Popper chama a isto o "problema da demarcação" — qual é a diferença entre a ciência e outras formas de crença? A sua resposta é que a ciência, ao contrário da superstição, pelo menos é falsificável, mesmo que não possa ser provada. As teorias científicas estão formuladas em termos precisos, e por isso conduzem a previsões definidas. As leis de Newton, por exemplo, dizem-nos exactamente onde certos planetas aparecerão em certos momentos. E isto significa que, se tais previsões fracassarem, poderemos ter a certeza de que a teoria que está por detrás delas é falsa.
sábado, 28 de abril de 2012
A perspetiva falsificacionista
1. Indução
Uma
linha de resposta bastante diferente para o problema da indução deve-se a Karl
Popper. Popper olha para a prática da ciência para nos mostrar como lidar com o
problema. Segundo o ponto de vista de Popper, para começar a ciência não se
baseia na indução. Popper nega que os cientistas começam com observações e
inferem depois uma teoria geral.
O problema da indução
Alguém pode dizer: "De facto, não podemos deduzir validamente proposições sobre o futuro de proposições sobre o passado; isso seria uma dedução e nós não a temos neste caso. Mas os indícios aqui são indutivos: a indução dá-nos probabilidades, não certezas, mas diz-nos que se as pedras sempre caíram há a probalidade, não a certeza, de que cairão amanhã." Mas isto, claro, é o que Hume põe em questão: a aceitabilidade dos argumentos indutivos. Dizer que há evidência indutiva de que a indução continuará a ser fiável é assumir o que está em questão:
Dizeis que uma proposição [sobre o futuro] é uma inferência da outra [sobre o passado]; mas tendes de admitir que a inferência não é nem intuitiva nem demonstrativa. Então de que natureza é? Dizer que é experimental é assumir o que está em questão. Todas as inferências com base na experiência supõem, como seu fundamento, que o futuro se assemelhará ao passado… É impossível, portanto, que quaisquer argumentos baseados na experiência possam provar esta semelhança do passado com o futuro, uma vez que todos estes argumentos se fundam na suposição dessa semelhança. Admitamos que o curso das coisas tem sido até agora bastante regular, por si só, sem qualquer novo argumento ou inferência, isso não prova que no futuro o continuará a ser.
Hume, “Dúvidas céticas relativas às operações do entendimento
Tradução de José coelho in http://www.filedu.com/jhospersproblemadainducao.htmlQual a objeção de Hume à indução?

terça-feira, 24 de abril de 2012
25 de Abril por Helena Vieira da Silva
Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992), pintora de origem portuguesa, nasceu em Lisboa, no seio de uma família que cedo estimulou o seu interesse pela pintura, pela leitura e pela música, filha única de Marcos Vieira da Silva e Maria da Silva Graça. Os três primeiros anos da sua vida são pontuados por viagens a França e Inglaterra, e em 1910, a doença do pai leva-os a Leysin, na Suíça. Após a morte do pai, em 1911, Vieira e a mãe regressam a Portugal onde cresce num ambiente intelectualmente rico mas frequentado quase exclusivamente por adultos. No final do Verão de 1913, depois de uma estadia de dois meses em Inglaterra marcada pela descoberta dos museus e do teatro de Shakespeare, Vieira recorda ter decidido tornar-se pintora. Depois de ter estudado desenho, pintura e escultura em Lisboa, vai para Paris em 1928, insatisfeita com o ensino ministrado na Escola de Belas Artes de Lisboa, num período politicamente instável face ao avanço do fascismo e culturalmente pouco estimulante. Em Paris deslumbra-se com a agitação da capital francesa num período rico na partilha de ideias por parte de artistas plásticos, escritores, músicos e bailarinos...
A Justiça como equidade
John Rawls
(1921- 2004)
"Os sujeitos colocados na situação inicial escolheriam dois princípios bastante diferentes: o primeiro exige a igualdade na atribuição dos direitos e deveres básicos, enquanto o segundo afirma que as desigualdades económicas e sociais, por exemplo as que ocorrem na distribuição da riqueza e poder, são justas apenas se resultarem em vantagens compensadoras para todos e, em particular, para os mais desfavorecidos membros da sociedade. Decorre destes princípios que as instituições não podem ser justificadas pelo argumento de que as dificuldades de alguns são compensadas por um maior bem total. Pode, em certos casos, ser oportuno que alguns tenham menos para que outros possam prosperar, mas tal não é justo. Porém, não há injustiça no facto de alguns conseguirem benefícios maiores que outros, desde que a situação das pessoas menos afortunadas seja, por esse meio, melhorada. A ideia intuitiva é a seguinte: já que o bem-estar de todos depende de um sistema de cooperação sem o qual ninguém poderia ter uma vida satisfatória, a divisão dos benefícios deve ser feita de modo a provocar a cooperação voluntária de todos os que nele tomam parte, incluindo os que estão em pior situação. No entanto, tal só pode acontecer se os termos propostos forem razoáveis. Os dois princípios atrás mencionados parecem constituir uma base equitativa para um acordo, na base do qual os mais bem dotados, ou os que tiveram mais sorte na sua posição social — vantagens essas que não foram merecidas —, podem esperar obter a colaboração voluntária de outros, no caso de um sistema efectivo de cooperação ser uma condição necessária para o bem-estar de todos. Quando tentamos encontrar uma concepção de justiça que elimine os acasos da distribuição natural de qualidades e as contingências sociais como vantagens na busca de benefícios económicos e políticos, é a estes princípios que somos conduzidos. Eles são o resultado do facto de excluirmos os aspectos da realidade social que parecem arbitrários de um ponto de vista moral".
JOHN RAWLS, Uma Teoria da Justiça
Como se justifica moralmente a desigualdade económica?
Condições para a sociedade Justa:
- Assegurar as liberdades básicas - princípio de igual liberdade
- As posições sociais mais vantajosas devem estar ao alcance de todos - princípio da igualdade de oportunidades.
- As desegualdades sócio económicas são admossíveis se funcionarem a favor de todos, sobretudo dos mais desfavorecidos - princípio da diferença.
domingo, 22 de abril de 2012
A justiça como utilidade
"Numa associação industrial cooperativa, será ou não justo que o talento ou a perícia dêem direito a uma remuneração superior? Do lado de quem responde negativamente, afirma-se que quem dá o melhor que pode merece o mesmo, e não deve, à luz da justiça, ser colocado numa posição de inferioridade por coisas de que não tem culpa; que as capacidades superiores encerram em si vantagens mais que suficientes, pela admiração que suscitam, a influência pessoal que exercem, e pelas fontes de satisfação que as acompanham, sem a necessidade de adicionar a estas uma maior fatia dos bens do mundo; e que, pelo contrário, a sociedade está obrigada em justiça a compensar os menos favorecidos por esta imerecida desigualdade de benefícios, e não a agravá-la. No lado contrário defende-se que a sociedade recebe mais do trabalhador mais eficiente; que, sendo os seus serviços mais úteis, a sociedade lhe deve uma retribuição maior por eles; que uma maior fatia do resultado conjunto é na verdade obra sua, e não lhe reconhecer o direito a ela é uma espécie de roubo; que se ele receber apenas o mesmo que os outros, pode apenas exigir-se-lhe, em justiça, que produza o mesmo, e dedique uma menor percentagem de tempo e esforço, proporcionais à sua eficiência superior. Quem decidirá entre estes apelos a princípios de justiça contraditórios? A justiça tem neste caso duas faces, que é impossível harmonizar, e os dois contendores escolheram lados opostos; um deles olha para o que seria justo que o indivíduo recebesse, o outro para o que seria justo que a comunidade lhe concedesse. Cada uma destas posições é, do seu próprio ponto de vista, incontestável; e qualquer escolha entre elas, com base na justiça, terá de ser completamente arbitrária. Só a utilidade social pode decidir a prioridade".
Stuart Mill, Utilitarismo
1. Que problema é tratado no texto?
2. Que tese é defendida?
3. Que argumento é apresentado para defender a tese?
sábado, 21 de abril de 2012
As teorias contratualistas de Hobbes e Locke
Hobbes
(1588-1679)
“Portanto tudo aquilo que é válido para um tempo de guerra, em que todo homem é inimigo de todo homem, o mesmo é válido também para o tempo durante o qual os homens vivem sem outra segurança senão a que lhes pode ser oferecida por sua própria força e sua própria intenção. Numa tal situação não há lugar para a indústria, pois seu fruto é incerto; consequentemente não há cultivo da terra, nem navegação, nem uso das mercadorias que podem ser importadas pelo mar; não há construções confortáveis, nem instrumentos para mover e remover as coisas que precisam de grande força; não há conhecimento da face da Terra, nem cômputo do tempo, nem artes, nem letras; não há sociedade; e o que é pior do que tudo, um constante temor e perigo de morte violenta. E a vida do homem é solitária, pobre, sórdida, embrutecida e curta.
(…) A única maneira de instituir um tal poder comum, capaz de defendê-los das invasões dos estrangeiros e das injúrias uns dos outros, garantindo-lhes assim uma segurança suficiente para que, mediante seu próprio labor e graças aos frutos da terra, possam alimentar-se e viver satisfeitos, é conferir toda sua força e poder a um homem, ou a uma assembleia de homens, que possa reduzir suas diversas vontades, por pluralidade de votos, a uma só vontade. O que equivale a dizer: designar um homem ou uma assembleia de homens como representante de suas pessoas, considerando-se e reconhecendo-se cada um como autor de todos os actos que aquele que representa sua pessoa praticar ou levar a praticar, em tudo o que disser respeito à paz e segurança comuns; todos submetendo assim suas vontades à vontade do representante, e suas decisões à sua decisão.(…) É como se cada homem dissesse a cada homem: Cedo e transfiro meu direito de governar-me a mim mesmo a este homem, ou a uma assembleia de homens, com a condição de transferires a ele o teu direito, autorizando de maneira semelhante todas as suas acções. Feito isto, à multidão assim unida numa só pessoa se chama Estado, em latim civitas. (…)
Hobbes, Leviathan
Thomas Hobbes - aspetos
principais da sua teoria
1.
Ideia de que o homem é mau por natureza
2.
O Estado deve garantir a segurança e paz social
Como procede o cientista para conhecer a realidade?
“O salmão prateado nasce nas correntes frias do noroeste do Oceano Pacífico. O pequeno peixe nada até ao Pacífico Sul, onde poderá passar até cinco anos para atingir a maturidade física e sexual. Em seguida, em resposta a algum estímulo desconhecido, volta às correntes frias para desovar. Acompanhando o roteiro do peixe, descobre-se um facto curioso. Ele volta, quase sempre, precisamente ao seu local de origem. Eis aqui um facto-problema que pede explicação. Como é possível que o peixe identifique exactamente o lugar onde nasceu, depois de tantos anos e de percorrer tão longa distância?
Uma das hipóteses sugeridas para explicar o retorno foi a de que o salmão descobre o caminho de hipotético dedutivo volta reconhecendo objectos que identificou durante a primeira viagem. Se esta hipótese estivesse correcta, então, vendando os olhos do salmão, ele não conseguiria voltar. Daí temos:
H1: o salmão utiliza apenas os estímulos visuais para encontrar o seu caminho de volta.
Consequência preditiva: o salmão x, com os olhos vendados, não será capaz de voltar.
Suponha-se que o salmão x, com os olhos vendados, encontre o seu caminho de volta. O resultado dessa experiência falseia a hipótese. Por outro lado, suponha-se que o peixe com os olhos vendados não encontre o caminho de volta. Este resultado seria capaz de verificar, assegurar a verdade da hipótese do estímulo visual? Não. Apenas podemos afirmar que o resultado experimental apoiou a hipótese.(...)
As experiências realizadas para testar a predição da hipótese acima revelaram que todos os salmões com os olhos vendados conseguiram voltar ao seu lugar de origem, o que desconfirma a hipótese.
Nova hipótese foi apresentada para explicar o fenómeno. Desta vez pelo Dr. Hasler da Universidade de Wisconsin, EUA, que formulou a hipótese de que o salmão conseguiu voltar ao seu lugar de origem identificando o caminho pelo olfacto. Se a hipótese fosse verdadeira, bloqueado o olfacto do salmão, ele seria incapaz de identificar o caminho de volta. Daí segue-se:
H2: o salmão identifica o caminho pelo olfacto.
Predição: bloqueado o olfacto, o peixe não será capaz de identificar o caminho.
Para efectuar o teste da hipótese, o Dr. Hasler realizou experiências com salmões que haviam tido o olfacto bloqueado. Os peixes não conseguiram voltar. Esse resultado confirmou a hipótese.”
Leónidas, H. Iniciação à lógica e à metodologia das ciências
1- Qual o método usado pelo investigador?
2- Qual o problema com que o investigador se confrontou?
3- Formule a hipótese que o investigador sugeriu.
4- Que consequências preditivas se inferiram da hipótese?
5- Como submeter as consequências a verificação/experimentação, a fim de confirmar ou refutar a hipótese?
5- Quais os momentos fundamentais deste método?
Trabalho de Grupo/Plano de Projeto
Trabalho de Grupo - 11º B
DESAFIOS E HORIZONTES DA FILOSOFIA
OPÇÃO A - A FILOSOFIA NA CIDADE
OPÇÃO B - A FILOSOFIA E O SENTIDO
FICHA DE PLANO DE PROJETO
sexta-feira, 20 de abril de 2012
Trabalho de Grupo/ Plano de Projeto
Temas/problemas do mundo contemporãneo
Trabalho 10ºA
Trabalho 10ºA
Opção 1- Os Direitos Humanos e a Globalização
Opção 2- A Responsabilidade Ecológica
Opção 3- Manipulação e Meios de Comunicação de Massas
Ficha de Plano do Projeto
Metodologia do Trabalho Escolar
Ficha de Plano do Projeto
Metodologia do Trabalho Escolar
segunda-feira, 9 de abril de 2012
O problema da justificação do estado
"Pensa por momentos na tua própria sujeição política. Estás continuamente a ser sujeito a regras de que não és o autor — designadas por "leis" — que te governam não apenas a ti mas aos outros, que impõe, por exemplo, a velocidade a que deves andar na auto-estrada, o comportamento que deves ter em público, que tipo de acções para com os outros são permissíveis, que objectos contam como "teus" ou "deles", e assim sucessivamente. Estas regras são impostas por determinadas pessoas que seguem as directivas daqueles que as criaram definindo também punições para o caso de não serem cumpridas. Sabes ainda que se não obedeceres a estas regras, é bastante provável que sofras consequências indesejáveis, que podem ir de pequenas multas à prisão e até (em certas sociedades) à morte.
A sensação que tens quando és governado é a de que não és subjugado nem coagido. Se não aprovamos que um homem aponte uma arma à tua cabeça e que exige que lhe dês o teu dinheiro, então por que havemos de aprovar que qualquer grupo ameace recorrer a multas, ou à prisão, ou à pena de morte para que te comportes de uma certa forma, ou para que lhe dês o teu dinheiro (a que chamam "impostos") ou para que lutes em guerras que eles provocaram? Será esta sujeição realmente permissível de um ponto de vista moral, especialmente porque os seres humanos precisam de liberdade para se aperfeiçoarem?"
Jean Hampton
O Estado é uma instituição que regula e organiza a vida social exercendo o seu poder e autoridade sobre os cidadãos. Para que exista estado quem obedece deve aceitar a autoridade dos que mandam.
Mas por que devemos obedecer?
A justiça no Direito, na política e na ética
Quando se fala hoje da justiça, pensa-se imediatamente nos tribunais que devem "fazer justiça" ou restituir a justiça.
Os juízes, contudo, devem regular-se pelo Direito Penal, precisamente porque este determina o que é uma sanção "justa"; num sentido mais lato, contudo, é todo o Direito que é ciência do justo. O direito organiza a sociedade nas suas relações jurídicas, [...] Mas é de notar que as leis são elaboradas pelos respetivos órgãos de soberania que estruturam a realidade política. [...] São, portanto, os poderes políticos que assumem a responsabilidade pela justiça que reina numa determinada sociedade política.
Michel Renaud
Ética, Direito e política
Um conjunto de normas chama-se [...] Direito quando é exteriormente garantido por um número de pessoas - magistrados, polícias, etc, - especialmente incumbido de o fazer respeitar pela força e de punir a sua violação.
Max Weber
Os homens não se associam tendo em vista apenas a existência material, mas, antes, a vida feliz, pois, se fosse de outra forma, uma coletividade de escravos ou de animais seria um estado, quando, na realidade, isto é uma coisa impossível, porque esses seres não têm qualquer participação na felicidade, nem na vida fundamentada em uma vontade livre.
Aristóteles
terça-feira, 13 de março de 2012
Conflito de Deveres
“Durante a Segunda Guerra Mundial, os pescadores holandeses transportavam, secretamente nos seus barcos, refugiados judeus para Inglaterra e os barcos de pesca com refugiados a bordo eram por vezes interceptados por barcos patrulha nazis. O capitão nazi perguntava então ao capitão holandês qual o seu destino, quem estava a bordo, e assim por diante. Os pescadores mentiam e obtinham permissão de passagem. Ora, é claro que os pescadores tinham apenas duas alternativas, mentir ou permitir que os seus passageiros (e eles mesmos) fossem apanhados e executados. Não havia terceira alternativa.”
(Filosofia, 10º ano, Plátano Editora)
O que fazer? A teoria de Kant dá resposta a esta situação?
Juízos de facto e juízos de valor
Juízo de facto
Descrição impessoal de uma realidade, do que aconteceu sem interpretação ou apreciação.
Informa-nos acerca de factos, coisas, acontecimentos ou acções.
O Juízo de facto pode ser verdadeiro ou falso, pode ser afirmado ou negado pela experiência.
Estes juízos são descritivos ou afirmativos, não prescrevem o que se pode ou deve fazer.
Descrição impessoal de uma realidade, do que aconteceu sem interpretação ou apreciação.
Informa-nos acerca de factos, coisas, acontecimentos ou acções.
O Juízo de facto pode ser verdadeiro ou falso, pode ser afirmado ou negado pela experiência.
Estes juízos são descritivos ou afirmativos, não prescrevem o que se pode ou deve fazer.
Ex: A Guernica foi pintada por Picasso
Juízo de valor
Apreciação dos aontecimentos que manifesta preferências relativamente a um dever ser.
Avalia acontecimentos, coisas e acções.
Refere-se a valores ou princípios que servem de base à avaliação.
Podem ser normativos ou prescritivos.
Apreciação dos aontecimentos que manifesta preferências relativamente a um dever ser.
Avalia acontecimentos, coisas e acções.
Refere-se a valores ou princípios que servem de base à avaliação.
Podem ser normativos ou prescritivos.
Ex: A Guernica é o quadro mais belo de Picasso
Quem
tem uma perspetiva objectivista dos valores considera que os juízos de valor
podem ser verdadeiros ou falsos.
Mas não podem os juízos de valor ter valor de verdade?
domingo, 11 de março de 2012
domingo, 4 de março de 2012
A escolha de Sofia
Uma mulher polaca, com os seus dois filhos é presa num campo de concentração de Auschwitz. Os nazis colocam-na perante um terrível dilema: um dos filhos pode ser poupado à câmara de gaz mas tem de ser ela a escolher. Obrigada, acaba por escolher. Salva o seu filho mais velho e sacrifica a filha mais nova e mais frágil. Decidiu assim porque pensou que sendo o filho mais forte, tinha mais probabilidades de resistir e sobreviver nas duras condições do campo de concentração.
Avalia a escolha de Sofia segundo o ponto de vista utilitarista?
O princípio da ação moral
" Duas coisas enchem o meu coração de admiração: o céu estrelado por cima de mim e a lei moral em mim" (Kant, Crítica da Razão Prática)
O Miguel reparou que o professor se esqueceu do telemóvel na secretária. Pegou nele e..
a) Guardou-o e ficou com ele
b) Devolveu-o ao professor para mostrar que era honesto e para que este lhe ficasse grato
c) Devolveu-o ao professor porque o telemóvel era dele
Que avaliação moral podemos fazer de cada uma destas hipóteses?
sábado, 3 de março de 2012
O empirismo de David Hume
Mediante que argumento se poderia provar que as percepções da mente têm de ser causadas por objectos exteriores completamente diferentes delas, embora se lhes assemelhem (se isso for possível), e que não poderiam derivar, seja da força da própria mente, seja da sugestão de algum espírito invisível e desconhecido, seja de alguma causa ainda mais desconhecida? Reconhece-se que, de facto, muitas dessas percepções não surgem de algo exterior, como nos sonhos, na loucura e noutras doenças. [...]
Saber se as percepções dos sentidos são produzidas por objectos que se lhes assemelham constitui uma questão de facto. Como deve ser decidida esta questão? Pela experiência, certamente, como no caso de outras questões de idêntica natureza. Mas aqui a experiência permanece — e tem de permanecer — inteiramente em silêncio. Nada está jamais presente ao espírito a não ser as percepções, e ele não tem maneira de conseguir qualquer experiência da conexão das percepções com os objectos. A hipótese dessa conexão não tem, portanto, qualquer fundamento no raciocínio.
[…]
Este é, portanto, um tópico em que os cépticos mais profundos e filosóficos sempre triunfam, quando se esforçam por introduzir uma dúvida universal em todos os objectos de conhecimento e investigação humanos. Seguis os instintos e tendências naturais, poderiam eles dizer, ao admitir a veracidade dos sentidos? Mas eles levam-vos a acreditar que a própria percepção, ou imagem sensível, é o objecto exterior. Recusais esse princípio, adoptando uma posição mais racional, segundo a qual as percepções são apenas representações de alguma coisa exterior? Mas aqui afastais-vos das vossas propensões naturais e das vossas crenças mais óbvias e, mesmo assim, não sois capazes de satisfazer a vossa razão, a qual continua a ser incapaz de encontrar, a partir da experiência, qualquer argumento convincente para provar que as percepções estão ligadas a quaisquer objectos exteriores.
David Hume, Investigação sobre o Entendimento Humano
Origem do conhecimento - Racionalismo e empirismo
J.
Hessen, Teria do Conhecimento
A posição filosófica
segundo a qual a razão tem um papel preponderante na aquisição de conhecimento.
O racionalismo é assim o oposto do EMPIRISMO. Tal como existem
versões radicais de empirismo que negam à razão qualquer papel na aquisição de
conhecimento, também as versões mais radicais de racionalismo negam aos
sentidos qualquer papel na aquisição de conhecimento. Contudo, ao passo que
ainda hoje em dia há quem defenda posições empiristas radicais, as posições
racionalistas radicais só foram populares na Grécia antiga. As versões mais
moderadas de racionalismo defendem que tanto a razão como os sentidos são
fontes substanciais de aquisição de conhecimento. Há que não confundir a ideia
de que podemos adquirir conhecimento a priori acerca do mundo
com a ideia de que o conhecimento não seria possível sem termos experiência do
mundo. Uma coisa é como adquirimos os conceitos relevantes usados na formulação
das nossas crenças acerca do mundo, os quais podem ser adquiridos através da
experiência; outra coisa é saber se, na posse dos conceitos relevantes, podemos
ou não saber coisas acerca do mundo sem recorrer à experiência. Por exemplo, o
facto de termos adquirido os conceitos de azul e de vermelho através da
experiência perceptiva não nos impede de saber a priori que um
objecto todo vermelho não pode ser azul.
Não se deve
confundir as posições racionalistas tradicionais com a defesa de uma capacidade
racional de intuição responsável pelo nosso conhecimento a
priori. Por exemplo, como sabemos que ou chove ou não chove? Porque
num certo sentido podemos "ver" através da nossa intuição racional
que isso é verdade. Os primeiros grandes filósofos racionalistas foram DESCARTES, LEIBNIZ e ESPINOSA. As
posições racionalistas foram praticamente rejeitadas durante o séc. XIX com a
descoberta de geometrias não-euclidianas. Graças ao trabalho de filósofos como
Thomas Nagel (n. 1937) e Laurence Bonjour (n. 1943) o racionalismo volta a
estar hoje na ordem do dia.
2. Num
sentido mais geral, o racionalismo é a ideia de que só racionalmente podemos
chegar às verdades acerca do mundo. Tanto a experiência como a razão são
métodos racionais de aquisição de conhecimento, por oposição aos processos
místicos, como a fé ou a revelação divina.
Dicionário Escolar de Filosofia, Plátano
Editora: http://www.defnarede.com/r.html
terça-feira, 28 de fevereiro de 2012
Ações por dever e ações em conformidade com o dever
“É na verdade conforme ao dever que o merceeiro não suba os preços ao comprador inexperiente (...) Mantém um preço fixo geral para toda a gente, de forma que uma criança pode comprar na sua mercearia tão bem como qualquer outra pessoa. É-se, pois, servido honradamente; mas isso ainda não é bastante para acreditar que o comerciante tenha assim procedido por dever e princípios de honradez; o seu interesse assim o exigia. A acção não foi, portanto, praticada (...) por dever, mas somente com intenção egoísta. (...)
Pelo contrário, conservar cada qual a sua vida é um dever, e é além disso uma coisa para que toda a gente tem inclinação imediata. Mas por isso mesmo é que o cuidado que a maioria dos Homens lhe dedica não tem nenhum valor intrínseco e a máxima que o exprime nenhum conteúdo moral. Os Homens conservam, habitualmente, a sua vida, conforme ao dever, sem dúvida, mas não por dever. Em contraposição, quando as contrariedades e o desgosto sem esperança roubaram totalmente o gosto de viver; quando o infeliz (…) deseja a morte e contudo conserva a vida sem a amar, não por inclinação ou medo, mas por dever, então a sua máxima tem conteúdo moral.”
Kant, Fundamentação da metafísica dos Costumes
A acção boa será a que respeita as normas? Qual a distinção entre legalidade e moralidade?
O que são acções em conformidade com o dever e acções por dever?
A Fundamentação da moral
De todas as coisas que podemos conceber neste mundo ou mesmo, de uma maneira geral, fora dele, não há nenhuma que possa ser considerada como boa sem restrição, salvo uma boa vontade. O entendimento, o espírito, o juízo e os outros talentos do espírito, seja qual for o nome que lhes dermos, a coragem, a decisão, a perseverança nos propósitos, como qualidades do temperamento, são, indubitávelmente, sob muitos aspectos, coisas boas e desejáveis; contudo, também podem chegar a ser extrordináriamente más e daninhas se a vontade que há-de usar destes bens naturais, e cuja constituição se chama por isso carácter, não é uma boa vontade. O mesmo se pode dizer dos dons da fortuna. O poder, a riqueza, a consideração, a própria saúde e tudo o que constitui o bem-estar e contentamento com a própria sorte, numa palavra, tudo o que se denomina felicidade, geram uma confiança que muitas vezes se torna arrogância, se não existir uma boa vontade que modere a influência que a felicidade pode exercer sobre a sensibilidade e que corrija o princípio da nossa actividade, tornando-o útil ao bem geral; acrescentemos que num espectador imparcial e dotado de razão, testemunha da felicidade ininterrupta de uma pessoa que não ostente o menor traço de uma vontade pura e boa, nunca encontrará nesse espectáculo uma satisfação verdadeira, de tal modo a boa vontade parece ser a condição indispensável sem a qual não somos dignos de ser felizes.
(...) A boa vontade não é boa pelo que produz e realiza, nem por facilitar o alcance de um fim que nos proponhamos, mas apenas pelo querer mesmo; isto quer dizer que ela é boa em si e que, considerada em si mesma, deve ser tida em preço infinitamente mais elevado que tudo quanto possa realizar-se por seu intermédio em proveito de alguma inclinação, ou mesmo, se se quiser, do conjunto de todas as inclinações.
Emmanuel Kant, Fundamentação da Metafísica dos Costumes
- O que é a boa vontade?
quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012
Visita de Estudo
No dia 16 de Fevereiro a turma realizou uma visita de estudo ao Museu Nacional de Teatro e à Assembleia da República, no âmbito das Disciplinas de Formação Cívica, Português e Filosofia.
segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012
A dúvida metódica e o acesso à verdade
(...) Mas, porque agora desejava dedicar-me apenas à procura da verdade, pensei que era forçoso que eu fizesse exactamente ao contrário e rejeitasse, como absolutamente falso, tudo aquilo em que pudesse imaginar a menor dúvida, a fim de ver se, depois disso, não ficaria alguma coisa na minha crença a, que fosse inteiramente indubitável. Assim, porque os nossos sentidos nos enganam algumas vezes, quis supor que não existe coisa alguma que seja tal como eles a fazem imaginar. E porque há homens que se enganam ao raciocinar, mesmo a propósito dos mais simples temas de geometria, e neles cometem paralogismos, ao considerar que eu estava sujeito a enganar-me, como qualquer outro, rejeitei como falsas todas as razões de que anteriormente me servira nas demonstrações. Finalmente, considerando que todos os pensamentos que temos no estado de vigília nos podem também ocorrer quando dormimos, sem que, neste caso, algum seja verdadeiro, resolvi supor que todas as coisas que até então tinham entrado no meu espírito não eram mais verdadeiras do que as ilusões dos meus sonhos. Mas, logo a seguir, notei que, enquanto assim queria pensar que tudo era falso, era de todo necessário que eu, que o pensava, fosse alguma coisa. E notando que esta verdade: penso, logo, existo, era tão firme e tão certa que todas as extravagantes suposições dos cépticos não eram capazes de a abalar, julguei que a podia aceitar, sem escrúpulo, para primeiro princípio da filosofia que procurava.
Descartes, Discurso do Método
Descartes procura encontrar um fundamento do conhecimento seguro. Para isso recorre à dúvida como método – dúvida metódica -, tomando como falsas todas as nossas crenças acerca das quais se possa levantar a mais pequena dúvida, para ver se há crenças que resistam à dúvida, que se imponham como indubitáveis (das quais não se possa duvidar).
O recurso à dúvida é um meio para chegar à certeza.
Níveis de aplicação da dúvida:
Os sentidos não são completamente fiáveis
Os sentidos enganam-nos algumas vezes, devemos considerar que nos enganam sempre – dúvida hiperbólica
O mundo físico é uma ilusão – argumento do sonho (dúvida das crenças a priori)
Não podemos distinguir de forma segura as experiências do sono da vigília.
É possível que estejamos a sonhar quando pensamos estar acordados.
É possível que tudo o que observamos seja ilusão.
As crenças a priori podem ser falsas – argumento do génio maligno
“E tendo notado que, no Eu penso, logo existo, não há nada que me garanta que digo a verdade a não ser que vejo muito claramente que, para pensar é preciso existir, julguei que podia tomar como regra geral que as coisas que concebemos muito clara e distintamente são todas verdadeiras, havendo apenas alguma dificuldade em notar bem as que concebemos distintamente. (…)”
Descartes, Discurso do Método
O nosso entendimento pode confundir o verdadeiro com o falso. Mesmo as crenças a priori podem ser falsas, como as que temos no campo da matemática. Uma espécie de deus enganador pode fazer-nos viver uma ilusão.
A dúvida pôs em causa as crenças a priori e a posteriori. Será que tudo é falso?
Há uma certeza que resiste à dúvida. Ainda, Descartes afirma que, ainda que tudo seja falso, é um facto que se encontra a duvidar e que, está, portanto, a pensar. E, se está a pensar, existe como ser pensante.
Assim, a primeira certeza inabalável é o cógito, a crença “penso, logo existo”
O cógito é uma crença básica ou fundacional porque constitui um ponto de partida seguro para o conhecimento.
Mas o que é que torna indubitável a crença de que o cógito existe? Esta certeza não se atinge por meio do raciocínio nem se infere de qualquer outra coisa. A certeza do cógito é dada por intuição racional, uma evidência que se impõe ao espírito como clara e distinta. O cógito é uma ideia clara e distinta.
Assim, encontra Descartes o critério de verdade: clareza e distinção.
Assim o método permite a descoberta:
1- Do cógito como primeira certeza, como crença fundacional
2- Do critério de verdade – clareza e distinção, que permite distinguir as ideias verdadeiras das falsas.
Descartes
O Cogito
Descartes recorreu a argumentos cépticos como um instrumento para chegar ao conhecimento seguro. Apesar de o fazer, Descartes não é um céptico. Vejamos, por exemplo, o argumento do sonho e o argumento do génio maligno. No primeiro, Descartes defende que não é possível fazer a distinção entre estar acordado e estar a sonhar, porque podes sonhar que estás a fazer um teste para te certificares de que estás acordado. No segundo, a suposição de um génio maligno bastante poderoso que se empenha em enganar-te mesmo quando acreditas que 2 + 2 = 4, leva-te a suspender o juízo em relação às verdades lógicas e matemáticas, por mais simples que sejam. Mas por mais que tentes duvidar da tua existência, supondo que estás apenas a sonhar ou a ser enganado por um génio maligno que te leva a pensar que existes, terás nesse momento a certeza de que alguma coisa existe para que ocorra a actividade de duvidar. Terá de haver um sonhador para sonhar a sua própria existência e um enganado para ser enganado. Descartes conclui que, enquanto pensar que está a ser enganado por um génio maligno, terá de existir como ser pensante. Trata-se do famoso cogito ergo sum (penso; logo, existo).
Através de argumentação a priori, Descartes obteve conhecimento acerca de algo que realmente existe: ele próprio como ser pensante. Para compreenderes melhor o que garante este conhecimento teremos de analisar a certeza implicada pelas crenças "Estou a pensar" e "Existo". Em primeiro lugar, ambas são incorrigíveis, o que se define do seguinte modo: se alguém acredita que está a pensar ou que existe, então não pode estar errado. Em segundo lugar, têm a propriedade de ser auto-verificáveis, a qual contribui para a incorrigibilidade e se define do seguinte modo: se alguém afirma estas proposições, então essa afirmação é verdadeira.
Vejamos melhor o que isto quer dizer. Considera a proposição expressa pela frase P: "Estou a pensar". Se pensares que P é falsa, exprimes nesse momento uma contradição. Mas não se trata de uma contradição lógica porque "Eu não estou a pensar" e "Eu não existo" não são falsas em todas as circunstâncias possíveis devido à sua forma lógica, como acontece com a proposição expressa pela frase "O mar tem peixes e o mar não tem peixes"; como é óbvio, em estados do mundo em que eu não existisse, aquelas proposições seriam verdadeiras. As negações de "Estou a pensar" e de "Existo" derrotam-se a si próprias do ponto de vista pragmático, auto-falsificam-se no preciso momento em que são ditas, e não devido à sua forma lógica; podemos compará-las à proposição expressa pela frase "Estou ausente" dita por ti quando o teu professor de filosofia faz a chamada. Assim, sempre que alguém diz ou mentalmente concebe "Estou a pensar" e "Existo", as proposições expressas por estas frases terão de ser verdadeiras. Mas estas não são verdades lógicas como "Chove ou não chove" ou verdades analíticas como "Nenhum solteiro é casado"; são verdades pragmáticas, as quais se definem por se auto-falsificarem quando alguém afirma a sua negação.
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Faustino Vaz, in http://criticanarede.com/hist_descarteshume.html
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