Teoria formalista


Kandinsky - Biografia do pintor russo - InfoEscola

A arte como forma significante









          Texto 1 


O ponto de partida de todos os sistemas de estética tem de ser a experiência pessoal de uma emoção peculiar. Aos objetos que provocam esta emoção chamamos “obras de arte”.
[…] Esta emoção chama-se “emoção estética” e, se formos capazes de descobrir alguma propriedade particular que seja comum a todos os objetos que a provocam, teremos solucionado aquele que considero ser o problema central da estética. Teremos descoberto qual a propriedade essencial da obra de arte, a propriedade que distingue as obras de arte de todas as outras classes de objetos.
                                                                                                                 Clive Bell, Art




A teoria da arte como imitação/representação está centrada nos objetos representados (realidade exterior)

A teoria da arte como expressão está centrada no criador
A teria da arte como forma parte do sujeito sensível que aprecia obras de arte e centra-se nas suas qualidades formais




        Texto 2 


[...] Pois, ou todas as obras de arte visual têm alguma qualidade comum, ou quando falamos de "obras de arte" estamos a desconversar. Cada pessoa fala de "arte", fazendo uma classificação mental pela qual distingue a classe das "obras de arte" de todas as outras classes. Qual é a justificação para essa classificação? Qual é a qualidade comum e peculiar a todos os membros dessa classe? Seja ela qual for, não há dúvida que se encontra muitas vezes acompanhada por outras qualidades; mas estas são casuais — aquela é essencial. Tem de haver uma qualquer qualidade sem a qual uma obra de arte não existe; na posse da qual nenhuma obra é, no mínimo, destituída de valor. Que qualidade é essa? Que qualidade é partilhada por todos os objetos que provocam as nossas emoções estéticas? Que qualidade é comum à Santa Sofia e às janelas de Chartres, à escultura mexicana, a uma tijela persa, aos tapetes chineses, aos frescos de Giotto em Pádua, e às obras-primas de Poussin, Piero della Francesca e Cézanne? Só uma resposta parece possível — forma significante. Em cada uma, linhas e cores combinadas de uma maneira particular, certas formas e relações de formas, estimulam as nossas emoções estéticas. Estas relações e combinações de linhas e cores, estas formas esteticamente tocantes, chamo-as "Forma Significante"; e a "Forma Significante" é a tal qualidade comum a todas as obras de arte visual.
                                                                                               Clive Bell, Arte                                                               

          
Piero della Francesca, Resurrection – Smarthistory
Rideau, Cruchon et Compotier - Wikipedia
Arte Cristã: Giotto: "A lamentação de Cristo"
Poussin, Pierro de la Francesca
Cezanne,Cortine, cruchon et compotier
Giotto, Lamentação


          A arte como forma significante (Clive Bell)

Algo é uma obra de arte se, e só se, esse algo tem forma significante.

A forma significante é a propriedade simultâneamente necessária e suficiente para uma obra ser arte.


Forma significante é a combinação de cores, linhas e formas, capaz de provocar a emoção estética.

"Emoção estética" é um tipo particular de emoção que as pessoas (sensíveis) experimentam quando estão perante uma obra de arte.




A estação ferroviária por William Powell Frith (1819-1909, United ...

William Powel Frith, A Estação de Paddington, 1862

        Texto 3

A hipótese de que a forma significante é a qualidade essencial de uma obra de arte tem ao menos o mérito negado a muitas outras mais famosas e impressionantes — ajuda a explicar as coisas. Todos conhecemos quadros que nos interessam e despertam a nossa admiração, mas não nos emocionam como obras de arte. A esta classe pertence aquilo a que chamo "Pintura Descritiva" — isto é, pintura em que as formas não são usadas como objetos de emoção, mas como meios de sugerir emoção ou veicular informação. Retratos de valor psicológico ou histórico, obras topográficas, quadros que contam histórias e sugerem situações, ilustrações de todos os tipos, pertencem a esta classe. Que todos nós reconhecemos a distinção é evidente, pois quem não disse já que tal e tal desenho era excelente como ilustração, mas sem valor como obra de arte? Claro que muitos quadros descritivos possuem, entre outras qualidades, significado formal, e são assim obras de arte: mas muitos outros não. Eles interessam-nos; podem tocar-nos também de uma centena de maneiras diferentes, mas não nos tocam esteticamente. De acordo com a minha hipótese não são obras de arte. Deixam intocadas as nossas emoções estéticas porque não são as suas formas, mas as ideias ou informação sugeridas ou veiculadas pelas suas formas a afetar-nos. [...]

Que ninguém pense que a representação é má em si; uma forma realista pode ser tão significante, enquanto parte do desenho, como uma forma abstrata. Mas se uma forma representativa tem valor, é como forma, não como representação. O elemento representativo numa obra de arte pode ou não ser prejudicial; é sempre irrelevante. Pois, para apreciar uma obra de arte não precisamos de nos fazer acompanhar de nada da nossa vida, nem de nenhum conhecimento das suas ideias e ocupações, nem de qualquer familiaridade com as suas emoções. A arte transporta-nos do mundo da atividade humana para o mundo da exaltação estética. Por um momento somos afastados dos interesses humanos; as nossas previsões e recordações são aprisionadas; somos elevados acima do fluxo da vida.
                                                                               Clive Bell, Arte   

          Questões:

           1- Explique a afirmação de Bell "todos conhecemos quadros que nos interessam e despertam a                                   nossa admiração, mas não nos emocionam como obras de arte".

           2- Segundo Bell, as obras figurativas são excluídas da classe de obras que são arte? Justifique. 


Objetos que não se distinguem pela sua forma

 objetos de arte que não se distinguem visualmente de outros que não o são.
Ex: A “Fonte” de Duchamp e outros urinóis que não se distinguem.

Circularidade

Um objeto tem forma significante porque produz emoção estética e produz emoção estética porque tem forma significante.

Conceito de forma significante - vago e impreciso 

Todas as artes visuais têm uma certa combinação de linhas, formas e cores, mas não necessariamente aquela que Bell considera forma significante.

Algumas pessoas não sentem qualquer tipo de emoção perante certas obras que são consideradas arte.

 Bell afirma que a identificação da forma significante é uma questão de sensibilidade.
 Assim nem todos têm acesso à forma significante

A forma significante torna-se imprecisa e não é possível conceber contraexemplos


        Texto 4


A crítica mais persuasiva que se poderia dirigir a Bell seria mostrar que não há emoção estética. Contudo talvez seja impossível fazê-lo devido ao modo como formula a sua afirmação. Se Jones afirmar que é incapaz de descobrir a emoção estética na sua experiência, Bell pode responder que Jones é insensível (ou não ter experiência suficiente), porque “todas as pessoas sensíveis concordam que há uma emoção peculiar (a emoção estética”. O problema é que, se alguém for incapaz de descobrir a emoção estética na sua experiência, então instala-se forçosamente a incómoda suspeita de que essa pessoa não é suficientemente sensível, e que portanto a sua experiência não fornece na verdade um contraexemplo à teoria de Bell. A mera estatística tão-pouco ajuda; pode simplesmente haver uma grande quantidade de gente insensível.
                                                                           George Dikie, Introdução à estética.

     Questões:

      1- Será possível mostrar que não há emoção estética?
      2-  Será possível demonstrar que um objeto tem forma significante?
      3- Quais as consequências para a teoria de Bell das suspeitas levantadas pelo texto acerca da                                           emoção estética?
    

        Texto 5 - A teoria da arte como forma significante (teoria formalista)


[...]  Verificando que a diversidade de obras de arte é bem maior do que as teorias da imitação e da expressão fariam supor, uma teoria mais elaborada, e também mais recente, conhecida como teoria da forma significante (abreviadamente referida como “teoria formalista”), decidiu abandonar a ideia de que existe uma característica que possa ser directamente encontrada em todas as obras de arte. Esta teoria, defendida, entre outros, pelo filósofo Clive Bell, considera que não se deve começar por procurar aquilo que define uma obra de arte na própria obra, mas sim no sujeito que a aprecia. Isso não significa que não haja uma característica comum a todas as obras de arte, mas que podemos identificá-la apenas por intermédio de um tipo de emoção peculiar, a que chama emoção estética, que elas, e só elas, provocam em nós. Por esta razão a incluo nas teorias essencialistas. De acordo com a teoria formalista de Clive Bell
  • Uma obra é arte se, e só se, provoca nas pessoas emoções estéticas.
Note-se que não se diz que as obras de arte exprimem emoções, senão estar-se-ia a defender o mesmo que a teoria da expressão, mas que provocam emoções nas pessoas, o que é bem diferente. Se a teoria da imitação estava centrada nos objectos representados e a teoria da expressão no artista criador, a teoria formalista parte do sujeito sensível que aprecia obras de arte. Digo que parte do sujeito e não que está centrada nele, caso contrário não seria coerente considerar que esta teoria é formalista.
Tendo em conta a definição dada, reparamos que a característica de provocar emoções estéticas constitui, simultaneamente, a condição necessária e suficiente para que um objecto seja uma obra de arte. Mas se essa emoção peculiar chamada “emoção estética” é provocada pelas obras de arte, e só por elas, então tem de haver alguma propriedade também ela peculiar a todas as obras de arte, que seja capaz de provocar tal emoção nas pessoas. Mas essa característica existe mesmo? Clive Bell responde que sim e diz que é a forma significante.
Frases como “Este quadro é uma verdadeira obra prima devido à excepcional harmonia das cores e ao equilíbrio da composição”, ou como “Aquele livro é excelente porque está muito bem escrito e apresenta uma história bem construída apoiada em personagens convincentes e bem caracterizadas”, exprimem habitualmente uma perspectiva formalista da arte.
Para já, esta teoria parece ter uma grande vantagem: pode incluir todo o tipo de obras de arte, inclusivamente obras que exemplifiquem formas de arte ainda por inventar. Desde que provoque emoções estéticas qualquer objecto é uma obra de arte, ficando assim ultrapassado o carácter restritivo das teorias anteriores.
 [...]
                                                                          Aires Almeida, O que é a arte?, in Crítica

     Questões:

     1 - A teoria formalista apresenta uma definição de arte? Porquê?
     2 -  A partir do texto, esclareça a relação entre "emoção estética" e "forma significante"                
     3 - Concorda com a vantagem referida no texto? Justifique.



Texto 6 - Objeções à teoria da arte como forma significante


[…]  Mas as suas dificuldades também são enormes.
1.    Em primeiro lugar, podemos mostrar que algumas pessoas não sentem qualquer tipo de emoção perante certas obras que são consideradas arte. Quer dizer que essas obras podem ser arte para uns e não o ser para outros? Nesse caso o critério para diferenciar as obras de arte das outras de que serviria? Teríamos, então, obras de arte que não são obras de arte, o que não faz sentido. Também não é grande ideia responder que quem não sente emoções estéticas em relação a determinadas obras não é uma pessoa sensível, como sugere Bell, o que parece uma inaceitável fuga às dificuldades.
2.    Uma outra dificuldade é conseguir explicar de maneira convincente em que consiste a tal propriedade comum a todas as obras de arte, a tal “forma significante”, responsável pelas emoções estéticas que experimentamos. Clive Bell refere, pensando apenas no caso da pintura, que a forma significante reside numa certa combinação de linhas e cores. Mas que combinação é essa e que cores são essas exactamente? E em que consiste a forma significante na música, na literatura, no teatro, etc.? A ideia que fica é que a forma significante não serve para identificar nada. Não se trata verdadeiramente de uma propriedade, pois a forma significante na pintura consiste numa certa combinação de cores e linhas, mas na música, na literatura, no cinema, etc., já não podem ser as cores e linhas a exemplificar a forma significante. Não temos, assim, uma propriedade mas várias propriedades. É certo que diferentes propriedades podem provocar o mesmo tipo peculiar de emoções nas pessoas, mas chamar a diferentes propriedades “forma significante” é de tal forma vago que não se imagina o que poderia constituir uma contraexemplo a esta definição. Também a resposta de que a forma significante é a propriedade que provoca em nós emoções estéticas, depois de dizer que as emoções estéticas são provocadas pela forma significante é não só inútil mas dececionante, já que se trata de uma falácia: a falácia da circularidade.
[…]
                                                 Aires Almeida, O que é a arte?, in crítica                      


     Questões:

     1. Explique, a partir do texto, as objeções que se colocam à teoria formalista da arte.
     

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