O grito, Edvard Munch
Teoria da Arte como expressão
Texto 3:
Questões (3):
A Arte como expressão Tolstoi
Texto 5: Collingwood e a teoria da arte como expressão
Teoria expressivista da arte:
A arte é a expressão de
emoções do seu criador, o artista.
Uma obra é arte se, e só se expressar intencionalmente sentimentos do artista. |
Texto 1: A arte como expressão
[…] Insatisfeitos com a teoria da arte como imitação (ou representação), muitos filósofos e artistas românticos do século XIX propuseram uma definição de arte que procurava libertar-se das limitações da teoria anterior, ao mesmo tempo que deslocava para o artista, ou criador, a chave da compreensão da arte. Trata-se da teoria da arte como expressão. Teoria que, ainda hoje, uma enorme quantidade de pessoas aceita sem questionar. Segundo a teoria da expressão:
Vejamos o que parece concorrer a favor dela:
Uma teoria como esta manifesta-se frequentemente em juízos como “Este é um livro exemplar em que o autor nos transmite o seu desespero perante uma vida sem sentido” ou como “O autor do filme filma magistralmente os seus próprios traumas e obsessões”.
[…]
|
Questões (1) :
1. A teoria da arte como expressão apresenta uma definição de arte? Porquê?
2. A teoria da arte como expressão apresenta algumas vantagens relativamente à teoria da arte como imitação. Concorda? Justifique a sua resposta.
Texto 2: Objeções à teoria da arte como expressão
[…]
Mas também ela [a arte como imitação] se irá revelar uma teoria insatisfatória. As razões são semelhantes às que apresentei contra a teoria da arte como imitação, pelo que tentarei aqui ser mais breve.
O primeiro ponto apresenta várias falhas. Desde logo, é também empiricamente refutado porque há obras que não exprimem qualquer emoção ou sentimento. Podemos até admitir que o emaranhado espesso de linhas coloridas do quadro de Pollock exprime algo ao deixar registados na tela os seus gestos (é geralmente incluído na corrente artística conhecida como expressionismo abstrato). Mas podemos dizer o mesmo da maior parte dos quadros de Yves Klein, Mondrian ou de Vasarely? O grande compositor do nosso século, Richard Strauss, autor de vários poemas sinfónicos, como o célebre Assim Falava Zaratustra, esclarecia que as suas obras eram fruto de um trabalho paciente e minucioso no sentido de as aperfeiçoar, eliminando desse modo os defeitos inerentes a qualquer produto emocional. E que dizer da chamada música aleatória (música feita com o recurso a sons produzidos ao acaso)? Além disso, mesmo que uma obra de arte provoque certas emoções em nós, daí não se segue que essas emoções tenham existido no seu autor. Se a ingestão de dez copos de vinho seguidos provocam em mim o sentimento de euforia, daí não se segue que o vinicultor que produziu o vinho estivesse eufórico. Trata-se, portanto, de uma inferência falaciosa. Tal como na definição de arte como imitação, o mesmo se passa aqui, pois acaba por não se verificar a condição necessária segundo a qual todas as obras de arte exprimem emoções. É, assim, uma má definição.
A deficiência em relação ao critério de classificação é praticamente a mesma apontada à teoria da imitação. A única diferença é que, neste caso, uma maior quantidade de objectos podem ser classificados como arte. Mas nem todas as obras de arte são, de facto, classificadas como tal.
Sobre o critério de valoração, também as objeções são idênticas às da teoria da imitação. Se observarmos este critério, então as obras de arte que não podem ser consideradas boas nem más são inúmeras. Como podemos nós saber se uma determinada obra exprime correctamente as emoções do artista que a criou, quando o artista já morreu há séculos?
[...]
E as obras de autores anónimos ou
desconhecidos não são boas nem más? E como avaliar uma obra de arte coletiva ou
a interpretação de uma obra musical? O que conta aqui são as emoções do artista
criador ou as do artista intérprete (ou dos artistas intérpretes, como sucede
com a interpretação da Segunda Sinfonia de Mahler, a qual
chega a exigir perto de 250 intérpretes em palco)? Enfim, todas estas perguntas
são demasiado embaraçosas para a teoria da expressão.
|
Questões (2) :
1. Mostre, a partir do texto, em que medida as objeções da teoria da arte como expressão, são semelhantes às objeções ou falhas da teoria da arte como imitação.
Objeções
Critério de classificação
Teoria restritiva – Exclui do domínio da arte muitas obras consideradas arte
Critério de valoração
Uma obra é tanto melhor quanto melhor conseguir exprimir os sentimentos do artista que a criou.
Não fornece um critério seguro para identificar a verdadeira arte.
Ainda que uma obra de arte provoque certas emoções em nós, daí não se segue que essas emoções tenham existido no seu autor (Falácia intencional)
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Texto 3:
A arte é uma atividade humana
que consiste nisto: em uma pessoa conscientemente, por intermédio de certos
sinais externos, levar a outras pessoas sentimentos de que teve experiência
e que estas sejam contagiadas por tais sentimentos e deles também tenham
experiência.
A arte não é, como os
metafísicos dizem, a manifestação de alguma ideia misteriosa de belo ou de
Deus ; não é, como os psicólogos estéticos dizem, um jogo que serve para
descarregar o excesso de energia acumulada; não é apenas a expressão das
emoções de uma pessoa através de sinais externos; não é a produção de objetos
que agradem; e acima de tudo, não é prazer; mas é um meio de união entre
pessoas, unindo-as nos mesmo sentimentos, indispensável à vida e ao progresso
em direção ao bem-estar dos indivíduos e da humanidade.
Tolstoi,
O que é a arte?
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1. Mostre, a partir do texto, que a arte não é apenas expressão de emoções de uma pessoa através de sinais externos.
A Arte como expressão Tolstoi
A arte é
a expressão da emoção do artista
Uma obra é arte se,
e só se, exprime sentimentos e emoções do artista. (...)
‒ A obra de arte transmite
intencionalmente o mesmo
sentimento que o artista experimentou.
‒ A arte é uma forma de comunicação através
de indicações externas.
Condições para que haja arte:
|
Texto 4: A arte é expressão - Leão Tolstoi
A atividade
artística é baseada no facto de uma pessoa, ao receber através da sua audição
ou visão a expressão do sentimento de outra pessoa, ser capaz de ter a
experiência emocional que motivou aquele que a exprime. […]
É nesta
capacidade de as pessoas receberem a expressão do sentimento de outras
pessoas, e de terem elas próprias esses sentimentos, que a atividade
artística se baseia. [...]
A arte
começa quando alguém com o intuito de unir a si outro ou outros num mesmo
sentimento exprime tal sentimento através de certas indicações externas.
Desde que os espectadores ou
ouvintes sejam contagiados pelos mesmos sentimentos que o autor sentiu, há
arte.
O grau de
contágio da arte depende de três condições:
‒
Da maior ou menor individualidade do
sentimento transmitido.
‒
Da maior ou menor clareza com que o sentimento
é transmitido.
‒ Da sinceridade do artista, isto é, da maior ou
menor força com que o próprio artista
sente o que é transmitido.
Quanto mais
individualizado é o sentimento, tanto mais fortemente atua sobre o recetor;
quanto mais individualizado o estado de alma para o qual ele é transferido,
maior prazer obtém o recetor e, consequentemente, com mais prontidão e força
adere a ele.
A clareza
de expressão ajuda o contágio porque o recetor, que se mistura na sua
consciência com o autor, ficará tanto mais satisfeito quanto maior for a
clareza com que o sentimento for transmitido, o qual ele julga há muito
conhecer e sentir, mas para o qual só agora encontra expressão.
Mas o grau de contágio aumenta,
acima de tudo, com o grau de sinceridade do artista. Logo que o espectador,
ouvinte ou o leitor sente que o artista está contagiado pela sua própria
produção e escreve, canta ou representa para ele próprio, e não apenas para
impressionar os outros, o recetor também é contagiado por esse estado mental.
[...]
Leão Tolstoi, O que é
a arte
|
Questões (4):
1. De acordo com a teoria expressivista de Tolstoi, o que significa afirmar que o artista contagia o recetor de forma indireta?
2. Quais as condições que, segundo Tolstoi, são necessárias para que exista arte?
2. Quais as condições que, segundo Tolstoi, são necessárias para que exista arte?
A Arte como expressão imaginativa - Collingwood
A arte é expressão clarificadora de
sentimentos
‒
O artista começa por não ter uma ideia
precisa do que sente.
‒
A função da arte é clarificar
sentimentos indefinidos do artista, que ele começa por não saber
identificar.
‒
O artista recorre à imaginação para clarificar
os sentimentos.
‒
A clarificação de sentimentos só
se encontra na verdadeira arte.
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Para
Collingwood a “arte autêntica” distingue-se dos ofícios, que são atividades
como o artesanato e outras artes decorativas, propagandísticas ou de
entertenimento.
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Texto 5: Collingwood e a teoria da arte como expressão
Para
Collingwood, que era uma pessoa com experiência pessoal da criação artística,
ao contrário do expressivismo ingénuo, antes do artista produzir a sua obra
ele ainda não possui a emoção estética que a sua obra produzirá na audiência
e em si mesmo. O que ele possui é uma “excitação emocional”, um sentimento
indefinido e incompreensível. Na medida em que ele utiliza a sua imaginação e
pensamento planeando e produzindo a obra de arte, ele consegue reconhecer
melhor a natureza de suas emoções, defini-las, refiná-las, clarificá-las e
articulá-las na sua relação com seus objetos. Essas emoções assim
clarificadas são, por sua vez, imaginativamente reconhecidas enquanto tais
pela audiência capaz de apreciar a obra de arte. Podemos considerar como
exemplo o painel de Picasso intitulado Guernica. A cidade de Guernica foi
criminosamente bombardeada pelos nazistas para efeito de experiência militar.
Tendo sido informado acerca disso, o artista, movido por emoções, pintou
Guernica. Mas as emoções que o painel suscita em nós e no próprio pintor
foram transformadas. Elas são emoções estéticas, muito superiores à emoção
bruta que cada um de nós poderia ter, digamos, ao ler em um jornal sobre o
bombardeio de Guernica.
Para
Collingwood a imaginação e o pensamento são na produção artística no mínimo tão
importantes quanto a expressão de emoções. É pela imaginação que o artista
refina e articula os seus sentimentos, e é também pela imaginação que o
auditório interpreta e compreende os sentimentos expressos na obra de arte.
Como resultado, a obra de arte é capaz de produzir no auditório e no próprio
artista uma compreensão maior de seus próprios sentimentos, e com isso
uma ampliação e regeneração de seu autoconhecimento e consciência.
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Questões (5):
1. Explique, a partir do texto, a teoria da arte como expressão clarificadora de sentimentos, de Collingwood.
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