Conceitos e proposições




Unidade:  Racionalidade argumentativa da filosofia e a dimensão discursiva do trabalho filosófico

Temas: Tese, argumento, validade, verdade e solidez.
               O quadrado da oposição






      Conceitos  e Proposições


As teses ou teorias são respostas aos problemas
As teses exprimem-se em proposições

        

          O que é um conceito?




O melhor que temos a fazer para determinar o que é um conceito é considerar as expressões linguísticas que exprimem conceitos e contrastá-las com outras expressões linguísticas que não exprimem conceitos. Uma vez esta diferença clarificada, estamos em condições de compreender o essencial acerca do que nos ocupa.

Se observarmos atentamente os recursos linguísticos que temos à nossa disposição quando pretendemos referir-nos a qualquer segmento da realidade, encontramos termos que utilizamos para referir coisas particulares, como indivíduos ou países, etc. Estes termos são, entre outros, os nomes e as descrições. Concentremos a nossa atenção apenas nos nomes. Dado que os nomes referem indivíduos ou coisas particulares (o nome “Lisboa” refere a cidade de Lisboa, o nome “Sócrates” refere Sócrates), dizemos que são termos singulares. No entanto, não existem apenas termos singulares. Existem também termos gerais, isto é, termos que se aplicam a uma diversidade (maior ou menor) de indivíduos. Vejamos do que se trata.
Na categoria dos termos gerais estão incluídos aqueles itens linguísticos que usamos para referir as propriedades que as coisas ou objetos singulares possuem, bem como as relações em que certas coisas se encontram. Estes itens linguísticos são os predicados.

Para verificarmos que função os nomes e os predicados desempenham, basta considerar um exemplo.
Quando dizemos “Fernando Pessoa é um poeta” estamos a construir uma frase declarativa que afirma, acerca do indivíduo que o nome “Fernando Pessoa” refere, que esse indivíduo possui uma certa propriedade, precisamente a propriedade de ser um poeta. Para isso, é necessário que o predicado “ser um poeta” exprima de facto esta propriedade. Por outro lado, quando dizemos “Ana ama Pedro” estamos a afirmar que a Ana e o Pedro se encontram numa certa relação, relação que pode ser expressa linguisticamente pelo predicado “amar”. O mesmo acontece com a frase “Leiria fica entre Lisboa e o Porto”. Neste caso, o predicado relacional é: “ficar entre”. Outro exemplo seria: a frase “2 é menor que 3” é composta por dois numerais (os numerais são nomes de números, tal como “Lisboa” é o nome de Lisboa) e pela relação “ser menor que”.

Um predicado é, portanto, a contraparte linguística das propriedades e das relações, tal como os nomes são contrapartes linguísticas dos objetos. Isto é: os predicados exprimem propriedades e os nomes referem objetos.

                                         Paulo Ruas, Conceitos, juízos e Raciocínios, in Crítica


          Termos e conceitos


          ·       Os conceitos são o significado dos termos.

                        - Dois termos podem exprimir o mesmo conceito ou um termo exprimir conceitos distintos.

          ·       Analisar um conceito é explicitar o seu significado.

          ·       Para explicitar um conceito recorre-se a uma definição explícita ou a uma caracterização:                                      

o   Uma definição explícita consiste na apresentação das características comuns a todas as coisas às quais um conceito se aplica e que só nelas existem; consiste na apresentação de condições simultaneamente necessárias e suficientes.

o   Uma caracterização apresenta algumas características comuns aos objetos aos quais o conceito se aplica.






        O que é uma proposição?



Uma frase é uma entidade linguística, é a unidade gramatical mínima de sentido. Por exemplo, o conjunto de palavras “Braga é uma” não é uma frase. Mas o conjunto de palavras “Braga é uma cidade” é uma frase, pois já se apresenta com sentido gramatical.
Há vários tipos de frases: declarativas, interrogativas, imperativas e exclamativas. Mas só as frases declarativas exprimem proposições. Uma frase só exprime uma proposição quando o que ela afirma tem valor de verdade.
Por exemplo, as seguintes frases não exprimem proposições, porque não têm valor de verdade, isto é, não são verdadeiras nem falsas:

1. Que horas são?
2. Traz o livro.
3. Prometo ir contigo ao cinema.
4. Quem me dera gostar de Matemática.
Mas as frases seguintes exprimem proposições, porque têm valor de verdade, isto é, são verdadeiras ou falsas, ainda que, acerca de algumas, não saibamos, neste momento, se são verdadeiras ou falsas:

1. Braga é a capital de Portugal.
2. Braga é uma cidade minhota.
3. A neve é branca.
4. Há seres extraterrestres inteligentes.

A frase 1 é falsa, a 2 e a 3 são verdadeiras. E a 4? Bem, não sabemos qual é o seu valor de verdade, não sabemos se é verdadeira ou falsa, mas sabemos que tem de ser verdadeira ou falsa. Por isso, também exprime uma proposição.

Uma proposição é uma entidade abstrata, é o pensamento que uma frase declarativa exprime literalmente. Ora, um mesmo pensamento pode ser expresso por diferentes frases. Por isso, a mesma proposição pode ser expressa por diferentes frases. Por exemplo, as frases “O governo demitiu o presidente da TAP” e “O presidente da TAP foi demitido pelo governo” exprimem a mesma proposição. As frases seguintes também exprimem a mesma proposição: “A neve é branca” e “Snow is white”.                                                                   
                                      António Padrão, Algumas noções de lógica, in Crítica




Questões (1)


1.       Por que razão apenas as frases declarativas exprimem proposições?
2.       O que é uma proposição?
3.       Uma frase declarativa apenas pode exprimir uma proposição? Justifique.
4.       Que valor de verdade tem uma proposição que não seja verdadeira?
5.       Quando é que uma proposição é verdadeira?





        Proposições categóricas, condicionais e bicondicionais


As proposições categóricas afirmam ou negam algo de forma absoluta e incondicional. Nestas proposições é atribuído um predicado a um sujeito, como por exemplo, na proposição “os animais são seres vivos”. A forma desta proposição é "S é P".

As proposições condicionais são proposições compostas por proposições simples que estabelecem relações de consequência ou de implicação. Por exemplo “Se vivo em Setúbal, então vivo em Portugal”, “Se P, então Q”.

Nas proposições condicionais a proposição que implica é a antecedente, que é a condição suficiente; a proposição implicada é a consequente e é a condição necessária. No exemplo dado, P é a proposição antecedente e Q a consequente.

As proposições condicionais podem apresentar-se em frases onde a condição suficiente e necessária não se apresentam na mesma ordem. Assim:

“Se vivo em Setúbal, então vivo em Portugal” pode expressar-se com expressões alternativas, como:

Vivo em Portugal, se vivo em Setúbal.
Vivo em Setúbal, apenas se vivo em Portugal.
Vivo em Setúbal, só se vivo em Portugal.
Só se vivo em Portugal é que vivo em Setúbal. 



             Proposições  bicondicionais - definições explicitas



As proposições bicondicionais são proposições que se implicam mutuamente, ou seja, são simultaneamente condição necessária e suficiente; estas proposições têm a forma “P se, e só se, Q".

Para apresentarmos uma definição explícita, temos de apresentar condições simultaneamente necessárias e suficientes.

Para expressar condições simultaneamente necessárias e suficiente usa-se a expressão “se e só se”. Ex: algo é um triângulo se e só se for um polígono com três lados e três ângulos internos.

          

           Quantidade e qualidade das proposições categóricas


As proposições categóricas podem ser classificadas quanto à quantidade e quanto à qualidade:
Quantidade - as proposições categóricas podem ser universais ou particulares, segundo o que afirmam ou negam se aplica à totalidade do sujeito ou apenas a parte do sujeito.
Qualidade - as proposições categóricas podem ser afirmativas ou negativas, segundo afirmam ou negam algo.


Quantidade
Qualidade
Exemplos
Tipo
Universal
Afirmativa
Todos os artistas são criativos
A
Universal
Negativa
Nenhum artista é criativo
E
Particular
Afirmativa
Alguns artistas são criativos
I
Particular
Negativa
Alguns artistas não são criativos
O
Singular
Afirmativa
Sócrates é mortal

Singular
Negativa
Sócrates não é mortal






Questões (2)
           Selecione a opção correta
          1.     As frases “Teresa é avó da Ana” e a “Ana é neta da Teresa” exprimem…

A.    proposições diferentes porque são frases diferentes.
B.    a mesma proposição porque significam o mesmo.
C.    a mesma proposição porque têm o mesmo assunto.
D.    proposições diferentes porque têm significados diferentes

          2.      Considere as frases que se seguem e indique a alternativa correta.

          1.  Estuda para teres boa nota.
          2.  Oxalá te corra bem!
          3.  Se estudares, o teste corre-te bem.
          4.  O teste é muito fácil.
A.      Só 1, 3 e 4 exprimem proposições.
B.       Só 4 exprime uma proposição.
C.       Só 3 e 4 exprimem proposições.
D.       Só 1, 2 e 3 exprimem proposições

          3.     A forma lógica de uma proposição condicional é…

A.      “Todo o A é B”.
B.      “P se e apenas se Q”.
C.       “Algum A não é B”.
D.      “Se P então Q.

          4.     Na proposição condicional “Se estudas, então tens boas notas” …

A.      estudar é condição necessária para ter boas notas.
B.      estudar é condição suficiente para ter boas notas.
C.       ter boas notas é condição necessária e suficiente para estudar.
D.      ter boas notas é condição suficiente para estudar.

          5.     Qual das seguintes proposições corresponde à condicional: “Para o Pedro ter umas boas férias,         é preciso que passe o ano”.

A.    Se o Pedro passa o ano, então tem umas boas férias.
B.    Se o Pedro tem umas boas férias, então ele passa o ano.
C.    Basta passar o ano para ter umas boas férias.
D.     Passar o ano é condição suficiente para ter boas férias.
                        



         O que é um argumento?



Um argumento é um conjunto de proposições que utilizamos para justificar (provar, dar razão, suportar) algo. A proposição que queremos justificar tem o nome de conclusão; as proposições que pretendem apoiar a conclusão ou a justificam têm o nome de premissas.

Supõe que queres pedir aos teus pais um aumento da “mesada”. Como justificas este aumento? Recorrendo a razões, não é? Dirás qualquer coisa como:
Os preços no bar da escola subiram; como eu lancho no bar da escola, o lanche fica me mais caro. Portanto, preciso de um aumento da “mesada”.

Temos aqui um argumento, cuja conclusão é: “preciso de um aumento da 'mesada'”. E como justificas esta conclusão? Com a subida dos preços no bar da escola e com o facto de lanchares no bar. Então, estas são as premissas do teu argumento, são as razões que utilizas para defender a conclusão.

Este exemplo permite-nos esclarecer outro espeto dos argumentos, que é o seguinte: embora um argumento seja um conjunto de proposições, nem todos os conjuntos de proposições são argumentos. Por exemplo, o seguinte conjunto de proposições não é um argumento:
Eu lancho no bar da escola, mas o João não.
A Joana come pipocas no cinema.
O Rui foi ao museu.

Neste caso, não temos um argumento, porque não há nenhuma pretensão de justificar uma proposição com base nas outras. Nem há nenhuma pretensão de apresentar um conjunto de proposições com alguma relação entre si. Há apenas uma sequência de afirmações. E um argumento é, como já vimos, um conjunto de proposições em que se pretende que uma delas seja sustentada ou justificada pelas outras — o que não acontece no exemplo anterior.
Um argumento pode ter uma ou mais premissas, mas só pode ter uma conclusão.

                                      António Padrão, Algumas noções de lógica, in Crítica


Indicadores de premissa
Indicadores de conclusão
Porque…
Logo…
Pois…
Portanto…
Dado que…
Por isso…
Sendo que…
Daí que…
Devido a…
Consequentemente…
A razão é que…
Conclui-se que…



Explicitação de argumentos
          1.       Identificar a conclusão
          2.       Identificar as premissas
          3.       Completar o argumento (caso tenha premissas implícitas)
          4.       Escrever cada uma das premissas (numa linha diferente)
          5.       Escrever a conclusão no final ( a seguir à palavra “logo”)

                 

             Ver página : Argumentos, validade, verdade e solidez


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