Johannes Moreelse, Demócrito (cerca de 1630)
Que significa o riso? O que há no fundo do risível? O que haverá de comum entre a careta de um palhaço, um jogo de palavras, um quiproquó de vaudeville, uma cena de fina comédia? Que destilação nos dará a essência, sempre a mesma, da qual tantos produtos diversos tiram o seu indiscreto aroma ou o seu delicado perfume?
Os maiores pensadores, desde Aristóteles, se têm preocupado com este pequeno problema que sempre se subtrai ao esforço, escorrega, se escapa e torna a reviver, como impertinente desafio lançado à especulação filosófica.
(…)
Eis o primeiro ponto para o qual chamaremos a tenção: não existe cómico fora do que é propriamente humano. Uma paisagem poderá ser bela, graciosa, sublime, insignificante ou feia; mas nunca será risível. Poderemos rir-nos dum animal mas somente porque surpreendemos nele uma atitude de homem ou uma expressão humana. Poderemos rir-nos dum chapéu, mas do que a gente se ri não é do bocado de feltro ou de palha, mas da forma que os homens lhe deram, do capricho humano que o modelou. Como se explica que um facto tão importante na sua simplicidade, não tenha chamado há mais tempo a atenção dos filósofos? Alguns definiram o homem como “o animal que sabe rir”. Bem o poderiam ter definido também como o animal que faz rir, porque se o mesmo acontece com qualquer outro animal ou objeto inanimado é por semelhança com o homem, pelo sinal com que o homem o marca ou pelo uso que o homem dele faz.
É comum rir-mo-nos quando nos encontramos numa situação em que algo que não o "suposto" acontece. Isto é, numa situação em que a reação de uma pessoa ou de um animal, ou até a linguagem utilizada ou o comportamento da natureza, não correspondem àquilo que tomamos como o "normal". Por exemplo, se numa festa da Família Real entra um convidado vestido com calções de banho, enquanto que todos os outros indivíduos se encontram vestidos formalmente, falando numa linguagem familiar ("Oi, pessoal! Então como vão as coisas?"), sendo que os empregados se lhe dirigem perguntado "Boa noite, «sir». Poderei segurar e guardar o seu guarda-chuva junto dos pertences dos outros convidados ? Aqui tem, um pouco de caviar, «sir».", pode ser, na maioria dos casos, difícil conter uma boa gargalhada.
ResponderEliminarNa verdade, acontece também que muito no nosso quotidiano nos pode fazer rir: um cão gigante que foge de um gato minúsculo a sete pés, uma criança que escorrega e cai do skate... Enfim, tudo aquilo que não cumpre a "lei natural das coisas", aquilo que temos estipulado na nossa mente como "o que é suposto, o que é habitual acontecer".
É evidente que em certos casos o riso não identifica que algo de invulgar ocorreu. O ser humano também utiliza o riso como uma manifestação do medo que sente, de nervosismo, de algo divertido que aconteceu.
E também o riso, tal como tantas outras coisas, varia de cultura para cultura. Em algumas culturas algo que é hilariante noutras pode não ter piada alguma. Pode até ser visto como um insulto. É o caso das piadas religiosas e étnicas.
O riso é nada mais, nada menos, do que a manifestação (intencional ou não) de diferentes emoções por parte dos seres humanos, tentando fazer com que nos adaptemos a meios e a pessoas distintos daqueles com os quais costumamos conviver.