Teoria expressivista



O Grito – Wikipédia, a enciclopédia livre
O grito, Edvard Munch




Teoria da Arte como expressão



Teoria expressivista da arte:

A arte é a expressão de emoções do seu criador, o artista.

Uma obra é arte se, e só se expressar intencionalmente sentimentos do artista.



Guernica", grito antibelicista mais famoso do século 20, completa ...


         Texto 1: A arte como expressão

[…] Insatisfeitos com a teoria da arte como imitação (ou representação), muitos filósofos e artistas românticos do século XIX propuseram uma definição de arte que procurava libertar-se das limitações da teoria anterior, ao mesmo tempo que deslocava para o artista, ou criador, a chave da compreensão da arte. Trata-se da teoria da arte como expressão. Teoria que, ainda hoje, uma enorme quantidade de pessoas aceita sem questionar. Segundo a teoria da expressão:
  • Uma obra é arte se, e só se, exprime sentimentos e emoções do artista.
Vejamos o que parece concorrer a favor dela:
  1. São muitos e eloquentes os testemunhos de artistas que reconhecem a importância de certas emoções sem as quais as suas obras não teriam certamente existido. Mais do que isso, se é verdade, como parece ser, que a arte provoca em nós determinadas emoções ou sentimentos, então é porque tais sentimentos e emoções existiram no seu criador e deram origem a tais obras.
  2. Também nos oferece, como a teoria anterior, um critério que permite, com algum rigor, classificar objetos como obras de arte. Com a vantagem acrescida de classificar como arte todas as obras que não imitam nada, o que acontece frequentemente na literatura e sempre na música e na arte abstrata.
  3. Mais uma vez oferece um critério valorativo: uma obra é tanto melhor quanto melhor conseguir exprimir os sentimentos do artista que a criou.
Uma teoria como esta manifesta-se frequentemente em juízos como “Este é um livro exemplar em que o autor nos transmite o seu desespero perante uma vida sem sentido” ou como “O autor do filme filma magistralmente os seus próprios traumas e obsessões”.
[…]
                                                                          Aires Almeida, O que é a arte? in Crítica

     Questões (1) :

     1. A teoria da arte como expressão apresenta uma definição de arte? Porquê?
     2.  A teoria da arte como expressão apresenta algumas vantagens relativamente à teoria da                       arte como imitação. Concorda? Justifique a sua resposta.



         Texto 2: Objeções à teoria da arte como expressão


[…]
Mas também ela [a arte como imitação] se irá revelar uma teoria insatisfatória. As razões são semelhantes às que apresentei contra a teoria da arte como imitação, pelo que tentarei aqui ser mais breve.
primeiro ponto apresenta várias falhas. Desde logo, é também empiricamente refutado porque há obras que não exprimem qualquer emoção ou sentimento. Podemos até admitir que o emaranhado espesso de linhas coloridas do quadro de Pollock exprime algo ao deixar registados na tela os seus gestos (é geralmente incluído na corrente artística conhecida como expressionismo abstrato). Mas podemos dizer o mesmo da maior parte dos quadros de Yves Klein, Mondrian ou de Vasarely? O grande compositor do nosso século, Richard Strauss, autor de vários poemas sinfónicos, como o célebre Assim Falava Zaratustra, esclarecia que as suas obras eram fruto de um trabalho paciente e minucioso no sentido de as aperfeiçoar, eliminando desse modo os defeitos inerentes a qualquer produto emocional. E que dizer da chamada música aleatória (música feita com o recurso a sons produzidos ao acaso)? Além disso, mesmo que uma obra de arte provoque certas emoções em nós, daí não se segue que essas emoções tenham existido no seu autor. Se a ingestão de dez copos de vinho seguidos provocam em mim o sentimento de euforia, daí não se segue que o vinicultor que produziu o vinho estivesse eufórico. Trata-se, portanto, de uma inferência falaciosa. Tal como na definição de arte como imitação, o mesmo se passa aqui, pois acaba por não se verificar a condição necessária segundo a qual todas as obras de arte exprimem emoções. É, assim, uma má definição.
A deficiência em relação ao critério de classificação é praticamente a mesma apontada à teoria da imitação. A única diferença é que, neste caso, uma maior quantidade de objectos podem ser classificados como arte. Mas nem todas as obras de arte são, de facto, classificadas como tal.
Sobre o critério de valoração, também as objeções são idênticas às da teoria da imitação. Se observarmos este critério, então as obras de arte que não podem ser consideradas boas nem más são inúmeras. Como podemos nós saber se uma determinada obra exprime correctamente as emoções do artista que a criou, quando o artista já morreu há séculos?
[...]
E as obras de autores anónimos ou desconhecidos não são boas nem más? E como avaliar uma obra de arte coletiva ou a interpretação de uma obra musical? O que conta aqui são as emoções do artista criador ou as do artista intérprete (ou dos artistas intérpretes, como sucede com a interpretação da Segunda Sinfonia de Mahler, a qual chega a exigir perto de 250 intérpretes em palco)? Enfim, todas estas perguntas são demasiado embaraçosas para a teoria da expressão.
                                                                          Aires Almeida, O que é a arte? in Crítica



     Questões (2) :

     1. Mostre, a partir do texto, em que medida as objeções da teoria da arte como                                          expressão, são semelhantes às objeções ou falhas da teoria da arte como imitação.


  Objeções



Critério de classificação

Teoria restritiva – Exclui do domínio da arte muitas obras consideradas arte
  • Obras de arte, como retratos ou naturezas mortas, só pretendem retratar uma realidade.
  • Obras de arte conceptual que pretendem suscitar ideias.
  • Obras de arte percetiva que procuram produzir efeitos visuais.
  • Obras criadas com a intenção de divertir
Critério de valoração

Uma obra é tanto melhor quanto melhor conseguir exprimir os sentimentos do artista que a criou.
Não fornece um critério seguro para identificar a verdadeira arte.
  •  A mesma obra de arte pode emocionar uma pessoa e não emocionar outras.
  • Se uma obra nos emociona, como sabemos que o que sentimos corresponde ao sentimento do artista?
Ainda que uma obra de arte provoque certas emoções em nós, daí não se segue que essas emoções tenham existido no seu autor (Falácia intencional)
  • Como podemos saber se a emoção do artista é autêntica?
  • [muitas vezes] Não sabemos realmente o que o artista sentiu (assim, não podemos saber se se trata de uma verdadeira obra de arte).




                                                                  
      


    Texto 3: 



A arte é uma atividade humana que consiste nisto: em uma pessoa conscientemente, por intermédio de certos sinais externos, levar a outras pessoas sentimentos de que teve experiência e que estas sejam contagiadas por tais sentimentos e deles também tenham experiência.

A arte não é, como os metafísicos dizem, a manifestação de alguma ideia misteriosa de belo ou de Deus ; não é, como os psicólogos estéticos dizem, um jogo que serve para descarregar o excesso de energia acumulada; não é apenas a expressão das emoções de uma pessoa através de sinais externos; não é a produção de objetos que agradem; e acima de tudo, não é prazer; mas é um meio de união entre pessoas, unindo-as nos mesmo sentimentos, indispensável à vida e ao progresso em direção ao bem-estar dos indivíduos e da humanidade.
                                                                                            Tolstoi, O que é a arte?
    Questões (3):

     1. Mostre, a partir do texto, que a arte não é apenas expressão de emoções de uma pessoa               através de sinais externos.
     

      A Arte como expressão  Tolstoi


A arte é a expressão da emoção do artista

Uma obra é arte se, e só se, exprime sentimentos e emoções do artista. (...)

    ‒  A obra de arte transmite intencionalmente o mesmo sentimento que o artista            experimentou.

    ‒    A arte é uma forma de comunicação através de indicações externas.

    Condições para que haja arte:
  •     Sinceridade (a emoção do artista é genuína).
  •     Individualidade do sentimento  (o artista manifesta os seus sentimentos, a          sua subjetividade; expressão da singularidade do artista e não de sentimentos      em geral).
  •    Clareza na transmissão do sentimento (se os sentimentos são verdadeiros,       são transmitidos de forma clara).


        Texto 4: A arte é expressão - Leão Tolstoi


A atividade artística é baseada no facto de uma pessoa, ao receber através da sua audição ou visão a expressão do sentimento de outra pessoa, ser capaz de ter a experiência emocional que motivou aquele que a exprime. […]
É nesta capacidade de as pessoas receberem a expressão do sentimento de outras pessoas, e de terem elas próprias esses sentimentos, que a atividade artística se baseia. [...]
A arte começa quando alguém com o intuito de unir a si outro ou outros num mesmo sentimento exprime tal sentimento através de certas indicações externas.
Desde que os espectadores ou ouvintes sejam contagiados pelos mesmos sentimentos que o autor sentiu, há arte.
O grau de contágio da arte depende de três condições:
              ‒         Da maior ou menor individualidade do sentimento transmitido.
              ‒         Da maior ou menor clareza com que o sentimento é transmitido.
 ‒    Da sinceridade do artista, isto é, da maior ou menor força com que o próprio  artista sente o que é transmitido.
Quanto mais individualizado é o sentimento, tanto mais fortemente atua sobre o recetor; quanto mais individualizado o estado de alma para o qual ele é transferido, maior prazer obtém o recetor e, consequentemente, com mais prontidão e força adere a ele.
A clareza de expressão ajuda o contágio porque o recetor, que se mistura na sua consciência com o autor, ficará tanto mais satisfeito quanto maior for a clareza com que o sentimento for transmitido, o qual ele julga há muito conhecer e sentir, mas para o qual só agora encontra expressão.
Mas o grau de contágio aumenta, acima de tudo, com o grau de sinceridade do artista. Logo que o espectador, ouvinte ou o leitor sente que o artista está contagiado pela sua própria produção e escreve, canta ou representa para ele próprio, e não apenas para impressionar os outros, o recetor também é contagiado por esse estado mental. [...]
                                                                                                  Leão Tolstoi, O que é a arte


     Questões (4):

     1. De acordo com a teoria expressivista de Tolstoi, o que significa afirmar que o artista contagia o            recetor de forma indireta? 
     2. Quais as condições que, segundo Tolstoi, são necessárias para que exista arte?

        A Arte como expressão imaginativa - Collingwood


A arte é expressão clarificadora de sentimentos

         O artista começa por não ter uma ideia precisa do que sente.

         A função da arte é clarificar sentimentos indefinidos do artista, que ele começa por não saber identificar.

         O artista recorre à imaginação para clarificar os sentimentos.

         A clarificação de sentimentos só se encontra na verdadeira arte.




Para Collingwood a “arte autêntica” distingue-se dos ofícios, que são atividades como o artesanato e outras artes decorativas, propagandísticas ou de entertenimento.

     
          Texto 5: Collingwood e a teoria da arte como expressão    


Para Collingwood, que era uma pessoa com experiência pessoal da criação artística, ao contrário do expressivismo ingénuo, antes do artista produzir a sua obra ele ainda não possui a emoção estética que a sua obra produzirá na audiência e em si mesmo. O que ele possui é uma “excitação emocional”, um sentimento indefinido e incompreensível. Na medida em que ele utiliza a sua imaginação e pensamento planeando e produzindo a obra de arte, ele consegue reconhecer melhor a natureza de suas emoções, defini-las, refiná-las, clarificá-las e articulá-las na sua relação com seus objetos. Essas emoções assim clarificadas são, por sua vez, imaginativamente reconhecidas enquanto tais pela audiência capaz de apreciar a obra de arte. Podemos considerar como exemplo o painel de Picasso intitulado Guernica. A cidade de Guernica foi criminosamente bombardeada pelos nazistas para efeito de experiência militar. Tendo sido informado acerca disso, o artista, movido por emoções, pintou Guernica. Mas as emoções que o painel suscita em nós e no próprio pintor foram transformadas. Elas são emoções estéticas, muito superiores à emoção bruta que cada um de nós poderia ter, digamos, ao ler em um jornal sobre o bombardeio de Guernica.
Para Collingwood a imaginação e o pensamento são na produção artística no mínimo tão importantes quanto a expressão de emoções. É pela imaginação que o artista refina e articula os seus sentimentos, e é também pela imaginação que o auditório interpreta e compreende os sentimentos expressos na obra de arte. Como resultado, a obra de arte é capaz de produzir no auditório e no próprio artista uma compreensão maior de seus próprios sentimentos, e com isso uma ampliação e regeneração de seu autoconhecimento e consciência.
                           Cláudio F. Costa, Teorias da Arte, in crítica                                               


       Questões (5):

     1. Explique, a partir do texto, a teoria da arte como expressão clarificadora de                                           sentimentos, de Collingwood.


          

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