sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

O problema da previsão das consequências





Os defensores da utilidade também são frequentemente chamados a responder a objeções como esta – que antes da ação, não há tempo para calcular e pesar os efeitos de qualquer linha de conduta na felicidade geral. Isto é exactamente como se alguém dissesse que é impossível guiar a nossa conduta pelo cristianismo, já que sempre que tenho de fazer alguma coisa, não há tempo para ler todo o Antigo e o Novo Testamento. A resposta à objeção é que tem havido muito tempo, nomeadamente todo o passado da espécie humana.
Ao longo desse tempo, a humanidade tem vindo a descobrir as tendências das ações através da experiência, dependendo dessa experiência toda a prudência, bem como toda a moralidade da vida. As pessoas falam como se o começo desse curso de experiência tivesse sido posto de parte até aqui, e como se, no momento em que o homem se sente tentado a intrometer-se na propriedade ou na vida do outro, tivesse de começar a considerar pela primeira vez se o assassínio ou o roubo são prejudiciais para a felicidade humana. Penso que mesmo nesse caso ele não consideraria a questão muito enigmática, mas, seja como for, a questão hoje chegar-lhe-ia resolvida às mãos. É realmente estranho que, se os seres humanos tivessem concordado quanto a considerar a utilidade como o teste da moralidade, permaneceriam sem qualquer acordo sobre aquilo que é útil e não tomariam quaisquer medidas para que as suas noções sobre o assunto fossem ensinadas aos jovens e inculcadas pela lei e pela opinião.(…)

É estranho pensar que o reconhecimento de um primeiro princípio é inconsistente com a admissão de princípios secundários. Informar um viajante sobre o lugar do seu destino último não é proibir o uso de pontos de referência e de sinais pelo caminho. A proposição de que a felicidade é o fim e o objectivo da moralidade não significa que não se possa construir qualquer estrada para atingir esse objectivo, ou que as pessoas que seguem para lá não devam ser aconselhadas a seguir ima direcção em vez de outra. (…) Seja qual for o principio que adoptemos como princípio fundamental da moralidade, precisamos de princípios subordinados através dos quais possamos aplica-los; a impossibilidade de passarmos sem eles, sendo comum a todos os sistemas, não pode proporcionar qualquer argumento contra um em particular (…)
                                                           Stuart Mill, Utilitarismo

Pode consultar:
Neste site: A ÉTICA UTILITARISTA DE STUART MILL
Sebenta de Filosofia: Síntese -  Ética Utilitarista de Stuar Mill



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