizes bem.
SÓCRATES: Nesse caso, se ele for mais persuasivo do que o médico, será mais persuasivo do que aquele que sabe.
GÓRGIAS: Sem dúvida.
 SÓCRATES: E isto sem ser médico, não é verdade?
GÓRGIAS: Sim.
SÓCRATES: Mas aquele que não é médico não é ignorante nas matérias em que o médico é entendido?
 GÓRGIAS: Claro que é.
SÓCRATES: Nesse caso, se ele formais persuasivo do que o médico, é um ignorante a ser mais persuasivo do que um entendido perante uma multidão de ignorantes. É realmente isto que sucede ou é outra coisa?

GÓRGIAS: No caso presente é o que sucede.
SÓCRATES: E não estão o orador e a retórica na mesma situação relativamente a todas as outras artes? Não precisa a retórica de conhecer a natureza das coisas, mas tão-somente de encontrar um meio qualquer de persuasão que a faça aparecer aos olhos dos ignorantes como mais entendidos do que os entendidos.
                                                                                             (PLATÃO, Górgias)


MANIPULAÇÃO
Tira partido das limitações do auditório
Recorre a argumentos falaciosos
Não se dirige ao pensamento do auditório mas à emoção
Trata o auditório como instrumento (meio para atingir os seus interesses)
PERSUASÃO RECIONAL
Persuasão racional do auditório
Dirige-se à inteligência do auditório para que este compreenda os seus argumentos



Platão  
O objectivo dos filósofos é a procura da verdade
Distinção entre aparência e realidade, conhecimento sensível e conhecimento racional
Só o verdadeiro conhecimento merece ser defendido
Sofistas
A verdade é um ponto de vista, toda a verdade é relativa
Qualquer opinião é defensável
A verdade é a tese do orador que vence a discussão (com melhor desempenho argumentativo)



De que forma se opõe Platão à retórica?
Retórica e Filosofia

3 comentários:

  1. A retórica surgiu na Grécia Antiga e com ela os sofistas, com o objectivo particular de preparar os jovens com aspirações políticas ou juridicas. A Democracia está ligada, por isso mesmo, à retórica. Esta é a arte de bem falar, de argumentar e de mostrar eloquência perante um público para que este aceite a tese que é defendida pelo orador. O discurso retórico tem sobretudo por base a persuasão, que é uma característica muito usada por aqueles que exercem o poder político. O orador, neste caso, preocupa-se mais com a forma de dizer e com o uso das técnicas de persuasão do que propriamente transmitir um saber. Desta forma, através do discurso argumentativo, os sofistas usam a retórica para a manipulação dos cidadãos, mostrando-lhes que a sua tese é que é a verdadeira e não a dos próprios. Platão opõe-se claramente a este tipo de ensino, pois a retórica opõe-se à Filosofia, que tem objectivos de investigação, esclarecimento e compreensão. É vista como um meio para a procura da verdade e para aperfeiçoar o Homem enquanto ser. Para Platão, é através do discurso argumentativo dos filósofos que se consegue através do diálogo atingir a verdade, pois só esta realmente importa.

    Alexandra Almeida

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  2. A rétorica consiste nos principais meios ou recursos persuasivos de que se vale o orador para convencer o auditório. Estes meios de persuasão são aqueles que o próprio orador inventa para incorporar a sua própria argumentação, tendo em conta 3 dimensões: o carácter do orador, a emoção do auditório e o discurso em si.
    Esta arte, também conhecida como: "a arte do bem falante" é familiar aos que exercem um poder politico e é muito utilizada nos seus discursos com a intenção de persuadir e não de transmitir uma informação - levando a retórica a um nível de manipulação, em que o orador argumenta para tirar partido de algo ou para impingir a sua tese ao auditório; sem qualquer preocupação para com a procura da verdade (tendo em conta que acreditam no relativismo).
    Ora este uso da retórica é completamente oposto ao da filosofia. Os filósofos, de certa forma, também usam a retórica; usam-na para estruturar os seus argumentos e para captar a atenção do auditório, mas nunca para persuadir ou manipular. A filosofia procura a verdade atravéz de pesquisas, investigações, tem um carácter auto-didáctico e pertende aperfeiçoar o ser humano. E é por isto que platão se opõe à retórica: porque a verdade apenas se alcança através da investigação e compreenção da realidade.

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  3. Segundo Platão a retórica serve pelo meio da arte de bem falar, defender uma ideia, defendendo esta com argumentos validos a todos, persuadindo-os a concordar com a suas ideias, enquanto a retórica para os sofistas era apenas uma ferramenta que pelo meio da manipulação levava aos outros as suas ideias feitas como verdades absolutas e irrefutáveis conforme lhes dava mais jeito, para os sofistas a verdade era apenas um ponto de vista, era relativa, e servia apenas para o uso da justificação dos fins a serem alcançados. Devido a esse uso da retórica, Platão opunha-se a esta, pois a retórica não deveria de servir para entregar verdades feitas mas para persuadir o auditório a acreditar numa verdade através de argumentos com sentido, bem formados e que defendessem a tese em causa.
    André Milho Costa nº3 11ºB

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