quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Retórica e persuasão



SÓCRATES: Afirmas que és capaz de ensinar a retórica a quem a quiser aprender contigo?
GÓRGIAS: Afirmo.
SÓCRATES: De tal modo que essa pessoa fique em condições de ganhar o assentimento de uma assembleia sobre qualquer assunto, sem a instruir recorrendo apenas à persuasão?

GÓRGIAS: Absolutamente.
SÓCRATES: Dizias há pouco que até em questões de saúde o orador é mais persuasivo do que o médico.
GÓRGIAS: Sim, perante uma multidão.
SÓCRATES: Perante uma multidão quer dizer, certamente, perante aqueles que não sabem, porque, perante aqueles que sabem, o orador não pode ser mais persuasivo do que o médico.
GÓRGIAS: Dizes bem. (…)
SÓCRATES: Mas aquele que não é médico não é ignorante nas matérias em que o médico é entendido?
GÓRGIAS: Claro que é.
SÓCRATES: Então, quando o orador é mais persuasivo do que o médico, é um ignorante a ser mais persuasivo do que um entendido perante uma multidão de ignorantes. É realmente isto que sucede ou é outra coisa?

GÓRGIAS: No caso presente é o que sucede.

                                                                                         Platão, Górgias



OPOSIÇÃO DE PLATÃO AOS SOFISTAS
PLATÃO
SOFISTAS
·         Existem verdades objetivas e universais – rejeição do relativismo sofista.
·         A filosofia procura a verdade.

      A verdade e o bem - a questão ética, do bom/mau, justo/injusto, importante para a formação do futuro político, não era contemplada na retórica.

      A verdade não pode ser uma mera opinião aprendida com outros, implica um conhecimento, uma investigação racional. (A opinião é uma aparência da  verdade)
·         Relativismo sofista – os sofistas não admitem a existência de verdades objetivas e universais.
      
      Para os sofistas, a verdade não existe ou se existe nada se pode saber sobre ela.
·         Não estavam interessados em chegar à verdade mas em defender um “ponto de vista” ou ganhar uma discussão.

      O bom orador é capaz de persuadir qualquer pessoa sobre qualquer assunto, mesmo que nada saiba sobre ele. Não tem necessidade de conhecer o que é, mas o que parece (é uma falsa arte).



CRÍTICA DE PLATÃO AOS SOFISTAS
·         A retórica sofista não procura a verdade e o bem.
     Não estão interessados em chegar à verdade mas em defender um “ponto de vista” ou ganhar uma discussão.
·         A retórica sofista é uma forma de manipulação e não de persuasão racional.
      A retórica sofista é uma falsa Arte porque manipula e ilude parecendo aquilo que não é. Concentra-se na forma de tornar o discurso agradável e não com o seu conteúdo de verdade.
Os oradores influenciam as opiniões e comportamentos do auditório à custa das suas limitações cognitivas e ignorância.
Os oradores instrumentalizam o auditório fazendo deste um meio para alcançar os seus interesses
A ignorância do auditório é condição necessária para o orador ignorante - o orador não domina o assunto de que fala e precisa que o auditório seja ignorante para ser mais persuasivo.

OS DOIS USOS DA RETÓRICA
Retórica é a Arte de persuadir através do discurso, 
é a arte de bem convencer e de bem falar. 

MAU USO
BOM USO
·         A retórica é usada como manipulação

      A argumentação degenera numa forma de ludibriar o auditório em função dos interesses do orador.
·         A argumentação recorre à manipulação, falácias e apelo às emoções.
·         O orador usa/ explora as limitações cognitivas do auditório para obter a sua adesão
·         Persuasão racional

     O Bom uso da retórica implica a subordinação a princípios éticos: o respeito pela autonomia e da capacidade de escolha do auditório
·         O orador dirige-se às capacidades cognitivas e críticas do auditório
·         Apesar do caráter controverso de certos   assuntos, o orador procura alcançar e mostrar a verdade.
·         Procura apresentar toda a informação relevante ao auditório, não distorce nem omite factos

     

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