Thomas Eakins
É evidente que a
música dá às pessoas grande prazer e é também verdade que geralmente se
considera que exprime algumas das mais profundas emoções humanas. Nenhum dos
factos, contudo, explica apropriadamente o seu valor.
O prazer não explica a
distinção entre música ligeira e música profunda e pode mesmo dar-nos razões
para preferirmos a música menos profunda. Embora a música possa ser descrita em
termos emocionais, esses termos têm um significado analógico ou metafórico
quando alargado à música e isso deixa em aberto a questão de saber se a música
pode ser considerada como expressão de emoção do sentimento humano comum.
Vários autores que escreveram sobre música atribuíram-lhe quer o poder de
representar, quer as propriedades de uma linguagem. Depois de uma análise,
contudo, foi possível mostrar que o poder da música para representar é limitado
e depende de associações convencionais. No melhor dos casos, a analogia com a
linguagem mostra que a música tem um vocabulário mas não tem estruturas
gramaticais. Isto significa que, apesar de poder ser usada para suscitar
pensamentos e impressões, não tem a capacidade de uma forma de comunicação
genuína.
Ainda assim, é
possível estabelecer uma conexão entre a música e a teoria cognitivista da
arte. A música é especial entre as formas de arte porque, enquanto (
teoricamente) a fotografia podia substituir a pintura e o cinema o teatro, nada
pode substituir a experiência de ouvir música. Além disso, a experiência é
única ao dar-nos estruturas prolongadas de som organizado por meio das quais
podemos explorar a experiência humana. O aspeto da experiência humana que
exploramos com a ajuda da grande música não é o da vida emocional ou
intelectual, mas sim o da experiência auditiva, a própria experiência de
escutar.
Gordon Graham, Filosofia das Artes, edições 70, pp.132-133
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