O problema da definição de arte


Rodin, O Beijo

        Problema: O que é a arte?


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Quando perguntamos

Isto é arte?

estamos a usar o termo arte em dois sentidos

Sentido Classificativo

Isto pertence à classe de objetos que são arte?


Sentido valorativo

Isto é uma boa obra de arte?




O termo "arte" é usado em dois sentidos:
§  Um sentido classificativo:  Dizer que uma obra é arte é dizer que ela pertence à classe das coisas que são arte.
      
§  Um sentido valorativo:  Dizer que, para além de um objeto ser arte, é uma boa obra de arte.




        Texto 1: Sentido classificativo e sentido valorativo


[…] Retomando o problema da definição de “arte”, quero desde já esclarecer que o termo “arte” ou a expressão “obra de arte” são frequentemente usados em dois sentidos diferentes: o sentido classificativo e o sentido valorativo. No primeiro destes dois sentidos não se tem em conta se uma determinada obra de arte é boa ou não, mas apenas se cai ou não debaixo da extensão do conceito de arte. Pretende-se apenas estabelecer se um certo objeto deve ser classificado como obra de arte. Ao classificarmos um veículo como automóvel nada dizemos acerca do seu valor como automóvel. Mas, às vezes, proferimos frases como “isto sim, é um automóvel”, em que o significado de “automóvel” não é o mesmo que o apontado anteriormente. Estamos, neste caso, perante um exemplo da utilização valorativa de “automóvel”, uma vez que com esta expressão queremos manifestar de forma positiva a nossa apreciação do veículo em causa, tal como o fazemos em relação a uma obra de arte ao afirmar “este quadro sim, é uma obra de arte”. Aqui não estamos a classificá-la como obra de arte, mas a avaliá-lo como obra de arte boa. Estes dois usos são frequentemente confundidos e é imprescindível tê-los em mente quando se discutem as diferentes teorias da arte.
                                                                                  Aires Almeida, O que é a arte?

         
       
          1.  Formule o problema da definição de arte.
          2.  Explique a afirmação do texto: "[...] é imprescindível tê-los [estes dois sentidos]em mente                    quando se discutem as diferentes teorias da arte".


     

No âmbito do "sentido classificativo" e do "sentido valorativo", uma  definição de arte procura estabelecer:

- Um critério classificativo:  permite classificar um objeto como obra de arte, identificar as propriedades que permitem dizer que um objeto é arte (condições necessárias e suficientes)

- Um critério valorativo:  permite identificar as propriedades que permitem dizer que um objeto que é arte, é boa arte.


           Teorias essencialistas


As teorias essencialistas defendem que existe uma essência de arte, ou seja, que existem propriedades essenciais comuns a todas as obras de arte e que só nas obras de arte se encontram.

Se há propriedades comuns a todas as obras de arte individuadoras das obras de arte, é então possível dizer quais são as suas condições necessárias e suficientes, é possível fornecer uma definição explícita de arte.

Uma definição explícita de “arte” implica identificar:

        as condições necessárias para algo ser arte (características comuns a tudo o que é arte)
        as condições suficientes para algo ser arte (as características que só a arte é que tem)





         Texto 2: Teorias essencialistas da arte

[...] As teorias essencialistas defendem que existe uma essência de arte, ou seja, que existem propriedades essenciais comuns a todas as obras de arte e que só nas obras de arte se encontram. Ora as propriedades essenciais são diferentes das propriedades acidentais. Uma propriedade é essencial se os objetos que a exemplificam não podem deixar de a exemplificar sem que deixem de ser o que eram. Uma propriedade é acidental se, apesar de ser realmente exemplificada pelos objetos, poderia não o ser. Isso significa que as propriedades essenciais da arte são aquelas propriedades que não podem deixar de se encontrar nas obras de arte. São, portanto, exemplificadas por todas as obras de arte, reais ou meramente possíveis. Mas uma definição essencialista exige também que tais propriedades sirvam para distinguir a arte de outras coisas que não são arte. Daí que se procurem apenas identificar as propriedades essenciais que sejam individuadoras da arte. Por exemplo, uma propriedade essencial das obras de arte é a de terem um autor (pelo menos). Mas ter um autor não é uma propriedade individuadora da arte porque outras coisas que não são arte têm também essa propriedade essencial, como é o caso dos artigos de opinião dos jornais. Não seria por aí que iríamos identificar as obras de arte. Ora, se há propriedades comuns a todas as obras de arte e individuadoras das obras de arte, é então possível dizer quais são as suas condições necessárias e suficientes; quer dizer, é possível fornecer uma definição explícita de arte. Contudo, é preciso reconhecer que nem todas as definições explícitas são essencialistas. 

          

        Teorias não essencialistas


As teorias não essencialistas defendem que não é possível encontrar propriedades intrínsecas, comuns a todas as obras de arte, que só elas possuam.

A arte não se define por propriedades intrínsecas às obras de arte, mas por propriedades extrínsecas e relacionais.






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