A teoria da arte como imitação/representação


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A Leiteira, Vermeer





               Teoria da arte como imitação


 Definição de arte:
Uma obra é arte se, e só se, é produzida pelo homem e imita algo.
Critério classificativo: permite classificar objetos como obras de arte (aqueles que imitam a realidade).
Critério valorativodistingue uma boa obra de arte de uma obra de arte (uma obra será tão boa quanto mais se conseguir aproximar do objeto imitado.)

            Imitação e representação



Alguns filósofos consideram, no sentido de aperfeiçoar a teoria da arte como imitação para resistir aos contraexemplos, que seria mais correto falar em representação.
Uma obra é arte se só se é produzida pelo homem e representa algo.
imitação é uma representação, mas nem todas as representações são imitações. Assim, é possível aplicar o conceito de arte a obras que a “imitação” excluía, como à música e a pintura abstrata.




Teoria da arte como imitação/representação

Toda a imitação é representação, mas nem toda a representação é imitação

Teoria da arte como representação
imitativa


Bolas de Sabão, Manet
Teoria da arte como representação
não imitativa


As primeiras quatro notas representam a morte a bater à porta


              Objeções à teoria da arte como imitação/representação


 Contraexemplos  
Muitas obras de arte, como peças de música e arte abstrata não imitam ou representam qualquer realidade (representação imitativa).
Também muitas arte não representam qualquer realidade(representação que inclui representação imitativa e representação não imitativa).
Teorias muito restritivas
Exclui muitas artes não imitativas (representação imitativa).
Ainda que menos restritiva, a arte como representação não imitativa, continua a excluir muitas obras de arte.

          Texto 1: A Teoria da arte como imitação


[…] Esta é uma das mais antigas teorias da arte. Foi, aliás, durante muito tempo aceite pelos próprios artistas como inquestionável. A definição que constitui a sua tese central é a seguinte:
  • Uma obra é arte se, e só se, é produzida pelo homem e imita algo.
A característica própria desta teoria não reside no facto de defender que uma obra de arte tem de ser produzida pelo homem, o que é comum a outras teorias, mas na ideia de que para ser arte essa obra tem de imitar algo. Daí que seja conhecida como teoria da arte como imitação.
Vários foram os filósofos que se referiram à arte como imitação. Alguns desprezavam-na por isso mesmo, como acontecia com o conhecido filósofo grego Platão que, ao considerar que as obras de arte imitavam os objetos naturais, via essas obras como imagens imperfeitas dos seus originais. Ainda por cima quando, no seu ponto de vista, os próprios objetos naturais eram por sua vez cópias de outros seres mais perfeitos. Já o seu contemporâneo Aristóteles, mantendo embora a ideia de arte como imitação, tinha uma opinião mais favorável à arte, uma vez que os objetos que a arte imita não são, segundo ele, cópias de nada.
O que agora nos interessa, mais do que saber quem defendeu esta teoria, é avaliar o seu poder explicativo. Vejamos então os principais pontos que perecem favoráveis a ela:
·     Adequa-se ao facto incontestável de muitas pinturas, esculturas e outras obras de arte, como peças de teatro ou filmes imitarem algo da natureza: paisagens, pessoas, objetos, acontecimentos, etc.
·     Oferece um critério de classificação das obras de arte bastante rigoroso, o que nos permite, aparentemente, distinguir com alguma facilidade um objeto que é uma obra de arte de outro que o não é.
·     Oferece um critério de valoração das obras de arte que nos possibilita distinguir facilmente as boas das más obras de arte. Neste sentido, uma obra de arte seria tão boa quanto mais se conseguisse aproximar do objeto imitado.
Um aspeto geral desta teoria mostra-nos que é uma teoria centrada nos objetos imitados. Ela exprime-se frequentemente através de frases como “este filme é excelente, pois é um retrato fiel da sociedade americana nos anos 60”, ou como “este quadro é tão bom que mal conseguimos distinguir aquilo que o artista pintou do modelo utilizado”.
1.    a falácia da circularidade.
[…]
                                              Aires Almeida, O que é a arte?, in crítica                                                                              



     Atividades:

     1. A teoria da arte como imitação apresenta uma definição de arte? Porquê?
     2. Com base no texto, explique os aspetos positivos desta teoria.


        Texto 2: A Teoria da arte como imitação (refutações aos aspetos positivos texto 1)


Mas será uma boa teoria? Para isso temos de testar cada um dos aspetos atrás apresentados que são favoráveis à teoria, começando pelo primeiro.
Como o que é afirmado no primeiro ponto é do domínio empírico, não precisamos de procurar muito para percebermos que, apesar de muitas obras de arte imitarem algo, são inúmeras aquelas que o não fazem. O que constitui a sua refutação inequívoca. Obras de arte que não imitam nada encontramo-las tanto na pintura como na escultura abstratas ou noutras artes visuais não figurativas. De forma ainda mais notória encontramo-las na literatura e na música. Em relação à música é até bastante improvável que haja alguma obra musical que imite seja o que for, apesar de haver quem se tenha batido pela música programática (música que conta uma história, ilustra um acontecimento ou evoca um cenário natural). Até porque evocar ou ilustrar com sons não é o mesmo que imitar, a não ser indiretamente. Conscientes disso, os defensores mais recentes da teoria da arte como imitação, acabaram por substituir o conceito de imitação pelo conceito mais sofisticado de representação. Assim já poderíamos dizer que as quatro primeiras notas da 5.ª Sinfonia de Beethoven não imitam diretamente a morte a bater à porta, mas representam a morte a bater à porta. O mesmo se passaria com a literatura, da qual talvez não se possa dizer que imita mas que representa sempre algo que acontece no mundo. Mas, ainda assim, podemos perguntar: o que representam a pintura Composição (1946) de Jackson Pollock ou as Suites para Violoncelo Solo de Bach? Dificilmente diríamos que representam algo. Ficamos, deste modo, com uma teoria que não observa os requisitos anteriormente expostos acerca do que deve ser uma definição explícita, pois defende que uma condição necessária para algo ser arte é imitar, e isso não acontece com todas as obras de arte. Trata-se de uma definição que não inclui tudo o que deveria incluir, deixando assim muito por explicar.
Em relação ao segundo aspeto, esta teoria deixa também muito a desejar. O que referi acerca do ponto anterior acaba também por desconsiderar o critério de classificação apresentado. Convém, portanto, realçar que o critério de classificação de arte proposto por esta teoria não pode ser bom, pois ficamos insatisfeitos ao verificar que há obras que são reconhecidamente arte e não são classificadas como tal. A conservar este critério, seriam as obras de arte que deveriam conformar-se à definição de arte e não o contrário. Mas acontece que nem esta nem nenhuma outra definição de arte disponível é suficientemente forte para nos fazer abandonar as nossas intuições de que certas obras são arte, ainda que tais definições as não classifiquem como tal.
Finalmente, o terceiro ponto também é muito discutível. Apesar de ficarmos muitas vezes   positivamente impressionados com a perfeição representativa de algumas obras de arte, o seu critério valorativo falha porque muitas outras obras de arte não poderiam ser consideradas boas nem más, já que não imitam nada. Mas falha ainda por haver obras que imitam algo sem que nos encontremos alguma vez em condições de saber se a imitação é boa ou má. Basta pensar em obras que imitam algo que já não existe ou não é do conhecimento de quem as aprecia. Como podemos saber se A Escola de Atenas, de Rafael, reproduz com perfeição as figuras de Platão e Aristóteles ou o ambiente da Academia? Pior, como sabemos que o Jardim das Delícias, de Bosch, imita bem aquelas figuras estranhas e inverosímeis, admitindo que algo está a ser imitado? Como podemos saber se O Nascimento de Vénus, de Botticelli, é uma boa imitação, se é que, mais uma vez, algo é imitado? E não será abusivo afirmar que qualquer pintura figurativa tecnicamente apurada é melhor do que o tosco Auto-Retrato com Chapéu de Palha, de Van Gogh, ou do que todas as obras impressionistas? Segundo este critério Picasso seria, com certeza, um artista menor e teríamos de reconhecer que a fotografia é a mais perfeita de todas as artes. Só que não é isso que acontece. Vemos, assim, que também em relação ao critério valorativo esta teoria está longe de dar resposta satisfatória a todas as objecções que se lhe colocam.
[…]                                                                              
                                                 Aires Almeida, O que é a arte? in crítica                                                                              

 Atividades:

     1. Explique, a partir do texto, as objeções que se colocam à teoria da arte como imitação.


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