segunda-feira, 11 de agosto de 2014

A singularidade da música


Thomas Eakins

É evidente que a música dá às pessoas grande prazer e é também verdade que geralmente se considera que exprime algumas das mais profundas emoções humanas. Nenhum dos factos, contudo, explica apropriadamente o seu valor.
O prazer não explica a distinção entre música ligeira e música profunda e pode mesmo dar-nos razões para preferirmos a música menos profunda. Embora a música possa ser descrita em termos emocionais, esses termos têm um significado analógico ou metafórico quando alargado à música e isso deixa em aberto a questão de saber se a música pode ser considerada como expressão de emoção do sentimento humano comum. Vários autores que escreveram sobre música atribuíram-lhe quer o poder de representar, quer as propriedades de uma linguagem. Depois de uma análise, contudo, foi possível mostrar que o poder da música para representar é limitado e depende de associações convencionais. No melhor dos casos, a analogia com a linguagem mostra que a música tem um vocabulário mas não tem estruturas gramaticais. Isto significa que, apesar de poder ser usada para suscitar pensamentos e impressões, não tem a capacidade de uma forma de comunicação genuína.

Ainda assim, é possível estabelecer uma conexão entre a música e a teoria cognitivista da arte. A música é especial entre as formas de arte porque, enquanto ( teoricamente) a fotografia podia substituir a pintura e o cinema o teatro, nada pode substituir a experiência de ouvir música. Além disso, a experiência é única ao dar-nos estruturas prolongadas de som organizado por meio das quais podemos explorar a experiência humana. O aspeto da experiência humana que exploramos com a ajuda da grande música não é o da vida emocional ou intelectual, mas sim o da experiência auditiva, a própria experiência de escutar. 

                                                       Gordon Graham, Filosofia das Artes, edições 70, pp.132-133


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