sábado, 23 de novembro de 2013

O homem é liberdade


Edward Hopper

O homem não é mais que o que se faz a si mesmo. Tal é o primeiro princípio do existencialismo. (…) O homem é no início um projeto que tem consciência de si mesmo e não um creme, um pedaço de lixo ou uma couve-flor; nada existe anteriormente a este projeto; nada há no céu; o homem é o que tiver projetado ser. (…) Mas se verdadeiramente a existência precede a essência, o homem é responsável por aquilo que é. Assim, o primeiro passo para o existencialismo é dar a cada homem a consciência do que é e atribuir-lhe a responsabilidade completa pela sua existência.

Se a existência precede realmente a essência, não é possível explicar as coisas tendo por referência uma natureza humana fixa e dada. Por outras palavras, não há determinismo, o homem é livre, o homem é liberdade. Por outro lado, se Deus não existe, não encontramos valores ou mandamentos a que nos agarramos que legitimem a nossa conduta. Assim, no domínio luminoso dos valores, não temos qualquer desculpa por detrás de nós, nem qualquer justificação perante nós. Estamos sós, sem desculpas.
É esta ideia que tentarei traduzir quando digo que o homem está condenado a ser livre. Condenado, porque não se criou a si próprio; no entanto, relativamente ao resto, é livre: porque, uma vez lançado no mundo, é responsável por tudo aquilo que fizer. O existencialista não acredita na paixão. Nunca concordará que uma paixão arrebatadora é corrente devastadora que fatalmente conduz o homem a certos atos, sendo, portanto, uma desculpa. Ele pensa que o homem é responsável pela sua paixão.


                                                      Jean-Paul Sartre, O Existencialismo é um Humanismo

Sem comentários:

Enviar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...